Presidente de ONG compra carro com dinheiro público


A Assist - Cooperativa de Trabalho dos Auxiliares e Assistentes na Área de Saúde, contratada pela ONG OSSPUB, entidade responsável pelo gerenciamento da rede de Saúde em Ribeirão Pires, pagou um carro de luxo com dinheiro público para o presidente da organização, Edison Dias Júnior. Essa é uma das irregularidades apontadas nas contas da OSSPUB em auditoria feita por Olavo Tarricone Filho, do conselho administrativo. O relatório será enviado ao Ministério Público.

A cooperativa depositou, em setembro de 2011, R$ 20 mil na conta de uma concessionária de veículos de luxo em São Bernardo para efetuar a compra de Toyota Corolla, modelo 2011/2012, cujo valor total é de R$ 72 mil. O contrato da ONG com a Prefeitura é de R$ 29,5 milhões por ano para gerenciar o Hospital e Maternidade São Lucas e as residências terapêuticas. A organização subcontrata a cooperativa (é seu único contrato), que oferece mão de obra especializada. Portanto, é submissa às disposições da OSSPUB. Grosso modo, a Prefeitura paga pelo serviço da organização, que repassa para a cooperativa.
Segundo e-mails que o Diário teve acesso com exclusividade, Edison pediu R$ 20 mil para pagamento de quatro médicos ligados à cooperativa, no dia 23 de setembro, em caráter de urgência.
Mas, no dia 29 de setembro de 2011, Fabiane Peçanha, diretora-presidente da cooperativa, realizou TED (Transferência Eletrônica Direta) para a conta da concessionária. Ela alega que foi induzida ao erro. O contador da coorperativa pediu para Angélica Dias, mulher do líder da OSSPUB, comprovantes de pagamento dos médicos. Mas esse documentos não existiam, pois o dinheiro fora para a conta bancária da concessionária de veículos. "a pedido do Edison", ressaltou Fabiane.
Para compra do Corolla, o presidente da ONG deu um veículo no valor de R$ 25.350, prometeu depósito no valor de R$ 20 mil (o que totaliza R$ 45.350 de entrada - veja fac símile ao lado) e realizou financiamento a ser pago em doze parcelas de R$ 2.611. Com todos os pagamentos efetuados, o Corolla foi liberado pela concessionária no dia 5 de outubro, às 16h26.
A equipe do Diário esteve na terça-feira na empresa que vendeu o automóvel e a transação foi confirmada. "O senhor Edison nos trouxe um comprovante de depósito no valor de R$ 20 mil feito no dia 29 de setembro (2011). Ele (o documento) veio em nome da Cooperativa de Trabalho dos Auxiliares e Assistentes na Área de Saúde (...) A entrada do carro, mais o financiamento e mais os R$ 20 mil, nós fizemos a liberação do veículo no dia 5 (de outubro de 2011), às 16h26", afirmou a gerente de vendas da concessionária, Luciana Guelere.
No dia 25 de outubro, 20 dias após o carro ter sido liberado, a loja identificou outro depósito no valor de R$ 20 mil, agora em nome de Edison. Um forte indício de tentativa de consertar o repasse irregular de dinheiro público. "Passado quase um mês (do primeiro depósito), ligou aqui o senhor (José) Mauro (Comissário, diretor-financeiro da OSSPUB), que é pessoa de confiança e trabalha para ele (Edison), e disse que o Edison havia feito um depósito por engano na nossa conta e que era para a gente devolver esse dinheiro para a cooperativa", relatou Luciana.
Uma semana depois, a mulher de Edison, Angélica e o irmão dela, Ricardo Dias, foram à loja. "Queriam falar sobre o caso comigo. Esclareci e mantive a postura (de não devolver o dinheiro para a cooperativa). Ela até comentou comigo que era para ajudá-la porque (a transação) poderia caracterizar lavagem de dinheiro, pois era um dinheiro público", declarou a gerente da concessionária.
Para devolver o montante, a revendedora de veículos pediu declaração registrada em cartório relatando o equívoco, os dados bancários de Edison e a apresentação do comprovante de depósito original. A loja ainda aguarda a documentação do presidente da OSSPUB para devolver os R$ 20 mil.
Edison diz que desconhece depósito de cooperativa
O presidente da OSSPUB, Edison Dias Júnior, afirma que não sabe como os R$ 20 mil da Cooperativa de Trabalho dos Auxiliares e Assistentes na área de Saúde foram parar na conta da concessionária de veículos, onde ele comprou Toyota Corolla no valor de R$ 72 mil. "Se foi, não sei como foi", ressalta o comandante da ONG.
Ele afirma que realizou depósito, no dia 25 de outubro, 20 dias após a retirada do veículo. Segundo a concessionária, não havia possibilidade de entregar o automóvel se não estivesse quitado.
Edison questiona a atuação da concessionária. "Me surpreende a loja receber o valor de uma empresa que não tem vínculo com meu nome", observa, referindo-se à cooperativa que tem contrato com a ONG que comanda. Cooperativa e concessionária trocaram telegramas sobre os depósitos, o que comprovou a transação direta entre elas. Sobre mais esse fato que aponta irregularidade, o líder da OSSPUB foi evasivo. "Desconheço." A mesma resposta foi dada quando indagado sobre a ida de sua mulher, Angélica Dias, à loja para tentar reverter a transação bancária.
Prefeitura estuda penalizar organização e exige explicações
O prefeito de Ribeirão Pires, Clóvis Volpi (PV), disse que vai chamar o presidente da OSSPUB, Edison Dias Júnior, para explicar o depósito de R$ 20 mil feito na conta da concessionária de veículos por sua subcontratada, a Cooperativa de Trabalho dos Auxiliares e Assistentes na Área de Saúde.
"Só sabemos de algo desse tipo quando a prestação de contas anual for efetuada. Se forem comprovadas irregularidades, vamos penalizar", ressalta o chefe do Executivo.
O secretário de Saúde e Assuntos Jurídicos, Allan Frazatti Silva, explicou que a ONG pode responder a processos administrativos e na Justiça. "Administrativamente, pode ser feito com multa e declaração de inidoneidade", declarou. A ONG também pode responder por processo penal de corrupção.
Frazatti ressaltou que a OSSPUB precisa explicar para o Executivo os motivos que ocasionaram a transação bancária. "Eles têm prestação de contas em análise. Depois disso já vamos ver com outros olhos", salientou.

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