No CHS, o sentimento é de 'justiça'



Servidores afirmam saber das irregularidades há muito tempo e que já não acreditavam em solução

Leila Gapy
      leila.gapy@jcruzeiro.com.br

Um dia depois da polícia desmantelar uma quadrilha que agia dentro do Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS), a situação entre funcionários e pacientes do hospital estava tranquila e aparentemente melhor na manhã de ontem em relação ao clima de apreensão que tomou conta da unidade na última quinta-feira. O volume de pacientes estava visivelmente menor do que o habitual, com atendimento satisfatório, disseram os pacientes, e os funcionários pareciam mais felizes e descontraídos, assumiram alguns deles. A expectativa de todos é de que após as ações da polícia e do Ministério Público, o atendimento no local melhore significativamente. A Secretaria Estadual de Saúde informou que os atendimentos na unidade não foram prejudicados por conta das prisões e apreensões, nem em decorrência da greve dos funcionários da saúde - que também se encerrou ontem no final da tarde. A secretaria voltou a destacar que o Estado nomeará um interventor ao CHS nos próximos dias, mas não informou quem será.

O sentimento dos funcionários do CHS era de "justiça sendo feita" e "esperança", disse um médico do hospital que preferiu não se identificar. Ele e mais quatro companheiros se reuniram no estacionamento da unidade, após o expediente, logo pela manhã de ontem e, com a condição de não serem identificados, assumiram que estavam felizes com as ações do Ministério Público e Polícia Civil de Sorocaba; e de formas diferentes expressaram o mesmo sentimento. "Nunca imaginei, em toda a minha vida, que um dia eu presenciaria o que aconteceu ontem (quinta). Há anos nós vemos coisas erradas aqui e até ontem prolongávamos a cultura de que "nunca seria resolvido, de que nunca teriam fim". Estávamos errados e foi muito comovente ver que a Justiça existe", desabafou um deles.

Um terceiro médico foi mais enfático. "Estou muito feliz e com muita esperança. Esperança de uma nova etapa para nós, para esse hospital e para os pacientes", afirmou. O quarto médico falou que a postura da polícia na última quinta-feira reanimou os funcionários que há anos conviviam com situações desagradáveis. "Preferimos não nos expor somente porque a situação é delicada e não queremos nos envolver em nada sobre esse assunto. Mas quem trabalha aqui de verdade está feliz hoje (ontem)", desabafou. Outro médico disse que uma das coisas que preocupa os funcionários é o mistério de quem será o próximo diretor-geral do Hospital Regional.

"Estamos aqui para trabalhar. Isso é fato. Mas é impossível não pensar em que será o próximo diretor. Queremos alguém que tenha muita vontade de trabalhar e que goste disso aqui. Eu sou sorocabano, estudei muito tempo fora, voltei para cá, para trabalhar aqui porque tenho orgulho da minha origem e quero muito que esse seja o melhor hospital do interior", afirmou o médico. E também acrescentou estar, como os colegas, mais motivado a trabalhar. "A ação em si não nos afetou diretamente. Não tivemos problemas para atender na prática, só mexeu com nosso sentimento", garantiu.

Uma outra médica que passou pelo local assumiu - também com a condição de não identificação -, que ela e os colegas do hospital estavam em clima de comemoração e prazer de trabalhar. "É lógico que estamos bem, felizes. As coisas aconteciam embaixo dos nossos olhos. Todo mundo aqui sabia e sabe o que acontecia e ninguém fazia nada, nunca acontecia nada. Era revoltante. O que aconteceu ontem (quinta-feira) nos acalmou", disse ela. 

Uma funcionária do atendimento administrativo do Pronto-Socorro do CHS, que também não quis se identificar, disse que houve um "certo tumulto" no atendimento da clínica geral do Hospital Leonor, no quarto andar, durante a última quinta-feira, por conta da apreensão dos funcionários. "Mas por fim, parece que tudo se normalizou hoje (ontem)", falou ela. E assumiu: "Tem funcionário aqui, enfermeiros, auxiliares, pessoal do administrativo, que estão dando pulos de alegria devido ao que aconteceu", afirmou.
 
Pacientes 
A acompanhante de idosos Dulcinéia Cardoso, de 36 anos, disse ontem que o atendimento no PS do CHS estava "estranhamente" tranquilo. "Cheguei de Piedade às 9h e estou esperando pelo atendimento de raio x e depois passarei pelo médico. Até o momento está tudo dentro da normalidade", disse ela que acompanhava a idosa Jandira do Nascimento, de 64 anos, que quebrou o joelho direito. Segundo Dulcinéia, ela sempre esteve na unidade por agendamento, mas já presenciou lotação, demora e mau atendimento no local. "Hoje está mais calmo. Soube que teve gente que foi presa. Isso é assustador e confortante ao mesmo tempo", assumiu.

Frases semelhantes disse Decelis Xavier da Silva, de 61 anos, residente em Tatuí e que esteve na unidade devido a problemas nas pernas. "Faço acompanhamento aqui há uns três anos e acho que hoje está tudo bem aqui. Houve dias piores, de grande movimento", falou. A dona de casa Maria Elizabete Cardoso, de 52 anos, contou que saiu de Tietê, onde reside, às 6h30, para a consulta médica marcada para as 8h. "Hoje fui atendida, e bem atendida, às 8h20 pela endocrinologista. Percebi as pessoas lá dentro mais calmas e tudo correu bem", disse ela que teve que esperar pelo transporte gratuito que a levaria para casa até as 15h.

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