São Roque: Curandeiro é denunciado por charlatanismo e estelionato



Duas mulheres alegam ter pago até R$ 14 mil, mas seus problemas não foram resolvidos
Adriane Mendes 
adriane.mendes@jcruzeiro.com.br 

O místico Rui Morão, que há duas décadas faz atendimentos espirituais em São Roque, é acusado de charlatanismo e de estelionato. Os casos foram registrados nas delegacia de Mairinque e São Roque, nesta última onde o inquérito será instaurado. As denúncias foram feitas em janeiro, por clientes que perderam entre R$ 4 mil e R$ 14 mil, na esperança de terem seus problemas resolvidos, mas que se sentiram enganadas. De acordo com seus funcionários, Rui estaria internado num hospital em São Paulo, por problemas renais. Segundo as denunciantes, Rui tem entre 45 e 50 anos de idade. 

A primeira ocorrência, de charlatanismo, foi protocolada em 18 de janeiro por uma aposentada de 63 anos de idade, moradora em Mairinque. Com artrite reumatoide, ela procurou pelo operador espiritual em busca de melhora na saúde, sendo prontamente diagnosticada por ele como portadora de câncer no fêmur. Segundo registro policial, ele teria pedido um valor acima de R$ 4 mil, que poderia ser parcelado. Ela concordou em dar uma entrada em dinheiro e o restante em cheques, submetendo-se então à cirurgia espiritual, que consistiu na colocação de etiquetas nas costas. A aposentada disse que uma funcionária do místico teria ido até a casa dela receber os pagamentos. 

Dias depois, ao saber por exames médicos que não tem câncer, a aposentada procurou por Rui, que lhe garantiu que devolveria os cheques, bem devolveria o valor daqueles caso já compensados. A partir da data que o primeiro cheque "caiu", a aposentada contou à polícia que nunca mais conseguiu contato com o místico, sendo apenas informada pela secretária que Rui estaria internado e passaria por cirurgia. A aposentada que pediu para não expor detalhes da sua experiência com o místico, acredita ter sido ludibriada por conta do "desespero de ter câncer". Disse que fé não se discute e que talvez "tenha gente que se sinta bem lá" (com o tratamento de Rui). O registro policial foi uma exigência bancária, a fim de sustar os demais cheques. Ainda segundo a vítima, o atendimento é feito numa cômodo pequeno denominado"sala de cura Dr. Frederico", em referência à entidade espiritual recebida pelo místico. A consulta durava em média cinco minutos. 

Segundo caso 

A segunda denúncia, registrada como "estelionato" no último dia 24. Atraída pela fama do curandeiro, uma dona de casa moradora em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo, procurou pela ajuda espiritual em janeiro do ano passado a fim de resolver o problema de alcoolismo do marido. O tratamento custaria R$ 5.500,00, que teria sido pago quase integralmente, sem no entanto o marido abandonar a dependência da bebida. Ela percebeu que estaria sendo enganada após ser convencida por Rui a comprar uma casa, em Arujá (perto de Itaquaquecetuba) por R$ 9 mil. Necessitada de um imóvel e com a "lavagem cerebral" que ele teria feito, a mulher nem sequer o questionou sobre o baixo valor do imóvel e fez negócio com o místico. Pagou uma parte diretamente a ele e depositou o restante em conta bancária. O marido desconhecia as idas da esposa ao curandeiro e as negociações, motivo pelo qual quase o casamento acabou. 

De acordo com a dona de casa, no primeiro atendimento Rui perguntou o motivo da consulta, e deu o preço. "Quando a pessoa não pode pagar de imediato o que ele pede, é permitido que vá se pagando aos poucos", explicou a denunciante. Apontou que Rui teria até solicitado táxi a fim de levá-la até uma agência bancária, para sacar dinheiro e pagá-lo pelos trabalhos espirituais. 

Na tentativa de reaver o dinheiro, há três semanas a mulher recebe de uma funcionária do místico apenas a informação de que ele estaria internado em São Paulo. Agora pretende voltar a São Roque para pedir mais esclarecimentos à polícia. 

Residência e clube 

De acordo com as denunciantes, o atendimento é feito em imóvel no bairro São João Novo, às terças, quintas e sextas-feiras, sempre após às 14h, ou no domingo, que é quando há maior procura, até as 14h. O local parece uma fortaleza, toda monitorada por câmeras. Na semana passada, na porta da casa havia o aviso: "Essa semana não haverá atendimento. Retorno com data indeterminada", e abaixo quatro números telefônicos para contato. Perto dali, na rua José Benedito Rodrigues, é construído um "clube", segundo os próprios trabalhadores, pertencente a Rui. O projeto arquitetônico sugere que o investimento não é baixo, Haverá, inclusive, adega. 

Um funcionário público estadual, que mora no mesmo bairro em que o místico atende e reside, e preferiu não se identificar, lembrou que antigamente excursões chegavam ao local. Questionados, um comerciante e um vendedor autônomo desconversaram e não quiseram opinar sobre o trabalho desenvolvido pelo curandeiro. Em frente ao local de atendimento, um rapaz que se identificou como motorista de Rui, disse que Rui tem um trabalho respeitado, havendo, segundo ele, fidelidade de clientes há mais de 15 anos.

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