Maninho é condenado a 135 anos de prisão


 Jornal Cruzeiro do Sul
Wilson Gonçalves Júnior
wilson.junior@jcruzeiro.com.br

O réu Everson Severino da Silva foi condenado a 135 anos de prisão pela morte de cinco jovens, em episódio que ficou conhecido como a chacina de Votorantim, após treze horas de julgamento ocorrido ontem, no tribunal do júri de São Roque. A condenação foi lida pelo juiz Fábio Cavalheiros Nascimento, às 0h40, e trouxe alívio para familiares das vítimas, que acompanharam todas as alegações de defesa e acusação. O júri de ontem, que teve início às 11h30, trouxe algumas surpresas, como por exemplo um desdobramento de informações passadas no depoimento do sobrevivente Samuel L.F. Diante do novo fato, o promotor Wellington dos Santos Veloso vai pedir abertura de investigação para apurar se o irmão de "Maninho", Emerson Severino da Silva, o "Fio", também participou da chacina.

No seu depoimento, Samuel disse que o irmão de "Maninho", Emerson Severino da Silva, o "Fio", chegou a ameaçá-lo. O fato se deu porque a vítima chegou a comercializar entorpecente para "Fio", e quando o traficante foi preso, Samuel devolveu a droga para a mãe dos irmãos. Entretanto, quando saiu da cadeia, "Fio" foi cobrar Samuel. "Se não pagar de um jeito, vai pagar de outro", teria dito. Só que a vítima não teria levado a ameaça a sério. Samuel disse ainda que Jair Martins, o "Punk", também chegou a falar que "Maninho" era o culpado do crime, juntamente com Wellington Barros, o "Bicho". Fato que este que bateu com o interrogatório de "Punk", gravado pelos policiais e mostrado ontem durante o julgamento. 

Para o promotor, os novos fatos serviram para dar um corpo maior para as provas já existentes, principalmente no caso de Samuel, nos casos citados sobre "Fio" e narrados por "Punk". "Estou feliz, justamente pelo resultado, com a condenação", afirmou o promotor. Para o pai de uma das vítimas, Jhosely, Milton Leite, a condenação veio transcrito com apenas uma palavra: paz. "Só de ver isto, valeu todo nosso sacrifício".
 
Dia longo 
O julgamento do autor e mandante da chacina de Votorantim, Everson Severino da Silva, começou às 11h30. O primeiro ouvido foi o delegado Acácio Aparecido Leite, que comandou as investigações do crime. O depoimento durou uma hora e dez minutos. O corpo de jurados foi formado por sete pessoas, seis mulheres e um homem. No início do julgamento, durante 10 minutos, o juiz Fábio Cavalheiros Nascimento, explicou aos jurados sobre o trabalho que teriam pela frente e ainda comentou sobre todo o trâmite do processo. No depoimento, Acácio Aparecido Leite confirmou que o outro acusado, Jair Martins, o Punk, absolvido anteriormente, informou que tinha sido convidado a dar um susto nas vítimas.

O segundo depoimento, do investigador Jeferson, da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), durou aproximadamente quarenta minutos e encerrou a fase de testemunhas na parte da manhã. Em seu depoimento, frente aos jurados, o investigador disse que os relatos passados por Jair "Punk", de que os autores do crime seriam Maninho e Wellington Barros, o Bicho, foi compatível com o que foi afirmado pelas testemunhas sobreviventes no dia da reconstituição do crime.

O acusado de ser o autor da chacina de Votorantim, Everson Severino da Silva, o Maninho, por sua vez, alegou inocência em seu depoimento e disse que cuidava das irmãs mais novas no dia e horário do crime. Ele informou que alugou filme para ver em casa, entretanto não soube dizer ao juiz o nome da locadora. Minutos antes, um dos sobreviventes da chacina, Samuel, afirmou que soube de Jair "Punk", que "Maninho" e Wellington "Bicho" foram os autores do crime. Samuel disse, inclusive, que foi ameaçado pelo irmão de "Maninho", conhecido como Fio. Porém, não levou o fato a sério, já que pensou se tratar de uma brincadeira. A ameaça teria sido feita porque Samuel chegou a vender droga para o irmão de "Maninho".

O advogado de defesa de "Maninho", Glauber Bez, disse que o depoimento de Jair "Punk" incriminando seu cliente não poderia ser levado em consideração, tendo em vista que ele sofreu pressão psicológica durante o interrogatório. Aos gritos, ele disse que não há provas para condenar "Maninho" e chegou a contar aos jurados a história de Jesus Cristo, que foi condenado e sofreu apenas para relatar as palavras de Deus. "Ninguém viu e não têm provas contra ele. Não podem condenar um homem pelo o que foi dito pelo Punk num bar", frisou.
 
O caso 
A chacina de Votorantim ocorreu no Vossoroca, no dia 23 de outubro de 2007. Foram mortos Elvis Aparecido Silva, de 16 anos; Mariane Caren da Silva, de 15; Danielli Miranda Raimundo, 14 anos; Jhosely Lopes dos Santos, 15, e André Gonçalves Rodrigues, de 21 anos. A vítima S.L.F, na época com 18 anos, levou dois tiros no braço e sobreviveu. R.S.P, de 16 anos e R.B, de 15, nada sofreram. Nenhum deles tinha passagem pela polícia.

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