'Gangue das garotas' faz arrastões na Vila Mariana, na zona sul de SP




De São Paulo
Um grupo de cerca de 15 crianças e adolescentes, na maioria meninas, tem promovido uma onda de roubos e furtos na região da rua Domingos de Morais, na Vila Mariana (zona sul de SP). Devido à idade dos infratores, a polícia e o Conseg (Conselho de Segurança) da região apontam para a dificuldade na dissolução do que ficou conhecido como "gangue das garotas".
Rose Meire Ueno, 35, gerente da Droga Nossa, que fica ao lado da estação de metrô Vila Mariana (linha 1-Azul), disse que o problema começou há mais de um ano e que os funcionários do comércio resolveram fazer a própria segurança contra a gangue.
"Eles chegam em bando de 10 a 12 [crianças e adolescentes] e fazem o 'rapa'. Agora ficamos na frente da loja e já recuperamos muita coisa dessa forma", diz Rose.
Mesmo com o modus operandi próprio, a gerente diz não ter escapado da agressividade das meninas. "Já apanhei de uma que parecia ter uns cinco anos", afirma.
Atitude parecida teve a Simple Store, loja de roupas masculinas e femininas na altura do número 700 da rua Domingo de Morais. "Na última vez, as vendedoras viram que elas estavam furtando e tentaram retomar as roupas. Ficaram as crianças puxando de um lado e as funcionárias de outro", afirma Luiz Eduardo Ferreira, 60, gerente do comércio.
A "gangue das garotas", porém, não se resume aos ataques às lojas, segundo Douglas Meilhem Junior, presidente do Conseg da Vila Mariana. "Elas ameaçam os pedestres e fingem ter uma arma sob a blusa, mas nunca pegaram nem um simulacro".
Para o delegado Márcio de Castro Nilsson, titular do 36º DP (Paraíso), "isso [a gangue das meninas] é um problema sério da região e precisa ser contornado". A dificuldade, segundo Nilsson, são as restrições legais para agir quando os crimes são cometidos por crianças.
"O Estatuto da Criança e Adolescente [ECA] é claro. Menores de 12 anos não podem ser conduzidos à unidades policiais. Eles devem ser levados ao Conselho Tutelar --que por sua vez toma as medidas cabíveis. Não podemos agir nessa situação [crimes cometidos por crianças]", afirma o delegado.
"HABEAS CORPUS"
Há cerca de quatro meses como titular do 36º DP, Nilsson diz ter notado o problema logo quando assumiu a unidade. "Quando cheguei, essa molecada estava toda aqui na delegacia. Mas não podemos trazê-los aqui porque isso contraria a lei", diz.
De acordo com Meilhem Junior, porém, a idade informada pelos integrantes da "gangue das meninas" nem sempre é verossímil. "Elas nem têm documentos, dizem não ter família e sempre falam que têm menos de 12 anos. São profundas conhecedoras da lei e devem saber muito mais do que alguns advogados".
"Ao meu ver todas têm acima de 12 anos e elas têm um habeas corpus preventivo para cometer crimes. Algumas até filhos já têm", afirma o presidente do Conseg da Vila Mariana.
A Polícia Militar informou que há cerca de um ano intensificou o patrulhamento na região da Domingos de Morais com 30 policiais, divididos em dois turnos.
Ainda de acordo com a PM, desde a semana passada esse efetivo recebeu mais viaturas e motos da Rocam (Rondas Ostensivas com o Apoio de Motocicletas) e não há registros de novas ocorrências com a "gangue das garotas" --formada, segundo a polícia, por meninas do ABC e do extremo leste de SP.
"Em um ano prendemos integrantes dessa gangue 15 vezes. São crianças bem pequenas e as maiores, que também não têm documentos, sempre falam que têm menos de 12 anos", diz o capitão Flávio Baptista, comandante da 2ª Companhia do 12º Batalhão.
Sobre a estratégia dos comerciantes de colocar funcionários na porta das lojas para coibir os crimes por conta própria, Baptista disse que "toda atitude pró-ativa para coibir a violência é bem-vinda, mas pede cautela".
"Essas crianças podem estar com um objeto cortante. Nunca apreendemos nada, mas sempre há o risco", afirma Flávio.

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