Candidatos fazem novas denúncias ao MP


Os concorrentes foram ao Fórum para registrar suas reclamações - Por: Emídio Marques


 Jornal Cruzeiro do Sul
Leandro Nogueira
leandro.nogueira@jcruzeiro.com.br

O assédio moral e cobranças além das previstas em edital com o suposto objetivo de eliminar os candidatos mais velhos durante os Testes de Aptidão Física (TAF) para ingressar na Guarda Civil Municipal (GCM) de Sorocaba. Essas são algumas das reclamações de candidatos que foram submetidos às provas do processo seletivo. Somente ontem, ao menos mais quatro deles protocolaram denúncias ao Ministério Público (MP) pedindo a anulação do concurso, o que faz com que cheguem a sete as denúncias pedindo a anulação do concurso até o momento. Alguns dos que entraram em contato com a reportagem de jornal Cruzeiro do Sul entendem terem sido assediados moralmente porque receberam tratamento de escola militar antes mesmo da aprovação.
 
Há ainda os que desconfiam que o teste físico foi dificultado aos que aparentavam mais idade, como se houvesse a intenção de ingressar os mais jovens na corporação. O edital do concurso não limitava a idade e previa que os mais velhos teriam, inclusive, preferência em caso de empate, como dispõe a lei federal conhecida como Estatuto do Idoso. Tanto a Fundação Vunesp, responsável pelo concurso, quanto a Prefeitura, não responderam aos questionamentos da reportagem sobre o assunto até o fechamento desta edição.

"Tenho cabelo grisalho e meus colegas até comentaram porque não havia colorido o mesmo, aparentemente a pré-seleção já começava aí", relatou Rafael Moura, 36 anos, formado em Educação Física e que também foi reprovado no testes de flexões. Ele diz que ficou admirado ao ver no edital que não existia limite de idade, já que os concursos para militares exigem que o candidato tenha, no máximo, 28 anos. "Fiquei em 23º na prova objetiva entre os seis mil candidatos", afirmou.
 
Para ele, havia examinadores que diziam aos mais velhos que os exercícios estavam sendo executados de maneira errada, obrigando-os a fazer mais repetições do que poderiam e, com isso, acabando desclassificados. Um dos candidatos que protocolou denúncia ontem ao MP foi o agente de trânsito Luiz Carlos Cravo de Oliveira, 39 anos, que também afirma suspeitar que foi desclassificado por causa da idade. Segundo ele, exigiram tantas repetições nos primeiros exercícios que nos últimos ele não conseguiu executar por conta do desgaste físico.

O analista de sistemas Gabriel de Azevedo Oliveira, 20 anos, disse que quando fazia a última flexão de braço o examinador disse baixinho que ele não iria conseguir. "Houve pressão psicológica, que ele não queria que eu passasse e fazia questão que isso ficasse claro para mim", diz Gabriel, que também protocolou denuncia no MP ontem à tarde. Segundo ele, parte dos examinadores era formada por policiais militares e a forma áspera como chamavam, gritavam e arrancavam o número do peito dos candidatos reprovados deixava nítida a pressão psicológica militar durante um teste de concurso público.
 
"O que achei mais estranho foi ver candidatos com quadril totalmente levantado tendo os movimentos validados", declarou. Ele sentiu-se discriminado porque não é magro, apesar de praticar arte marcial e musculação. "O cara não quis me passar pelo meu porte físico, que não é de atleta", crê. Gabriel diz que tem o sonho de entrar para a GCM desde os dez anos de idade. 

Outro candidato, Rodrigo Antunes Souza, diz que já realizou vários concursos aplicados pela Fundação Vunesp e nunca sentiu-se tão lesado como desta vez. "Se é um concurso, porque não deixar filmar? Acho que tem que haver transparência para que não fique a dúvida de fraude. O que mais me deixa revoltado é o tom de ironia com que eles tratavam os candidatos." Na opinião de Rodrigo, "como se fossem vagabundos, pedindo para arrancar o tênis e correr rapidinho para medir a altura, pedindo para ficar olhando nos rostos deles enquanto falavam e tomando os celulares, dizendo que lá era proibido filmar. Pareciam militares, isso se não forem", descreveu. 

Uma candidata, Ellen Caroline Lopes, reclamou que enquanto algumas entre as mulheres tiveram a liberdade de ir ao banheiro, outras foram submetidas aos testes sem ter tido esse direito. "Aconteceu comigo, pois questionei um avaliador sobre ir ao sanitário no intervalo de um teste a outro e o mesmo me impediu, mas permitiu que outras candidatas à minha frente fossem. Desde aí, senti um certo tom de parcialidade", denuncia ela. Reclama que foi desclassificada por dois milésimos de segundo, "fato que pode ser subentendido com falha humana ao apertar o cronômetro, considerando que trata-se de uma contagem irrelevante", argumenta.
 
Vereador quer explicações 
O vereador Marinho Marte (PPS) está cobrando explicações da Prefeitura sobre a aferição de altura e testes de aptidão física do concurso, realizados no final de março e início de abril. "Segundo vários candidatos que se submeteram à segunda fase do concurso, inclusive dois que já ingressaram com representação no Ministério Público, os testes foram realizados de forma muito subjetiva, prejudicando candidatos aptos", afirma Marinho Marte, que, em seu requerimento, cita as reportagens do jornal Cruzeiro do Sul que tratam da questão.

O vereador observa que os testes de aptidão física podem dar margem à subjetividade, uma vez que são aplicados por diversos avaliadores em dias distintos. "Muitos candidatos se queixaram que os critérios para aplicação dos testes não eram claros, por isso estamos solicitando à Prefeitura que analise os parâmetros adotados, com o objetivo de saber se procedem essas denúncias", afirma Marinho Marte. Para o vereador, se elas forem procedentes, é preciso anular a segunda fase do concurso e realizar novos testes de aptidão física para todos os candidatos habilitados na primeira fase.

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