Mercados operam na expectativa de reestruturação da dívida grega



Daniela Milanese
Os mercados globais operam com a expectativa de que a Grécia consiga reestruturar sua dívida privada. Na prática, a operação deve ser um calote, algo já plenamente aguardado pelos investidores e visto, até mesmo, como o melhor caminho, nas atuais circunstâncias.
Termina hoje, às 17h (de Brasília), o prazo para que os credores gregos se manifestem sobre a oferta de troca de dívida feita pelo governo, que embute perdas líquidas de 75%. Analistas acreditam que a adesão será suficiente para que a operação possa ser finalizada. Entretanto, a Grécia terá de obrigar todos os investidores a aceitarem a proposta, usando o mecanismo das cláusulas de ação coletiva. Isso significa um default formal.
A imprensa internacional diz que o nível de participação estaria perto de 60%, mas os resultados da operação só devem ser conhecidos amanhã. A partir dos números da adesão, representantes do Eurogrupo realizarão uma teleconferência nesta sexta-feira, às 10h (de Brasília), para definir o formato final da reestruturação.
Um potencial risco para hoje seria um atraso do cronograma, algo não descartado, diante do intrincado e longo processo envolvendo a Grécia.
Analistas já consideram que o default forçado é a melhor saída para o país, pois reduziria de forma mais profunda seu endividamento. A notícia do calote também é aguardada por fundos de hedge que montaram posições para lucrar com o calote da Grécia no mercado de derivativos de crédito (CDS), em mais um episódio polêmico desse instrumento de proteção.
As expectativas com a Grécia encobrem as reuniões de política monetária da Europa. O Banco da Inglaterra e o Banco Central Europeu devem manter os juros nos atuais pisos históricos e aguardar para tomar novas medidas. O destaque fica com a entrevista coletiva de Mario Draghi, presidente do BCE, às 10h30.
Para os investidores brasileiros, os passos do BCE ficaram ainda mais importantes depois que o governo reagiu fortemente à injeção de liquidez realizada na zona do euro na semana passada, declarando uma “nova guerra cambial”. Com o objetivo de aliviar o sistema bancário da região, a operação acaba estimulando o fluxo de capital para o Brasil e a alta do real.
Acredita-se que o Copom possa ter entrado na batalha ao reduzir de forma mais intensa os juros ontem, em 0,75 ponto porcentual, para 9,75%. A medida também vem depois de dados mais moderados do Produto Interno Bruto de 2011, com crescimento de 2,7%, abaixo das intenções do governo.
Segundo o “The Wall Street Journal”, o Federal Reserve deve ser o próximo a mostrar nova arma em breve. O Fed estaria estudando um programa diferente de compra de títulos no mercado, para estimular a economia. Seria o afrouxamento monetário “esterilizado”, pelo qual o BC dos EUA imprimiria dinheiro novo para adquirir papéis de longo prazo, mas tomaria esses recursos emprestados por curtos períodos de tempo com juros baixos.

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