Denúncias de racismo crescem 67%



BRUNO PAES MANSO
Na madrugada de sábado, o ajudante de caminhoneiro Ivan Romano, de 43 anos, estava com a namorada, Natália Gonçalves, de 46, em uma praça de Embu das Artes, na Grande São Paulo. Perto das 2h, dois jovens passaram pelo casal e começaram a agredir Romano. Segundo ele, sem motivo aparente. As imagens foram captadas pelas câmeras da prefeitura. Romano afirmou que, enquanto apanhava, era xingado com expressões racistas.
Policiais militares foram chamados e os agressores foram presos e enviados para o Centro de Detenção Provisória de Itapecerica da Serra. Além do inquérito criminal, ontem, o caso também foi registrado na Coordenação de Políticas para a População Negra e Indígena da Secretaria de Justiça e da Defesa da Cidadania (CPPNI).
Desde o ano passado, com a Lei Estadual 14.187, que pune a discriminação praticada por pessoas, estabelecimentos comerciais e instituições públicas, as denúncias de racismo crescem no Estado. Os estabelecimentos podem ter de pagar multas de até R$ 165 mil ou ter o alvará de funcionamento cassado, em processos que correm mais rapidamente do que os casos judiciais.
No ano passado, foram feitas 90 denúncias. Nos primeiros 80 dias deste ano, já foram 34, crescimento médio de 67%. “Caso o funcionário de um estabelecimento pratique racismo, em vez de ele ser responsabilizado, a empresa também responde pela acusação”, diz Antonio Carlos Arruda, coordenador da CPPNI. “O aumento das denúncias neste ano não significa que o racismo aumentou, mas que a informação cresceu, o que leva a denunciarem mais.”
Esse crescimento também foi detectado na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi). Em 2011, foram mais de 50 boletins de ocorrência, que representaram 51,4% das ocorrências do DP, que também apura casos de gangues, crimes ligados a religião, LGBT e futebol.
Para se adaptar à nova lei e diminuir acusações, a coordenadoria passou a discutir com a Associação Paulista de Supermercados (Apas) a confecção de uma cartilha para orientar funcionários e terceirizados. Das 124 denúncias que chegaram à Secretaria da Justiça, pelo menos dez são contra supermercados. O advogado Dojival Vieira defende pessoas que se disseram vítimas de racismo em três casos. A enfermeira Sonia Maria Lofredo, por exemplo, relata o problema no supermercado de um shopping da zona oeste da capital, no dia 13 de janeiro, quando foi trocar um celular.
Ela admite que se irritou com a demora dos funcionários e jogou o celular no chão. Depois, segundo conta, os seguranças foram atrás dela e a xingaram com expressões racistas. Ela organiza um protesto na internet. A empresa afirma que analisa o caso e não viu atitudes discriminatórias.

Postar um comentário

0 Comentários