Carros roubados eram revendidos em ‘promoção’


CAMILLA HADDAD
Um esquema sofisticado para clonar carros de luxo foi descoberto nesta terça-feira na capital por policiais civis. Nove integrantes da quadrilha foram presos e 15 veículos seminovos de marcas como BMW, Land Hover e Honda foram apreendidos com placas e chassis adulterados. A ação foi comandada pelo 7.º Distrito Policial (Lapa). A delegacia é líder no ranking de registro de roubos e furtos de veículos na capital.
Após serem encomendados muitas vezes via celular, os veículos iam parar em bairros de São Paulo e em cidades do Paraguai. O delegado titular do 7.º DP, Rubens Barazal, ficou impressionado com a infraestrutura que havia na casa de um dos detidos, na zona sul. Na garagem, ele tinha uma oficina equipada com uma espécie de “kit adulteração”, onde armazenava ácido para mudar chassis, formulários para fazer novos documentos e peças para alterar o motor e placas dos carros.
Em um dos imóveis, um Honda Civic prata estava pronto para ser entregue ao comprador. Segundo Barazal, a investigação começou há cerca de três meses. Inicialmente, o alvo a ser averiguado era Leonardo Rodrigues, de 29 anos, conhecido como Peralta.
De acordo com Barazal, ele seria ligado ao Primeiro Comando da Capital (PCC) e tinha a função de recolher dinheiro para a facção criminosa.
No meio da investigação é que foi possível chegar aos outros comparsas de Peralta. “A partir disso, pedimos para a Justiça prisões temporárias e mandados de busca”, disse o delegado. A maioria dos detidos tem passagem por crimes contra o patrimônio, principalmente receptação de carros roubados. As prisões foram feitas na Vila Santa Catarina e Água Funda, zona sul, em Barueri, Grande São Paulo, e na zona leste.
Estacionamento
A Rua Camillo, na Lapa, zona oeste, endereço da delegacia, virou um estacionamento na tarde desta terça. Os carros de luxo, com capôs abertos, ficaram estacionados à espera de vítimas de clonagem e de roubo e também de seguradoras. Os carros despertaram curiosidade da vizinhança.
Até as 15h, duas vítimas estiveram no DP: um empresário, que se apresentou como dono de uma Range Rover cinza furtada, e outro, que disse ser proprietário de uma BMW, que foi roubada. Nenhum dos dois quis dar entrevista. Já as vítimas de clonagem compareceram no DP em maior número.
O próximo passo, diz Barazal, é que os carros passem por perícia para detectar sua origem e onde foram roubados e furtados.
Barazal espera ainda chegar a outros compradores, que serão investigados. “É muita desproporção de preço e eles devem saber isso. Uma Land Hover de R$ 300 mil era vendida a R$ 40 mil”, afirma. “Se não existissem os receptadores, as quadrilhas não teriam sucesso nisso.”
Resta ainda prender pelo menos dois integrantes do bando. O grupo todo fazia as transações de venda por encomenda e pessoalmente. O delegado comentou que em trechos de escuta telefônica, “compradores” perguntam se o “vendedor” tem um carro da marca Porsche. Em outra gravação, eles perguntam quais os modelos estão disponíveis para “venda”.

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