Caso Sorocaba: MP diz que grampo flagrou médicos combinando fraude em plantão



Segundo Gaeco, uma mulher fala para outra que irá assinar o ponto dela.
Conjunto Hospitalar de Sorocaba atende 2 milhões em 48 cidades.

Kleber TomazDo G1 SP, em Sorocaba
Além das denúncias de funcionários e documentos fraudados dos plantões no Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS), no interior de São Paulo, escutas telefônicas autorizadas pela Justiça gravaram conversas entre os suspeitos de pertencer à quadrilha que durante três anos ganhou dinheiro público sem nunca ter trabalhado nem sequer pisado na unidade médica.
As gravações contribuíram para o Ministério Público e para a Polícia Civil buscarem indícios dos envolvidos no esquema criminoso.
Pelo menos 50 pessoas, entre elas diretores, médicos, enfermeiros e dentistas do CHS, recebiam verba por serviços que jamais foram prestados à população que procurava o hospital, que atende quase 2 milhões de pessoas de 48 cidades, segundo o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público.
Além do Gaeco e do Grupo Antissequestro da Polícia Civil em Sorocaba, participam da Operação Hipócrates, em homenagem ao pai da medicina, a Polícia Militar. A ação foi deflagrada na manhã desta quinta-feira (16). Treze mandados de prisão temporária de cinco dias foram expedidos pelo Poder Judiciário contra possíveis mentores da quadrilha. Até o início da tarde, 12 investigados haviam sido presos. Um dos suspeitos não foi localizado e é procurado pela polícia.
Representante do Ministério Público e da polícia dão entrevista coletiva sobre o caso (Foto: Kleber Tomaz/G1)Representante do Ministério Público e da polícia dão entrevista coletiva sobre o caso (Foto: Kleber Tomaz/G1)
Entre os presos está o diretor do Conjunto Hospitalar de Sorocaba. Ele foi detido em casa, em um condomínio de luxo de São Paulo. A polícia cumpriu ainda mandados de busca e apreensão em 13 hospitais. No Leonor Mendes de Barros, um dos mais movimentados de Sorocaba, os policiais interditaram o 2º andar do prédio, onde fica o setor administrativo, e recolheram computadores e documentos.
Segundo as investigações, o esquema permitia que médicos ganhassem por plantões em dois hospitais diferentes ao mesmo tempo. Verbas destinadas ao pagamento a servidores do CHS eram desviadas para pessoas que não cumpriam suas jornadas de trabalho.
A polícia disse que o esquema funcionava pelo menos desde 2008. Onze hospitais da capital paulista e de Itapevi, na Grande São Paulo, e outros dois de Sorocaba, onde os suspeitos trabalhavam, são investigados.
Num dos grampos obtidos pela investigação, duas mulheres suspeitas de integrar o grupo de fraudadores combinam quem deveria assinar o ponto de uma delas. “Numa escuta, uma diz claramente que iria assinar no lugar da colega e falou para a outra não aparecer no hospital porque os funcionários poderiam estranhar. Já que ela nunca pisou lá, mas recebia por plantões que não trabalhava”, afirmou o promotor Welington dos Santos Veloso.
As investigações começaram no ano passado com uma denúncia feita ao Ministério Público. Segundo a polícia, o esquema funcionava havia pelo menos três anos. Os médicos que estavam na lista de hospitais públicos eram, na verdade, funcionários fantasmas, de acordo com a denúncia. Eles recebiam por plantões que nunca eram feitos, de acordo com o MP.
Cada médico ganhava R$ 600 por plantão de 12 horas, o que dava até R$ 15 mil por mês, segundo o Ministério Público. Cerca de 300 mil pessoas podem ter sido prejudicadas pelo esquema porque deixaram de ser atendidas.
“Estamos levantando os atestados de óbitos registrados no hospital para saber se algum paciente morreu por falta de atendimento médico que deveria ter sido feito por alguns dos suspeitos. Se ficar comprovado que alguma dessa morte foi por descaso, omissão ou negligência de alguém que faltou ao serviço quando deveria ter estado lá, esse suspeito poderá responder por homicídio doloso ou culposo”, disse a promotora Maria Aparecida Rodrigues Mendes Castanho, do Gaeco.
Segundo a Promotoria, o Conselho Regional de Medicina em São Paulo (Cremesp) será comunicado da investigação que culminou na prisão de parte da equipe médica do hospital em Sorocaba. Caberá ao conselho decidir se irá apurar as denúncias contra eles administrativamente ou não.
G1 procurou a Secretaria de Estado da Saúde, que responde pelo Conjunto Hospitalar, e aguarda um posicionamento.
De acordo com um dos delegados do Grupo Antissequestro, Rodrigo Ayres, os 12 suspeitos detidos serão interrogados e posteriormente seguirão para o Comando da Polícia Militar de Sorocaba, onde ficarão presos.
Os investigados poderão ser indiciados pelos crimes de formação de quadrilha, peculato, estelionato, falsificação de documento público e fraudes em licitações.
G1 não conseguiu localizar os advogados dos presos para comentar o assunto.

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