Greve começa e pacientes reclamam



Mesmo quem tinha consulta agendada não foi atendido

Regina Helena Santos
      regina.santos@jcruzeiro.com.br

Com gritos de guerra pedindo melhores salários e condições de trabalho, funcionários públicos estaduais que atuam no Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS) iniciaram, ontem, um movimento de 48 horas de paralisação que deve se estender durante todo o dia de hoje. Pela manhã, cerca de 100 pessoas permaneceram em frente à unidade, com carro de som e bandeiras da Central Única dos Trabalhadores (CUT), de onde saíram para uma passeata pelas avenidas Juscelino Kubitschek e Comendador Pereira Inácio. 

De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde do Estado de São Paulo (SindSaúde), a adesão, estimada em 50%, só não foi maior porque a entidade garantiu a manutenção de 30% das equipes de trabalho nos setores que participaram do movimento - entre eles Ambulatório, Clínica Cirúrgica, Raio-x, Maternidade, Ortopedia e pessoal administrativo, também da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) e da Diretoria Regional de Saúde (DRS) - e porque muitos destes contam apenas com dois ou três funcionários. Já a Emergência, o Pronto Socorro e a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e de Oncologia, ainda segundo os grevistas, permaneceram com seu quadro completo.

Apesar do relato de pacientes que não foram atendidos com a justificativa da greve, a Secretaria de Estado da Saúde avaliou, no final da manhã de ontem, que o movimento não havia passado de um piquete e que o atendimento no CHS não havia sofrido qualquer prejuízo. O órgão estadual também reafirmou que a situação de normalidade se repetiu em todo o Estado, o que foi contestado pelos sindicalistas. "Isso depende de qual prejuízo eles estavam imaginando que iriam ter. A gente não vai deixar nenhum paciente de emergência sem atendimento", comentou a diretora regional do SindSaúde em Sorocaba, Maria do Amparo de Oliveira. Segundo ela, os médicos, de maneira geral, compareceram normalmente ao trabalho, pois muitos são vinculados à Pontifícia Universidade Católica (PUC) e não ao Estado. 

"Algumas cirurgias já agendadas foram adiadas e o restante do atendimento aconteceu lentamente, já que muitos médicos ficaram sem as equipes de apoio, de enfermeiros e auxiliares". Segundo Benedito Augusto de Oliveira, presidente do SindSaúde-SP, a adesão ao movimento foi grande no Estado. "Superou as nossas expectativas. Em todas as unidades ocorreu, ao menos, uma manifestação".
 
Na prática 
Na porta do CHS, o grande movimento em busca de atendimento permaneceu nesta quarta-feira. A diferença, na manhã de ontem, é que parte dos pacientes teve a paralisação como justificativa para a falta de cumprimento dos horários agendados. A maioria daqueles que tinham consultas marcadas previamente estava sendo atendida pelos médicos, ao contrário dos que necessitavam de exames, como tomografia, por exemplo. "Saí de Ribeirão Branco às 2h da manhã. Me disseram que não poderei fazer hoje, por causa da greve. Agora tenho que esperar a condução para ir embora, que só vem às 17h", contou Lucinéia Oian, de 33 anos, por volta das 10h. Acostumada à dificuldade que enfrenta por ter que buscar atendimento médico tão longe de onde mora, ela avalia que "teve sorte" por conseguir marcar o exame há "apenas" 20 dias.
 
"Dá raiva de saber que terei que agendar de novo, lá na Prefeitura", disse. Vinda da mesma cidade, Ione Aparecida de Almeida, de 27 anos, trazia a filha pequena para uma consulta, na qual saberia o resultado de alguns exames. O atendimento estava agendado para as 13h e ela aguardava ansiosa pela sua realização. "Foi feita a ficha e disseram para esperar". Sobre a possibilidade de não ser recebida pela médica por causa do movimento, ela foi franca. "Já teve vezes que a gente veio até aqui, sem greve nenhuma e mesmo assim o médico não estava."

Apesar do SindSaúde garantir que desde segunda-feira o sindicato vinha solicitando à direção do hospital para que comunicasse aos pacientes sobre a interrupção dos serviços, muitos reclamavam da falta destas informações. "Deveriam ter avisado lá na Prefeitura", falou a estudante Daiane Queiróz, de 21 anos, da cidade de Guapiara. Com uma tomografia agendada há seis meses, também terá que esperar ainda mais tempo. "Trocar a saúde por greve não está certo. Uma vida não se compra. Nós temos que pensar em nós, mas também nos outros", emendou Odorico Gomes Nascimento, de 63 anos, da mesma cidade, que conseguiu fazer um exame do coração mas mostrava-se indignado, solidário à jovem que voltaria para casa sem atendimento.

Questionada sobre a não realização dos exames de tomografia, diante da afirmação de que o atendimento teria transcorrido normalmente durante o dia de ontem, a Secretaria de Estado da Saúde garante que, nos horários agendados para as pacientes de Ribeirão Branco e Guapiara, toda a equipe de técnicos em exame de imagem estava no CHS, com cartão de ponto devidamente batido. O órgão diz que o hospital irá apurar o motivo da falta de atendimento.

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