Índios que vivem às margens do Rodoanel vão para Tapiraí



Área foi escolhida pelos cerca de 1.500 indígenas. Mudança ainda não tem data para começar

 Jornal Cruzeiro do Sul
Marcelo Andrade
marcelo.andrade@jcruzeiro.com.br

Cerca de 1.500 índios da etnia Guarani, que atualmente vivem em três aldeias localizadas na região onde foi construído o trecho sul do Rodoanel, nas margens da represa Billings, em São Paulo, serão transferidos para um área na cidade de Tapiraí, na região de Sorocaba, como forma de compensação ambiental, conforme acordo entre a empresa estadual Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa) com a Fundação Nacional do Índio (Funai). O novo local foi definido pelos próprios indígenas, sendo que o processo de aquisição da área está sob coordenação da Funai e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). O acordo previu transferência de R$ 2 milhões para cada uma das três tribos, ou seja, R$ 6 milhões, para a aquisição das novas reservas. A presença das aldeias da zona sul foi, em parte, uma das complicações no processo de licenciamento ambiental que antecedeu o Rodoanel, que levou cinco anos para sair.

A informação da transferência das tribos para a região de Sorocaba foi confirmada pela Funai, em Brasília. Segundo o órgão, por meio de sua assessoria de imprensa, há cerca de 20 dias, os índios escolheram a área. O local exato e a sua extensão não foram informados, mas apresenta características semelhantes à região onde os índios habitam, assim como pela possibilidade de compra da terra. A necessidade da compra dessa área se dá, ainda segundo informou a Funai, pela condição de confinamento em que se encontram os Guarani da Terra Indígena Jaraguá. "O espaço é insuficiente para o número de famílias que nela habita. A terra indígena tem apenas 1,75 hectares. Foi homologada em 1986 quando havia apenas uma família", ressalta o órgão em nota, que fez questão de argumentar que os índios não serão "desalojados", já que eles não estão sendo obrigados a deixar o local e a medida atende à reivindicação dos próprios indígenas. Ainda não há uma data exata para a transferência, informa a Funai.

Há mais de mil índios vivendo nas aldeias Barragem (900 habitantes) e Krukutu (300), na região de Parelheiros, a pelo menos 8 quilômetros do Rodoanel (nas margens da Represa Billings). A outra aldeia, a Jaraguá (com 300 habitantes, na zona norte, fica entre as rodovias Bandeirantes e Anhanguera e também foi beneficiada. Segundo a Funai, eles vivem do artesanato, da ajuda de organizações não-governamentais (ONGs), de empregos no setor público e, também, da caça, da pesca e de pequenos viveiros. 

O Rodoanel, ainda segundo o órgão responsável por coordenar o processo de formulação e implementação da política indigenista do Estado brasileiro, agravou os transtornos originados pelo adensamento de Parelheiros - que teve a população aumentada em 84% entre 1991 e 2000. Reduziu o espaço para a caça e o número de animais e tirou a tranquilidade.
 
Compensação e ocupação 
A área atual das aldeias Krukutu e Barragem começou a ser ocupada, segundo um estudo divulgado pela Universidade de São Paulo (USP), por tribos guaranis na metade dos anos 1950. Índios vindos do Paraná se fixaram na região após contato com um sitiante japonês que ocupava as terras. O homem teria voltado para o Japão, deixando a propriedade com os guaranis. Ao mesmo tempo, a população de Parelheiros cresceu sem controle. 

Já presença das aldeias da zona sul foi, em parte, uma das complicações no processo de licenciamento ambiental que antecedeu o Rodoanel, que levou cinco anos para sair. Na tentativa de se chegar um consenso em torno do caso, houve a realização de um acordo da empresa estadual Desenvolvimento Rodoviário S/A (Dersa) com a Funai, no qual previu transferência de R$ 2 milhões para cada uma das três tribos. Depósito que tem como objetivo adquirir novas áreas para os indígenas e, com isso, ampliar as áreas hoje ocupadas por eles. Desde então, várias áreas no Estado chegaram a ser apresentadas aos indígenas e alvo de análises por parte da Funai e do Incra. Impasse que se arrastou até 20 dias atrás. 

Para o sociólogo Carlos Eduardo Xavier, o local definido possui características semelhantes ao atualmente ocupado pelos indígenas, por se tratar de área de Mata Atlântica, porém é necessário um acompanhamento por parte da Funai, de como se dará a integração entre o espaço físico e social. "De repente pode haver uma grande integração ao novo ambiente, como pode acontecer um descompasso, sobretudo com outros moradores da região. Vai depender muito de como será conduzido esse processo de integração", ressaltou. O sociólogo também defende que haja um planejamento para longo prazo com o objetivo de evitar nova compressão das aldeias pela expansão urbana. "Hoje é grande, mas daqui a dez anos pode ser pequena", avaliou.

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