Greve no serviço funerário recorre a GCMs


Por Caio do Valle e Tiago Dantas
Pela segunda vez no ano, funcionários do Serviço Funerário da cidade de São Paulo entraram em greve ontem, levando a Prefeitura a improvisar e deslocar agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM) para fazer o transporte dos corpos até os cemitérios. A fila para a liberação dos cadáveres cresceu ao longo do dia, causando sentimento de revolta nos familiares. Muitos tiveram de aguardar várias horas só para conseguir o traslado rumo ao velório. Outros enterros precisaram ser cancelados. Nos cemitérios, faxineiros e servidores da área administrativa ajudaram nos sepultamentos.
O encarregado de obras Diego Alves de Farias, de 23 anos, que à tarde esperava o envio do corpo do pai – morto na madrugada de segunda-feira – para o Cemitério da Vila Alpina, na zona leste, não se conformava com a situação. O corpo ainda estava no Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), em Pinheiros, na zona oeste. “Vou ter que desmarcar o velório, mesmo com toda a família já esperando lá.” O aposentado José Inhesta Martim, de 85 anos, que perdeu a mulher de 86, anteontem, não tinha perspectivas. “Não deram nenhum prazo. Não apareceu ninguém nem para pegar a roupa que ela vai usar no caixão.”
A demora se dava em parte porque os GCMs encarregados de transportar os corpos do SVO para os cemitérios não conheciam os procedimentos padrões do serviço. Os guardas também buscavam os mortos nos hospitais, dirigindo os carros do Serviço Funerário. “Não estamos acostumados com isso”, disse um dos agentes. Segundo ele, em torno de 70 homens foram deslocados para esse serviço. O número não foi confirmado pela Prefeitura. Outro GCM afirmou que deixou de fazer sua ronda habitual em bairros da zona norte devido à greve.
Os funcionários do Serviço Funerário exigem um reajuste de 39,79%, referente ao período entre 2004 e 2010, além de mudança na lei salarial. “Nossa pauta de reivindicações foi entregue em fevereiro e até agora não responderam nada”, afirma Irene Batista de Paula, presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Administração Pública e Autarquias do Município de São Paulo (Sindsep). Ela diz que houve uma reunião com a Prefeitura ontem à tarde, mas nenhum secretário apareceu. Hoje, ela prevê um “comando de greve” para mobilizar servidores de outras áreas.
Em nota, a Secretaria Municipal de Serviços, responsável pelos enterros e traslados de corpos na capital, informou que lamenta, “considera inadmissível e repudia a paralisação” dos servidores. Não foi informado quantas pessoas aderiram à paralisação. Ainda segundo a pasta, a greve “é considerada ilegal pela Justiça, por tratar-se de serviço essencial” e, apesar dos transtornos, “os serviços não foram afetados”. A secretaria informou que “sempre manteve canal aberto para dialogar com os representantes dos servidores”. O secretário Dráusio Barreto foi procurado pela reportagem, mas não quis conceder entrevista.
A Prefeitura não divulgou quais foram os cemitérios mais afetados. No do Araçá, na zona oeste, funcionários de uma empresa terceirizada de limpeza auxiliaram nos dez sepultamentos do dia. Cerca de 150 enterros são feitos na cidade diariamente. Ao todo, há 1.366 funcionários no Serviço Funerário

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