Homicídios resistem em 54 cidades de SP


CARLOS LEMOS
MARCELO GODOY
RODRIGO BURGARELLI
Os homicídios resistem em 54 municípios do Estado de São Paulo. Levantamento feito pela reportagem com dados da Secretaria de Segurança Pública mostra que mesmo a queda de 71,2% desse tipo entre 2001 e 2011 não foi um fenômeno uniforme. Quatro regiões concentram as cidades que andaram na contramão da evolução da criminalidade: noroeste, nordeste, Vale do Ribeira e o litoral.
O levantamento feito pelo JT levou em consideração somente as cidades cujo aumento de criminalidade por 100 mil habitantes equivalia a três ou mais casos de assassinatos – houve 95 municípios no Estado que registraram uma variação positiva de homicídio de 1 a 2 casos. Nas outras 496 cidades, houve queda nos homicídios ou a taxa se manteve igual ao longo dos últimos 11 anos.
Por trás desse fenômeno estariam a presença de presídios de regime fechado e semiaberto, a proliferação do crack entre cortadores de cana e o crescimento recente e desordenado de algumas dessas cidades. Para enfrentá-lo, o delegado-geral, Marcos Carneiro Lima, planeja ampliar a atuação do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) também nessas regiões.“Queremos levar a competência e o padrão de investigação do DHPP para todo o Estado.”
Carneiro apontou a invasão do crack nas áreas rurais do Estado, principalmente em cidades com forte presença de boias-frias, como um dos fatores para explicar a resistência dos assassinatos. Esse seria o caso de Guariba e de Penápolis, que têm na cana-de-açúcar sua principal atividade econômica.
Em Guariba, foram 5 casos em 2001, mas, este ano, o mesmo número já foi registrado apenas nos seis primeiros meses. Ali o crack chegou primeiro e se espalhou por outras cidades da região de Ribeirão Preto. Esse é o caso de Penápolis, onde a taxa de assassinatos aumentou quase quatro vezes – de 1,8 por 100 mil habitantes para 6,8. O combate aos homicídios nessas cidades deve passar pelo reforço da repressão às drogas.
O levantamento mostra ainda que dez das cidades onde houve aumento de homicídios na década tinham em comum o fato de abrigar presídios. A presença de penitenciárias, de fato, pode causar distorções na estatística de homicídios, pois as mortes de presos em brigas na cadeia são registradas nas delegacias das cidades como crimes ocorridos no município. Entre essas cidades estão Valparaíso (+100%), Ourinhos (+260%) e Presidente Venceslau (+228%). “Um ou dois casos de homicídio em cidades pequenas como essas pode fazer uma diferença grande”, disse o delegado Carneiro.
As duas outras áreas que concentram cidades resistentes são o Vale do Ribeira e o litoral de São Paulo, principalmente a região norte da costa. “A ocupação recente e desordenada em áreas do litoral pode estar por trás disso”, afirmou o coronel José Vicente da Silva, ex-secretário nacional de Segurança Pública. Em Caraguatatuba, o crescimento dos assassinatos ficou em 11% e em Ubatuba chegou a 30%. “A polícia sempre teve dificuldade de manter homens no litoral para preencher seus quadros”, disse.
No Vale do Ribeira, a pobreza pode explicar a resistência dos homicídios. Seriam causados sobretudo pelo consumo de álcool, por motivos fúteis ou passionais e que, ao contrário dos delitos ligados ao crime organizado, são mais difíceis de serem prevenidos.

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