Saúde instável inspira cuidados: Clima frio provoca a lotação da Santa Casa que fecha as portas para receber pacientes graves socorridos pelo Samu


Assis Cavalcante/Agência BOM DIA

O Pronto-Socorro Municipal funciona há 12 anos na Santa Casa e está ameaçado  de fechamento
O Pronto-Socorro Municipal funciona há 12 anos na Santa Casa e está ameaçado de fechamento
Carla de Campos
Agência BOM DIA
Até o clima frio é motivo de instabilidade na saúde de Sorocaba. Depois dos escândalos envolvendo o CHS (Conjunto Hospitalar de Sorocaba) e da queda de braço ainda pendente entre a prefeitura e a Santa Casa para renovação do convênio que mantém o Pronto-Socorro, no fim de semana a saúde virou caso de polícia (Veja arte ao final da matéria).
Lotada, a Santa Casa recusou pacientes trazidos pelo Samu  (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), provocando um boletim de ocorrência por parte da equipe médica da ambulância.
 Na sexta e no sábado a Santa Casa registrou  um pico de atendimento em torno de 30%. O resultado foi a falta de leitos. “Estávamos lotados mesmo, não tinha o que fazer. Não tem mais onde por gente. Chegamos a pegar leito particular e colocar no SUS”, afirma  o provedor da Santa Casa, José Antonio Fasiaben. 
Segundo ele, o problema é sazonal, provocado pelas baixas temperaturas e consequente aumento de problemas de saúdeque afetam, inclusive, o  aparelho respiratório.
 O crescimento da população de Sorocaba também é um complicador para os serviços de saúde, aponta o provedor, lembrando que há dez anos o município  possuia cerca de 300 mil pessoas e hoje já dobrou sua população.
Para o diretor clínico da unidade, Fabiano Boa Sorte, a lotação foi uma situação atípica. “Os pacientes idosos, por exemplo, são mais suscetíveis ao clima frio. Quando este paciente fica doente precisa de um respirador”, explica, referindo-se às características daquele que mais procuram o serviço médico. 
Limite Máximo  /A capacidade da UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) do hospital é de 20 vagas. Doze delas são do SUS (Sistema Único de Saúde). Para os pacientes que possuem convênio particular, há oito leitos que, em caso de vacância, podem ser usados por pacientes do sistema público.
Caso não haja nenhuma vaga na UTI, os pacientes são mantidos em uma unidade semi-intensiva de emergência, que possui cinco respiradores para cinco pacientes.
 No sábado, tanto a UTI estava lotada quando a unidade transitória, o que provocou a recusa de novas internações. “Já chegamos a ter oito pessoas entubadas na emergência do Pronto-Socorro, utilizando respiradores emprestados”, diz o diretor clínico da Santa Casa. 
Segunda (04), por volta das 16h, dos cinco respiradores, apenas dois estavam ocupados o que, segundo Boa Sorte, caracaterizada a normalidade no atendimento. Mas o Samu, conforme informações  da Secretaria de Saúde, ainda encontrava dificuldades para encaminhar pacientes ao hospital.
A lotação da Santa Casa pode acontecer novamente devido ao inverno. Mas  Boa Sorte adianta que dentro de dez dias chegarão cinco novos respiradores comprados pela prefeitura. “Vamos dobrar a capacidade. Até lá, vamos torcer para não termos tantos casos. As coisas acontecem de momento e a situação muda de uma hora para a outra”, avisa.
Unidades do município são a   alternativa  
Os casos que aguardam internação são atendidos em estruturas instaladas  na Zona Norte e Oeste
A falta de vagas na Santa Casa provoca a mobilização de toda uma rede de gestão do serviço de saúde no município. Se o hospital não recebe os pacientes, eles são remanejados para outras unidades que são referência na região, com acionamento da CROSS (Central de Regulação e Oferta de Serviços de Saúde), que checa as vagas existentes.
Enquanto esperam internação, alguns casos são atendidos nas UPHs (Unidades Pré-Hospitalares) da Zona Norte e da Zona Oeste.
No sábado, o Samu atendeu 30 ocorrências. A Secretaria de Saúde informa que houve a necessidade de transferência de alguns pacientes pela CROSS, mas não relata o volume.  Outros casos foram resolvidos dentro das próprias UPHs.
Pronto-Socorro /O Pronto-Socorro Municipal é mantido por  convênio entre a prefeitura e a Santa Casa, desde 1999. O atendimento médio é de 13 mil pessoas por mês, quase o dobro do previsto na época da assinatura do contrato. Como a estrutura e os investimentos da prefeitura não acompanharam a demanda, sobram problemas. Esta é  linha da discussão que a Santa Casa vem mantendo com o prefeito Vitor Lippi desde 1º de junho, quando divulgou uma comunicado informando que dentro de 90 dias estaria suspendendo o atendimento devido à falta de condições.
Atualmente a prefeitura repassa à Santa Casa R$ 707 mil por mês para bancar o pronto-socorro. Entretanto, a direção do hospital informa que  o valor  necessário é  em torno de R$ 1,5 milhão (dado referente ao  mês de fevereiro).
O prefeito Vitor Lippi já informou que não está disposto a dobrar os valores do convênio, mas acenou com a abertura de diálogo e de uma análise detalhada dos gastos  para manter o Pronto-Socorro. “A Santa Casa vive um momento de mudança e sabe que precisa tomar uma atitude. A situação estava insustentável e na verdade ainda está. Mas temos perspectivas de negociação”, diz o diretor clínico do hospital, Fabiano Boa Sorte. Segundo ele, tanto a prefeitura quanto a Santa Casa sabem que o fechamento do Pronto-Socorro não é bom para ninguém e que afeta diretamente a população.
 É o frio /As condições do clima provocam uma nova demanda em todos os serviços de saúde, públicos e particulares. 
“Nesta época a procura pelos consultórios aumentam entre 30% e 40%”, informa o pediatra e infectologista Carlos Alberto Lazar. O clima frio e seco está associado a quadros de resfriado, gripes e asma. “O aumento ocorre porque nesta época as pessoas ficam mais juntas, em ambientes fechados, o que facilita a transmissão”, aponta o médico.
Volume nas UPHs
Além da Santa Casa, as  unidades pré-hospitalares das zonas norte e oeste de Sorocaba também mantêm estrutura para o  atendimento de urgências e emergências pela rede municipal. São cerca de 11 a 13 mil pacientes por mês.  

Na falta da Santa Casa
Se, na pior das hipóteses, a  Santa Casa e a prefeitura não entrarem em um acordo, a cidade precisará buscar alternativas para suprir a falta do Pronto-Socorro.
 Como alternativa à ampliação de leitos de internação na Santa Casa, há a possibilidade de negociação de cerca de 200 leitos no Hospital Evangélico, que receberiam pacientes que chegassem ao Pronto-Socorro Municipal da Santa Casa.

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