De Heliópolis para a Filarmônica de Israel



MARICI CAPITELLI
A Orquestra Jovem da Filarmônica de Israel se apresenta neste domingo na Sala São Paulo, na Luz, região central da capital. Em meio aos quase 100 músicos, sete são brasileiros – quatro de São Paulo. Para eles, é uma mistura de emoção estar de volta ao País e tocar na sala mais importante da cidade. De origem humilde, três deles que passaram pelo Instituto Baccarelli, em Heliópolis, ainda nem acreditam que já chegaram onde estão: em um dos principais centros de música clássica do mundo.
Na plateia, estarão a mãe e o irmão de Emerson Nazário, de 23 anos, que toca violoncelo. O jovem, que nasceu e cresceu na Favela de Heliópolis, teve contato com a música aos 12 anos, quando começou a participar do projeto social do Instituto Baccarelli.
“No começo, entrei no projeto como diversão, mas descobri que era essa a carreira que queria para a minha vida.” À medida que tomava contato com a música, Emerson começou a sonhar em estudar fora do País. A oportunidade veio depois que um músico israelense o viu se apresentando. Um mês depois, ganhou a bolsa de estudos e em 2008 se mudou para Israel. Teve que abandonar o curso de música na Universidade Estadual Paulista (Unesp). “Não podia perder essa chance.”
José Batista Júnior, de 21 anos, toca viola. Ele está em Israel desde outubro do ano passado. Foi aprovado na universidade após enviar um DVD em que aparecia tocando e na mesma época se apresentou para a principal violista da Filarmônica, que estava no Brasil.
Em Tel-Aviv, teve uma oportunidade que considera inesquecível. “Participei de dois ensaios com músicos da Filarmônica de Israel. Eu olhava para o lado e pensava que eu estava ali, que de fato estava acontecendo.” Ele começou a se interessar por música ainda criança, acompanhando as irmãs, que tocavam e cantavam na orquestra da igreja evangélica, que a família frequentava em Osasco.
Batista afirma que o curso na universidade israelense é muito puxado. O treino com instrumento chega a ser de no mínimo seis horas diárias, sem contar as aulas teóricas. Com exceção do horário de almoço, ele passa o dia todo na escola. Chega à universidade às 9h e só retorna ao alojamento às 21h30. Tem pela frente mais três anos. “Se tiver oportunidade, quero tocar no exterior, mas um dia quero voltar para o Brasil.”
Morador de Roseira, no interior, Marcos Ramos Lemes aprendeu a tocar violão sozinho. Foi em busca de um projeto social em que pudesse ter aulas. Não encontrou curso de violão, mas de contrabaixo em um projeto de música na Basílica de Aparecida. “Foi amor à primeira vista pelo instrumento.” Aos 26 anos, está há um ano no exterior. “Voltar para tocar na Sala São Paulo é muita emoção.”

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