Paulada no Sus


LIGIA BAHIA e MÁRIO SCHEFFER


Ajudar empresas lucrativas que não cumprem seu papel já é inversão perversa; celebrar contratos para atender aos clientes de planos é iniquidade

É uma bordoada a recente regulamentação da lei paulista que permite a venda para planos de saúde de até 25% da capacidade dos hospitais públicos gerenciados por organizações sociais.
Desde o famigerado Plano de Atendimento à Saúde (PAS), criado por Maluf, uma política de governo não atingia assim, de chofre, o Sistema Único de Saúde (SUS).
Reprise do mesmo drama, abrem-se as torneiras que irrigam empresas privadas com dinheiro público. O PAS ensinou que a gambiarra de governantes, baseada em legislação questionável e financiamento improvisado, não resiste à próxima eleição, mas enriquece alguns à custa do calote no SUS.
Para justificar o ardil, a Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo identificou que 18% dos pacientes atendidos em hospitais públicos têm plano privado. Por que até hoje não viabilizou essa cobrança por meio da Agência Nacional de Saúde Suplementar?
A falsa alegação de que a lei federal do ressarcimento não é extensiva às organizações sociais e o suposto efeito Robin Hood (tirar dos planos para melhorar o SUS) escondem interesses cruzados.
Uma mão lava a outra: as organizações sociais precisam de dinheiro novo para manter sua vitrine assistencial, e os planos e seguros de saúde querem ostentar hospitais públicos de alta complexidade em suas redes credenciadas.
Há um negócio bilionário em ascensão, de planos populares a menos de R$ 100 por mês, que só é viável com o uso da capacidade instalada do SUS. Os planos de saúde já vivem de subsídios públicos.
Eles ajudam a eleger políticos, lucram com a renúncia fiscal, com a isenção de impostos e com repasses do erário para convênios médicos do funcionalismo.
Ao mesmo tempo, empurram para as contas do SUS idosos e doentes -que não têm condição de arcar com o aumento das mensalidades decorrentes do passar da idade ou cujo acesso é vetado a tratamentos mais caros.
Uma em cada cinco pessoas com câncer vinculadas a planos de saúde são jogadas ao mar e buscam socorro no SUS.
Ajudar empresas altamente lucrativas que não cumprem seu papel já é uma inversão perversa. Celebrar contratos para o atendimento aos clientes de planos, que pensam ter escapado das alegadas agruras da rede pública, constitui requinte de iniquidade.
A aventura em curso nada tem a ver com o ressarcimento, que prevê critérios de justiça contábil para atendimentos eventuais e limitados. O que está em jogo, já testado em hospitais universitários do Estado, é a expansão da fila dupla, verdadeiro apartheid que dá acesso privilegiado a quem tem plano e reserva a porta dos fundos para a "gente diferenciada" do SUS. Não dá para transigir com essa distorção escandalosa.


LIGIA BAHIA, doutora em saúde pública, é professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
MÁRIO SCHEFFER, doutor em ciências, é pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Ambos são autores do livro "Planos e Seguros de Saúde: O que Todos Devem Saber sobre a Assistência Médica Suplementar no Brasil" (Editora Unesp).
Trem vai ligar Pinheiros a Barueri em 20 minutos

Linha expressa será construída paralela à atual e deve ficar pronta em 2015

Hoje, trajeto demora cerca de 35 minutos e para em 11 estações; CPTM já estuda nova linha até Alphaville 

ALENCAR IZIDORO
DE SÃO PAULO 

A gestão Geraldo Alckmin (PSDB) incluiu em seu programa de investimentos um novo trem expresso, para ligar a estação Pinheiros da CPTM e do Metrô até Barueri.
Com 20,8 km, batizado de Expresso Oeste-Sul, ele prevê fazer a rota em 20 minutos, em uma linha paralela à via férrea atual, com paradas em Osasco e Carapicuíba.
O trajeto hoje leva 35 minutos, com baldeação entre duas linhas da CPTM (8-diamante e 9-esmeralda) e 11 estações no meio do caminho.
O padrão do trem é similar aos demais, mas, por parar menos, permite uma viagem mais rápida com a mesma tarifa -R$ 2,90. A expectativa é de 154 mil passageiros/dia.
Ele também possibilitará a conexão futura com uma nova extensão de trem da linha 8 da CPTM até Alphaville -inserida no plano tucano para um segundo momento.
Os projetos foram apresentados pelo Estado a engenheiros, dois meses atrás, e confirmados à Folha pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).
Segundo a estatal, serão incluídos no PPA (Plano Plurianual) de 2012 a 2015, que traça as metas do governo.
O cronograma prevê a contratação do projeto detalhado do Oeste-Sul ainda este ano, para que as obras de R$ 808 milhões bancadas pelo Estado comecem em 2013 e terminem no fim de 2015.
O diretor de planejamento da CPTM, Silvestre Eduardo Rocha Azevedo, afirma que "é um prazo viável", por ser paralelo à via atual, com poucas desapropriações.
Alckmin já havia anunciado outros dois trens expressos -continuidade do governo anterior. O primeiro, para 2012, é uma extensão do Expresso Leste até Suzano. O outro, batizado de Expresso ABC, prevê ligar em 2014 a estação da Luz até Mauá.

ALPHAVILLE
A CPTM também inseriu no plano de investimentos uma linha de trem de 9,6 km entre Carapicuíba, Barueri e Alphaville. Na prática, ela pode permitir, com baldeações, viagens para Pinheiros como para a região central.
Entre os alvos estão trabalhadores presos nos engarrafamentos. A previsão é atender 61 mil usuários por dia.
O projeto inicial da linha será licitado no final de 2011. Por enquanto, não há detalhe de traçado e estações.
O Estado tem como meta começar as obras no fim do atual mandato de Alckmin -para terminá-las até 2016.
Mas, diz Azevedo, esse prazo ainda é incerto, por depender da conclusão dos projetos da linha até 2013.

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Linhas regionais só deverão ficar prontas entre 2015 e 2017

DE SÃO PAULO 

O secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, disse no início do ano que pretendia fazer dos trens regionais a principal "marca" na gestão Alckmin.
Mas agora a CPTM avalia que começará as obras na atual gestão, mas para concluí-las entre 2015 e 2017.
Os trens regionais vão andar com velocidades entre 150 km/h e 200 km/h.
O Estado definiu que a primeira linha a sair do papel será entre São Paulo e Jundiaí, orçada em R$ 1,4 bilhão. O percurso é estimado em até 25 minutos. As obras devem ser iniciadas em 2013. (AI)
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2207201102.htm

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