‘Ética de bandido’ vira polêmica na OAB



WILLIAM CARDOSO
A declaração do advogado Jefferson Badan associando o crime a uma profissão e dizendo que todo bandido tem ética foi repudiada pela seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP). A afirmação de Badan foi feita na quinta-feira, em defesa de Irlan Graciano Santiago, de 22 anos, que confessou ter participado em 18 de maio do assassinato do estudante Felipe Ramos de Paiva, de 24, no câmpus da Universidade de São Paulo (USP), no Butantã, zona oeste da capital.
Durante entrevista coletiva, o advogado foi questionado sobre o motivo pelo qual o cliente não contaria quem foi o comparsa na ação. “Quem é do crime nunca entrega parceiro. Todo bandido tem ética. Você é um cara experiente na área criminal e sei que está fazendo essa pergunta simplesmente por fazer, porque você sabe que todas as profissões têm ética. E, na sua profissão, se tiver um repórter na sua frente, a ética dele é dar espaço para você também trabalhar”, afirmou Badan.
O presidente da OAB-SP, Luiz Flávio D’Urso, diz que a entidade repudia a afirmação do advogado, mas explica que não houve uma infração ao Código de Ética da categoria. “O advogado, na hora em que está realizando a defesa, tem imunidade em relação às suas declarações. Elas não trazem a ele consequência direta. Agora, o repúdio cabe à Ordem fazer, porque foi algo que ultrapassou os limites de defesa do cliente e alcançou toda a nossa classe. Cria uma imagem negativa da advocacia para a população, algo irreal.”
D’Urso afirma que na segunda-feira haverá uma reunião da diretoria da OAB para definir se haverá alguma outra providência em relação a Badan, além da manifestação de repúdio desta sexta-feira. Para o presidente da OAB-SP, Badan confundiu conceitos ao falar sobre ética no crime. “É uma manifestação infeliz. A atividade criminosa não é profissão.”
D’Urso afirma que o conceito do advogado está equivocado, porque na atividade criminosa o que existe “é um pacto entre bandidos”. “A ética é do que é justo. Jamais se relaciona com o crime.”
O presidente da OAB-SP diz que o colega pode retratar-se diante da opinião pública. “Se ele se retratar publicamente, mesmo que pela imprensa, reconhecendo a infelicidade do que disse, então é um fato que estará superado.” A reportagem tentou contato com Badan na sexta-feira, mas ele não respondeu.
O cliente de Badan foi liberado após prestar depoimento e vai responder ao crime em liberdade

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