São Roque: Imagem antiga de santa é furtada de capela



Polícia trabalha com hipótese de motivação política ou furto destinado ao mercado de colecionadores de arte sacra
 Jornal Cruzeiro do Sul
Leandro Nogueira
leandro.nogueira@jcruzeiro.com.br

Uma imagem de Nossa Senhora do Carmo com cerca de três séculos e sem réplicas foi furtada da capela do bairro do Carmo, em São Roque. A santa é símbolo de lutas e conquistas de descendentes de escravos que esperam ver a comunidade reconhecida como Quilombola e existe uma disputa em torno de quem receberá a titulação dos seis alqueires de terra onde vivem 750 pessoas. É neste contexto que ocorreu o furto da santa padroeira da igreja do bairro, localizado em área rural.

A porta arrombada e a ausência da imagem foi percebida por fiéis às 18h30 da terça-feira, mas a suspeita é que o crime tenha ocorrido durante aquela madrugada. O cofre de madeira com dinheiro que poderia ser facilmente violado ficou intacto. "No momento acredito que não tenha sido tanto um furto de colecionador, mas de vingança para assustar a comunidade e calar a boca de quem a está defendendo", disse ontem o delegado titular de São Roque, João Lúcio Pretti.

O delegado enfatiza que são dois caminhos a serem percorridos e nenhum deles. "O primeiro, um problema político da própria comunidade porque neste momento estão se organizando para fundar uma nova associação. Uma reunião sobre o assunto ocorreu no domingo e na segunda-feira a imagem desapareceu, uma representação da própria comunidade. O outro caminho é ter servido a um colecionador, que tenha levado para algum local em razão do valor histórico da imagem", declarou. Hoje existem duas associações que disputam a representatividade dos moradores do bairro do Carmo, cujos membros são remanescentes, mas deixaram de residir no local. Nas reuniões do último final de semana, os moradores informaram aos líderes das duas associações que irão formar uma nova entidade, aberta à participação das demais. Os seis alqueires de área serão de titularidade da associação que representará o quilombola.

O boletim de ocorrência informando do furto foi registrado na noite de terça-feira pela coordenadora da igreja, Aparecida Donizeti do Carmo Borba, 46 anos. Ontem o delegado João Lúcio Pretti esteve na comunidade para colher depoimentos. "Temos alguns suspeitos, pessoas envolvidas com a própria comunidade", afirmou o delegado, mas deixou de dar outros detalhes justificando que poderiam atrapalhar a investigação. Pretti declarou que há vestígios de arrombamento a ser constatado pela perícia na porta lateral da igreja. Segundo ele, há evidências que após ter sido frustrada a tentativa da porta ser destrancada com uma chave, a porta foi empurrada até a fechadura estourar. 

A possibilidade do furto ter sido praticado durante o dia é descartada pelo delegado, já que durante esse período a própria comunidade zela pela capela e ali todos se conhecem. A imagem foi vista no altar pela última vez na noite da segunda-feira, quando os fiéis estiveram no local para rezar o terço. O delegado Pretti diz que está empenhado para esclarecer o mais breve possível porque a Polícia reconhece o valor da comunidade do Carmo e da importância que a santa tem para ela. "Não se trata de uma simples imagem, já que em torno dela existe toda uma história social, a comunidade foi criada em torno da imagem que dá o nome do bairro", declarou.

Postar um comentário

0 Comentários