Pesquisa discute fatores que influenciam na aprendizagem de alunos em territórios de alta vulnerabilidade


Karol Assunção
Jornalista da Adital
Adital
"Quanto maiores os níveis de vulnerabilidade social da vizinhança, mais limitada tende a ser a qualidade das oportunidades educacionais oferecidas”. Essa foi uma das conclusões do estudo "Educação em territórios de alta vulnerabilidade social na metrópole”, realizado entre 2009 e 2010 sob a coordenação do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec).
A pesquisa analisou escolas públicas da subprefeitura de São Miguel Paulista, Zona Leste de São Paulo (SP), com o objetivo de entender quais os mecanismos que contribuem para as limitações do desenvolvimento de uma educação de qualidade na região.
"Alguns estudos mostram a influência da vizinhança sobre as oportunidades educacionais. Então nosso objetivo foi apreender como numa região se dava esse efeito quando o território é muito vulnerável socialmente”, comenta Antonio Batista, coordenador da área de Desenvolvimento de Pesquisas do Cenpec.
De acordo com Batista, o isolamento da escola é um dos mecanismos que contribui para a limitação do ensino nas áreas de alta vulnerabilidade. Ele explica que nesses territórios as escolas encontram-se "isoladas” dos demais equipamentos que marcam a presença do Estado.
Por conta disso, segundo Batista, a escola, muitas vezes se vê na necessidade de lidar sozinha com problemas relacionados à violência, saúde, e assistência social. "A escola acaba recebendo muitas tarefas e perde a capacidade de fazer aquilo que é específico dela, que é ensinar e aprender”, revela.
Outro ponto ressaltado pelo coordenador do Centep diz respeito à baixa oferta de matrículas para a educação infantil nesses territórios. De acordo com Batista, é importante que a criança tenha uma "familiaridade prévia” com a escola, entretanto, esse contato inicial se torna restrito a apenas algumas crianças devido a pouca oferta de matrículas para creches e educação infantil na região.
Escolas com tendência a concentrar alunos com baixos recursos culturais; "concorrência” entre as escolas; e modelo escolar inadequado às necessidades dos alunos são outros fatores que favorecem a limitação da educação nos ambientes de alta vulnerabilidade.
Para Batista, é importante aumentar a oferta de matrículas na pré-escola para garantir que as crianças tenham acesso ao ambiente escolar mais cedo. Além disso, destaca a necessidade de promover políticas específicas para os territórios mais vulneráveis, de acordo com a realidade local.
Isso porque, segundo ele, políticas universais só funcionam em situações de igualdade. "Em situação de desigualdade, as políticas universais acabam reforçando a desigualdade”, comenta, demandando políticas diferenciadas para os territórios de alta vulnerabilidade social.
"É preciso fortalecer o território, não só a escola, mas é preciso também fortalecer a presença do Estado no local, com saúde, cultura e atendimento social. É preciso também uma política educacional específica para o território para criar um quadro estável, permanente, onde os professores se dediquem à escola”, destaca.
O coordenador do Centep ainda ressalta a importância de criação de conselhos de diretores para que exista um "mecanismo de cooperação entre as escolas”, no qual os diretores possam conversar sobre os problemas de cada escola e ajudar a solucionar os problemas de cada uma. "Uma escola coopera com a outra”, afirma.
A pesquisa está disponível em: http://cenpec.org.br/

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