Palocci se cala sobre renda, omite os clientes e nega tráfico de influência



Acuado após 20 dias de crise, ministro da Casa Civil concede primeira explicação pública em entrevista ao ‘Jornal Nacional’, mas evita divulgar valores

João Domingos, de O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Sem revelar nomes de clientes e detalhar os valores recebidos como consultor, o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, admitiu nesta sexta-feira, 3, em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo, que teve um grande faturamento nos últimos meses de 2010, quando já montava a equipe da presidente eleita, mas negou que tenha cometido tráfico de influência. "Minha empresa jamais atuou junto a órgãos públicos, ou diretamente prestando consultoria para órgãos públicos, ou representando empresas privadas nos órgãos públicos. Quando a empresa privada tinha negócios com o setor público, nunca prestei consultoria", disse, rompendo o silêncio após 20 dias de crise gerada a partir de suspeitas sobre sua evolução patrimonial.
Dida Sampaio/AE
Dida Sampaio/AE
'Não há crise', afirma Palocci
O ministro informou que trabalhou para "20 ou 25 empresas" e enumerou os setores de algumas delas: "Trabalhei no setor de serviços financeiros, indústria, mercado de capitais, bancos e empresas, fundos de mercado de capitais. Fundos trabalham principalmente com investimentos em outras empresas privadas, e trabalhei em empresas de serviços em geral".
Segundo Palocci, alguns clientes o contrataram para obter análises sobre o comportamento do câmbio. "Não me considero rico, mas bem remunerado pelos serviços que prestei", disse. Em novembro passado o ministro comprou um apartamento de 500 metros quadrados em São Paulo avaliado em R$ 6,6 milhões. No ano anterior, adquiriu um escritório por R$ 882 mil.
Palocci, que foi forçado pela presidente Dilma Rousseff a se explicar diante do prolongamento da crise, insistiu em dizer que não ocultou dados: "Se tratava de uma empresa privada, que prestava atividades privadas, que foi registrada em meu nome e de meu sócio na Junta Comercial de São Paulo. Portanto eu não tive uma atividade reservada, tive uma atividade pública". Sobre os clientes, disse que não vai expor "contratos com empresas privadas num ambiente de conflito político".
Quanto aos números relativos à empresa, disse que gostaria de mantê-los reservados. O ministro foi indagado sobre o faturamento de R$ 10 milhões, que teria sido obtido somente nos meses de novembro e dezembro de 2010. De novo, não confirmou valores. Questionado se antes de 2010 os ganhos de sua empresa tinham sido de 30%, 10%,Palocci respondeu: "Algo nesse sentido", disse, sem precisar. Ele afirmou ainda que os lucros de sua empresa correspondem aos de outras de consultorias que atuam no mercado.
Palocci em alguns momentos pareceu nervoso. Mexia-se de um lado para o outro, embora estivesse sentado, de costas para a parede de vidro de seu gabinete, no quarto andar do Planalto.

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