Tragédia altera cenário da campanha presidencial


Crime de Toulouse tira força de retórica crítica a estrangeiros adotada por Sarkozy para atrair votos da extrema direita


Andrei Netto / correspondente / Paris
PARIS - O crime de Toulouse - que teria motivações xenofóbicas, segundo hipótese da polícia -, ocorre no momento em que a campanha ao Palácio do Eliseu centrava-se na discriminação aos estrangeiros no país. Desde que entrou em campanha eleitoral, o presidente Nicolas Sarkozy passou a criticar os muçulmanos, numa tentativa de recuperar os votos perdidos para a candidata de extrema direita, Marine Le Pen. Ele disse que a França "tem estrangeiros demais".
Sarkozy e a mulher, Carla Bruni, depois de ato em memória às vítimas em sinagoga de Paris - Thibault Camus/AP
Thibault Camus/AP
Sarkozy e a mulher, Carla Bruni, depois de ato em memória às vítimas em sinagoga de Paris

A relação entre o crime e a campanha à presidência foi feita por cientistas políticos horas após o crime. Para Dominique Reynié, professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po), o debate político foi dominado pelo populismo. "O tom da campanha não poderá mais ser o mesmo", disse ele. "A campanha foi dominada por um tom extremamente agressivo e uma retórica populista muito presente. Essa retórica vai ter de parar. Vai haver um pedido de pacificação."
Para Reynié, o crime faz parte de uma onda de extremismo de direita que se espalha pela Europa e terá implicações na eleição presidencial francesa. "Estou convencido de que é um evento maior que vai reorientar completamente a campanha", afirmou. Para o analista, Sarkozy não sai necessariamente perdendo com o crime, porque todo uso político do ataque de Toulouse será sancionado pelo eleitorado. "O que aconteceu até aqui na campanha será quase completamente apagado e outra campanha vai começar", acredita.
Nesta segunda-feira, três dos quatro principais candidatos correram a Toulouse para manifestar sua solidariedade. Primeiro a chegar, Sarkozy afirmou que "a barbárie e a crueldade não podem vencer, porque a república é muito mais forte". Seu maior opositor, François Hollande, líder do Partido Socialista (PS) e favorito das pesquisas, usou palavras semelhantes. "Não é uma escola, não são os judeus ou uma cidade que foram atingidos. Foi a França inteira, e, logo, a república", afirmou aos jornalistas.
À noite, os dois candidatos confirmaram a suspensão de suas campanhas e se reuniram em uma sinagoga de Paris para prestar homenagem às vítimas. Segundo Emmanuel Rivière, cientista político do instituto de pesquisas TNS Sofres, a opção reflete também uma estratégia eleitoral. "Há um risco de que qualquer palavra seja interpretada como uma derrapagem ou uma tentativa de usar o crime", advertiu.
A 34 dias do primeiro turno das eleições presidenciais, Hollande tem 30,5% das intenções de votos. Ele é seguido de Sarkozy, com 27,5%, segundo o instituto LH2.
Com Reuters

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