Sabesp paga firma de marido de assessora




FABIO LEITE
FABIO SERAPIÃO
Uma consultoria de engenharia do marido de uma assessora de diretoria da Sabesp assinou ao menos R$ 75 milhões em contratos – diretos ou por meio de consórcios – com a estatal nos últimos quatro anos. Especializada em recursos hídricos, a Companhia Brasileira de Projetos e Empreendimentos (Cobrape) tem como sócio o engenheiro Alceu Bittencourt, que é casado com Marisa de Oliveira Guimarães.
Funcionária da Sabesp desde 1985, Marisa assessora hoje o diretor de Tecnologia, Empreendimentos e Meio Ambiente da Sabesp, Marcelo Salles. Antes de ocupar o cargo na estatal, ela foi coordenadora da Secretaria Estadual de Saneamento no governo José Serra/Alberto Goldman (PSDB). A passagem pela pasta foi na gestão de Dilma Pena, atual presidente da Sabesp. Marisa retornou à empresa do governo no mês passado.
Tanto a Cobrape como a estatal negam qualquer conflito de interesse na relação entre a assessora e seu marido empresário. Para a Sabesp, os contratos firmados não sofreram qualquer ingerência de Marisa. Já a Cobrape afirma que, quando iniciou seus trabalhos no setor de saneamento, em 1988, a esposa de Bittencourt já era funcionária de carreira da companhia (leia abaixo).
Além dos negócios com a Sabesp, a Cobrape também mantém parcerias com a ex-empresa do atual chefe de Marisa, Marcelo Salles. Entre 2004 e 2007, Salles foi sócio da Estudos Técnicos e Projetos Etep Ltda. Desde 2008, Cobrape e Etep já se uniram em quatro consórcios que ganharam R$ 13 milhões em contratos da Sabesp.
Aumento dos contratos
Especializada em estudos e consultoria em saneamento, a Etep é mais uma empresa que viu seus contratos prosperarem após um de seus ex-diretores assumir um cargo na Sabesp. Enquanto Salles foi sócio da consultoria, ela firmou R$8,1 milhões em contratos – de forma direta ou por meio de consórcios – com a Sabesp. Já entre 2007 e 2010, quando ele já estava nomeado diretor da companhia, a Etep viu esse montante saltar para R$185,4 milhões, um aumento superior a 2.000%.
O maior dos contratos da Etep, no valor de R$ 97 milhões, é em um consórcio com outras três empresas (Concremat, JNS e Logos) para gerenciamento da 3ª etapa do programa de despoluição do Rio Tietê, assinado em 2010.
Outros casos
Conforme o Jornal da Tarde revelou nas últimas semanas, o caso de Salles não é único. Outros dois ex-dirigentes da Sabesp, Umberto Semeghini e Nilton Seuaciuc, viram os contratos de suas empresas – Gerentec e Vitalux, respectivamente – com a estatal aumentarem no período em que eles trabalharam na companhia. A única diferença é que, ao contrário de Semeghini e Seuaciuc, que deixaram a Sabesp este ano e retornaram a suas empresas, Salles permanece na estatal.
Outro lado
Questionada sobre as relações de sua funcionária Marisa de Oliveira Guimarães com a empresa de seu marido – Cobrape –, a Sabesp informou que “não há qualquer conflito de interesse” nas funções exercidas por ela.
Por meio de uma nota enviada por sua assessoria de imprensa, a Sabesp afirmou que a inexistência de tais conflitos é garantida pelo fato de Marisa ter assinado uma “declaração nos termos da lei societária” e, como funcionária pública de carreira, entregar, anualmente, a declaração de imposto de renda à empresa.
Ainda na nota, a Sabesp afirma repudiar qualquer tentativa “de associar funcionários da companhia com atos irregulares”. Sobre os contratos com a Cobrape, a estatal informa que todos “foram celebrados obedecendo estritamente a lei de licitação ”.
Sobre a relação de seu diretor, Marcelo Salles, com a Etep, a Sabesp ressaltou que “antes de ser contratado, em 2007, ele assinou uma declaração de desimpedimento nos termos previstos na legislação societária”.
Empresas
Também por meio de uma nota, a Cobrape negou qualquer tipo de irregularidade ao afirmar que em “nenhum momento participou de licitações sob responsabilidade da Sra. Marisa de Oliveira Guimarães”.
O Jornal da Tarde entrou em contato com a Etep por telefone e, conforme solicitado pela empresa, enviou e-mail. Mas, até o fechamento desta edição, às 21h30, a consultoria não havia enviado as respostas.

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