Verba de viagem da Segundona foi dada como garantia
em contrato
RODRIGO MATTOS
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Carente de recursos, o Brasileiro da Série B serviu
para viabilizar um contrato milionário da Copa-14 para agência de viagens de
empresário ligado a Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF e do COL (Comitê
Organizador Local).
O dinheiro das viagens da Segundona foi usado como
garantia para o acordo.
Como a Folha revelou, Claudio Abrahão é dono da Top Service, que obteve os direitos
de comercializar os pacotes VIP do Mundial. Antes de ganhar esse contrato, ele
havia vendido um apartamento por um terço do preço de mercado para Teixeira.
Sob a gestão do ex-cartola, a CBF deu ajuda para
que a Top Service ganhasse, juntamente com a Traffic, esse contrato de
hospitalidade do Mundial, que inclui serviços de turismo e ingressos.
Fez isso usando o contrato da Série B como
garantia.
Explica-se: para ganhar esse direito, era preciso
que as duas empresas apresentassem garantias financeiras de US$ 40 milhões (R$
72 milhões) à Match Hospitality, parceira comercial da Fifa.
A Top Service tem capital social de apenas R$ 100 mil,
0,14% desse valor.
Então, a empresa fez um empréstimo de valor não
revelado com o Banco Safra, como mostra documento da empresa de maio de 2011.
Era o período em que ocorria a concorrência da
Match.
A garantia do empréstimo foi dada pela Pallas
Operadora Turística, que, como a Top Service, faz parte do Grupo Águia, cujo
dono é Wagner Abrahão, amigo de Teixeira.
Documento da Pallas diz que a garantia são
"direitos creditórios [...] relativos à logística do transporte dos
jogadores do Campeonato Brasileiro da segunda divisão".
A Série B é organizada pela CBF. A confederação
negocia, diretamente ou indiretamente, os direitos comerciais do torneio.
Depois, paga clubes e despesas. As rendas são de direitos de transmissão de TV
e placas publicitárias.
Boa parte do dinheiro é usada para pagar passagens
e diárias em hotéis para os times. Quem presta os serviços na competição é a
Pallas.
"Recebemos 28 passagens e acomodações que são
feitas diretamente pela Pallas. Não pagamos nem participamos de nada", contou
o presidente do Vitória, Alexei Portela, que disputa a Série B.
Ou seja, os clubes não têm nenhum domínio sobre
quanto é pago por suas viagens. Quem pode controlar isso é a Pallas e a CBF.
Após o pagamento das despesas de viagens, o
dinheiro que sobra é distribuído para os clubes. Assim, cada um deles recebe R$
180 mil de cota mensal -cerca de R$ 1,8 milhão por toda a competição.
"Acho que é pouco. A Série B tem crescido
muito", reclamou o presidente do Sport, Gustavo Dubeux. "Essa cota
mensal não dá nem para pagar três jogadores."
Clubes da Série A, como Flamengo e Corinthians,
ganham até R$ 100 milhões.
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