Sepultamento de indigentes aumenta 75% na região



De janeiro a maio deste ano, foram 21 casos

Miriam Bonora
miriam.bonora@jcruzeiro.com.br 


O enterro de pessoas não identificadas ou não reclamadas pelas famílias cresceu 75% na região de Sorocaba, em relação aos cinco primeiros meses do ano passado. De janeiro a maio deste ano, o Instituto Médico Legal (IML) de Sorocaba registrou 21 casos de sepultamento dos chamados indigentes; no mesmo período de 2010 foram 12. A equipe atende a Sorocaba e mais 17 cidades da região. 

O diretor do Núcleo de Perícias Médico-Legais de Sorocaba, Orlando Fermozelli Rodrigues Junior, conta que a maioria dos casos é do sexo masculino e jovem. Ele afirma que o enterro dos corpos sem que sejam identificados ou sem a família ser encontrada vem aumentando ao longo dos anos, segundo ele, devido ao aumento da criminalidade. Em 2008 foram 31 casos, que subiram para 42 em 2009, tiveram queda para 26 em 2010 e este ano voltaram a subir. Se os casos aumentarem proporcionalmente aos cinco primeiros meses deste ano, 2011 vai fechar com pelo menos 50 sepultamentos de indigentes, quase o dobro do ano passado.

Rodrigues Junior comenta que, na maioria dos casos, a pessoa é encontrada sem documentos que a identifiquem, celular ou algum objeto que leve ao nome e à família. "Mesmo quando se reconhece, ainda assim às vezes é difícil encontrar a família, porque não há endereço, contato." Também há casos em que a pessoa mora em outra cidade ou até estado, ou que simplesmente os familiares não procuram pelo parente no IML, nem mesmo depois do sepultamento. Ele afirma ainda que, mesmo quando há documento junto à pessoa, é preciso checar com cuidado para não atribuir identidade errada. "O que um bandido mais quer é ser dado como morto." O diretor diz que se a pessoa tem antecedentes criminais, a identificação torna-se mais fácil, pois as impressões digitais são enviadas para a Polícia Científica em São Paulo e confrontadas com o registro criminal, que contém as digitais dos dez dedos. 

Para o delegado assistente da Secccional de Sorocaba, José Antonio Belloti, o aumento da criminalidade não é a melhor explicação, já que as mortes podem ocorrer até por frio, quando a pessoa mora na rua. Além disso, Belloti aponta para o próprio comportamento dos criminosos, que podem não carregar documentos. "A pessoa pode até não querer portar um documento quando parte para o cometimento de um crime, e, se for presa, pode dar uma identidade falsa, por exemplo." Mas concorda sobre a questão do afastamento das famílias quando a pessoa entra para o mundo do crime: "quando o parente morre, muitas vezes a família acaba não procurando pelo corpo", acrescenta o delegado. 

Reconhecimento
Após o registro do Boletim de Ocorrência, os corpos dos desconhecidos encontrados pela polícia são levados ao IML para que o instituto faça os procedimentos de cautela e documentação. São tiradas fotos, impressões digitais e registradas informações como sexo, altura, peso, cor do cabelo, pele, olhos, tatuagens, cicatrizes e outros dados que possam ajudar na posterior identificação do cadáver. A equipe ainda guarda um pedaço de osso para que possa ser feito um exame de DNA, comparando com dados genéticos de parentes que procurem a pessoa depois de ela ser enterrada. 

O auxiliar papiloscopista Adilson Nogueira Padilha, explica que a verificação feita no IML é mais completa e eficiente do que a do perito criminal, no local da morte. "Lá eles não têm, por exemplo, como medir a altura exata da pessoa, nem como verificar tatuagens e cicatrizes que estejam cobertas pelas vestimentas. Tivemos um caso em que a família identificou o parente por conta de um calo em um dos pés." Por isso, Rodrigues Junior orienta para que as famílias procurem também pelo IML se tiverem um parente desaparecido, para que possam fazer o reconhecimento. 

O diretor do núcleo diz que os corpos ficam na geladeira do IML por cerca de uma semana, em que a família pode requerer a retirada do corpo para sepultamento. "Esse reconhecimento pode ser feito em qualquer dia e hora", comenta. Depois desse prazo, o delegado do distrito em que foi registrado o boletim autoriza a liberação do cadáver, que é encaminhado para uma funerária, que será responsável pelo enterro. "Não temos como manter os corpos aqui por muito tempo, por questões legais e porque eles entram em decomposição depois de um certo tempo."

Se for reconhecido, a família é encaminhada para a delegacia onde foi registrado o boletim para que seja feito o auto de reconhecimento. Rodrigues Junior conta que alguns são reconhecidos logo nos primeiros dias, outros demoram um tempo, são identificados após o sepultamento, ou então nunca o são. 

O Cemitério Municipal Santo Antonio é o que recebe atualmente os corpos das funerárias em Sorocaba, e, segundo a administração, não há ala específica para os indigentes, que são enterrados e sequência, assim como os demais. Na placa,o nome é substituído pela inscrição "Desconhecido", e os dados quanto a data e local exato de sepultamento são mantidos no arquivo. Os corpos encontrados em outras cidades são encaminhados para enterro pelas respectivas funerárias e cemitérios municipais. O IML de Sorocaba fica na rua Sylvio Campolim, nº 545, no Jd. América.

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