Gastos na Câmara sustentariam 221 famílias


Representantes consumiram R$ 345 mil com combustível, material de escritório e postagem no ano passado


Os vinte vereadores de Sorocaba gastaram no ano passado R$ 345.802,18 em aluguel de máquina de fotocópias (xerox), combustível, material de escritório e postagem. O valor é 21,39% mais alto que as despesas de 2010 (R$ 284.851,3).
Em síntese, para transportar seus assessores e eles mesmos em carros oficiais a seus redutos, copiar documentos, fazer memorando e enviar cartas, a Câmara de Sorocaba usou recursos que poderiam ser destinados à construção de 23 casas populares de 42 metros quadrados. “Hoje só há limite para selos de cartas. Havia um teto para os selos de postagem, mas uma resolução derrubou esse dispositivo”, diz o ex-presidente da Casa, Marinho Marte (PPS).

VEJA AQUI OS CAMPEÕES DE GASTOS
O número é tão exorbitante que, se comparado ao valor da Cesta BOM DIA – R$ 130 – os gastos dos vereadores de Sorocaba dariam para sustentar, durante um ano, 221 famílias.O vereador Ditão Oleriano (PMN) é o campeão de gastos em material de escritório. Sozinho, usou R$ 14.153,90 de recursos públicos em papel e tinta para impressora.
Emílio Souza de Oliveira (PSC), o Ruby, vem em segundo, com R$ 13.062,56, seguido de Rozendo de Oliveira (PV), que usou R$ 11.934,81. Em contrapartida, o vereador Francisco Martinez (PSDB) utilizou “apenas” R$ 3.683,67. Uma diferença de quase R$ 10 mil. O que explica tanta disparidade? “Eles vão falar que trabalham muito”, admite Marinho Marte.
Investigação / O promotor Orlando Bastos iniciou uma investigação sobre a suposta farra de gastos na Câmara - como o uso de veículos oficiais para fins particulares, o que irritou alguns membros da Casa. “Vejo isso como uma invasão de outro poder sobre a Casa”, profere Hélio Godoy. “Trabalho muito e tenho que divulgar minhas ações”. 
O vereador do PSD é o primeiro colocado em gastos com combustível. Utilizou R$ 7.969,18 com o uso do carro oficial, um Gol branco do Poder Público - uma média de 664 litros por mês (aproximadamente 6640 km). Geraldo Reis, cujo reduto eleitoral é o distante bairro de Brigadeiro Tobias, foi o segundo no ranking, com R$ 7.389,36. Em terceiro lugar, aparece Ditão Oleriano, com R$ 5.535,08.
O rei dos selos é Luís Santos, que consumiu R$ 10.851,95 com postagem. “E neste ano, vou gastar mais”, afirma ele. O ex-vereador Claudemir Justi (PSDB) gastou R$ 3.977,56 em janeiro, quase R$ 1.500 acima dos demais. “Renovei os cartuchos de impressoras e usei selos para avisar os eleitores de que estava me afastando da Câmara, para a entrada do meu colega Paulo Mendes”, justifica ele.
Por outro lado, Justi está entre os parlamentares que mais economizaram em 2011. Bastos promete que vai fiscalizar os vereadores. “Qualquer bem público deve ser utilizado no exercício da função e não para fim pessoal e alavancagem política”, diz. “Abrirei procedimento para investigar a prestação de contas”, garante.
Telefonemas são controlados pela Casa
Os telefonemas de cada vereador não podem passar o limite de R$ 1200. Quando o uso se aproxima do teto, uma funcionária visita o gabinete e avisa.
10.507 reais foram gastos pelos 20 vereadores de Sorocaba em material de escritório em janeiro, um mês de recesso. Parlamentares dizem que imprimem os ofícios, após visitas, e não estão de férias
Promotor pede que eleitor fique atento
Orlando Bastos pede à população que fique atenta aos vereadores gastões de ano de eleições. As contas estão no canal vereadores/ prestação de contas do site:
 www.camarasorocaba.sp.gov.br.
O outro lado
Luís Santos (PMN)
“Encaminho a todos os meus eleitores os relatórios de prestação de contas, são mais de 10 mil no mailing. São pessoas que vêm no meu gabinete, preciso dar uma satisfação ao eleitorado. Não há aumento mês a mês. Não envio cartões em épocas especiais. Envio por volta de 1.700 cartas por mês. O padrão é sempre o mesmo. Desde o início de meu mandato, os eleitores recebem um envelope em casa com as denominações de rua, as declarações de utilidade pública a instituições, emendas a projetos de lei e projetos de lei, que foram 35 entre 2009 e 2011. Segue também um jornal, com notícias sobre minha atividade aqui, como parlamentar. É um recurso que a Câmara coloca à disposição e que tenho que usar. Pode verificar que os valores não se alteram. Neste mês vou gastar mais.”
Helio Godoy (PSD)
“Uso o carro para a percorrer os bairros que fazemos a regularização fundiária. Vou em bairros sem energia, com faturas em duplicata, ou para resolver questões de falta de água. Para se ter uma ideia, só sobre regularização fundiária, são 54 bairros  visitados periodicamente. Nesta semana, visitei doze bairros, como o São Marcos, Refúgio, Vitória Ville, Central Parque, São Bento, Jd. Baronesa, Julio de Mesquita, além de Ipiranga e Nova Esperança. Fui à Cohab de Campinas e São Paulo para colocar em prática o projeto de regularização fundiária. Acompanhei a entrega das escrituras aos moradores do Jardim Ipiranga, o primeiro atendido. O veículo oficial é utilizado para evento público. Uso, também, meu veículo particular, pagando pelo meu combustível.”
Ditão Oleriano (PMN)
Eu tenho todas as notas fiscais dos gastos. Apresentei muitos projetos de lei. Foram necessárias muitos papéis para imprimir esses projetos. Quem trabalha mais, gasta mais em material de escritório. A imprensa é dura com a gente, mas acho injusto. Faço tudo de acordo com as regras. Imprimo material para entregar aos eleitores, tenho o dever de mostrar o que faço na Câmara. Veja aqui [ele mostra uma lista de projetos de sua autoria]. São meus projetos que viraram lei. Isentam desempregados da taxa de inscrição em concurso público municipal, acaba com as pulseiras de sexo, isenta as igrejas católicas e evangélicas da taxa de lixo, proíbe a cobrança de estacionamento de parentes de pacientes internados em hospitais conveniados. Muitas leis, muito papel.”

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