Detentos continuam com alimentação precária


Carolina Santana
carolina.santana@jcruzeiro.com.br

 Novas queixas sobre falta de comida e restrições para a entrada de visitantes com alimentos e produtos básicos como pasta de dente e sabonete na Penitenciária "Dr. Antônio de Souza Neto", a P2 foram feitas ontem. Uma denúncia formal foi protocolada pelo Conselho da Comunidade de Sorocaba na Vara de Execuções Criminais e Corregedoria dos Presídios da Comarca de Sorocaba no último dia 18 pedindo uma visita à unidade prisional. Por ser final de semana, ninguém da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), foi encontrado para comentar o assunto.

Esposas, mães e outros familiares dos detentos que participaram da visita ontem disseram que a administração permite a entrada de, no máximo, um quilo de comida por detento. Por medo de represálias contra o parente preso, nenhum dos denunciantes concordou em ser identificado. Segundo eles, as regras de entrada ficaram mais rígidas com a troca da administração da penitenciária que fica no bairro de Aparecidinha em Sorocaba. A esposa de um detento afirma que ontem o almoço foi arroz com um caldo ralo de fubá e ovo mexido com farinha de trigo.

Segundo ela, são os próprios presos que preparam as refeições mas, desde outubro, a administração não tem entregue mantimentos suficientes para todos os internos. Segundo o Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo (Sifuspesp) a P2 conta com 1.559 presos.

"Eles pegam alimentação da Febem, mas quando chega a cota deles, eles têm que devolver o que pegaram da Febem e ficam sem", diz outra esposa de detento que visitará o marido hoje. "Eu ainda não sei como vai ser. Eu trouxe papel higiênico, comida e sabonete. Vamos ver se vão deixar entrar", comentou ela.

A informação de que os internos da P2 precisam "emprestar" comida da antiga Fundação Febem - atual Fundação Casa - é reforçada pelo depoimento de uma outra senhora que visita o filho na penitenciária a cada 15 dias. "Poxa vida, se eles não têm como dar os mantimentos para eles deveriam deixar pelo menos que a família pudesse trazer em maior quantidade", comentou ela, que levou dois potes pequenos de comida para o filho.

Para agilizar a entrada no presídio, os visitantes acabam dispensando os alimentos e produtos de higiene na entrada. "A gente não consegue nem trazer de volta para casa. Eu até já vi funcionário levando embora as coisas que a gente traz", afirma outra denunciante. Segundo ela, o racionamento de comida atinge até os funcionários.

Denúncia formal

No dia 18 de novembro o Conselho da Comunidade de Sorocaba - associação civil que auxilia o Poder Judiciário e o Ministério Publico - protocolou denúncia formal na Vara de Execuções Criminais e Corregedoria dos Presídios da Comarca de Sorocaba. No documento a entidade relatava depoimentos de familiares que, além da questão da alimentação, também reclamavam da falta de trabalho para os detentos. O documento afirma que as denúncias também foram feitas por familiares de funcionários da P2. 
"Já no início deste mês de novembro de 2011 começou a faltar hortifrutas e carne bovina", relata a denúncia assinada pelo presidente da entidade, José Roberto Fieri. Para ele, é preciso que representantes da corregedoria façam uma visita extraordinária à penitenciária.

Rebelião

Em nota distribuída à imprensa na sexta-feira, o Sifuspesp alerta para a gravidade da situação que se estende desde o início do mês. "Quem está sofrendo o risco da violência são os servidores públicos estaduais que trabalham nas unidades (...) São os funcionários que sofrem com a revolta dos presos (...) que apanham, morrem, são torturados e feitos de refém por presos amotinados, rebelados ou simplesmente revoltados", diz o comunicado.

O medo de um motim também é realidade entre os familiares que aguardam do lado de fora para as visitas. "Não tem como viver assim. Eles estão presos mas têm os direitos deles", diz a mãe de um detento que diz que todos estão "com o coração na mão". A apreensão fica visível na fala do filho de outro interno. "Isso aí está um barril de pólvora. Acho que é isso que eles querem, deixar todo mundo nervoso. Essa nova diretoria trabalha na base da repressão e isso aqui já foi exemplo", lamenta.

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