Operação Pandora: Em depoimento à Justiça, Ivanilde Vieira nega as acusações e diz ter sido coagida



A empresária abriu ontem a série de interrogatórios dos 8 réus envolvidos no suposto esquema de corrupção

 Jornal Cruzeiro do Sul

Marcelo Andrade
marcelo.andrade@jcruzeiro.com.br

A ex-presidente regional do Sindicato do Comércio Varejista dos Derivados de Petróleo (Sincopetro), Ivanilde Vieira, considerada a principal pivô do suposto esquema de corrupção na concessão de alvarás para funcionamento de postos de combustíveis em Sorocaba, negou ontem, em depoimento à Justiça, que teve qualquer tipo de participação em atos de corrupção e desqualificou todo o depoimento dado à Polícia Civil e ao Ministério Público (MP), dentro da chamada Operação Pandora, diante da acusação de que teria agido sob coação por parte de representantes desses dois órgãos.

Ela desafiou a uma acareação os delegados que atuaram no caso. Alegou ainda que teria sido induzida a acusar integrantes da administração pública por eventual participação no esquema. A indução teria partido de um de seus ex-advogados, já falecido, que teria interesse político, já que na ocasião ele integrava um dos partidos de oposição à reeleição do prefeito Vitor Lippi (PSDB). O ato de Ivanilde, de mudar a própria versão dos fatos, surpreendeu a promotoria. Já o delegado do Grupo Antissequestro, Wilson Negrão, disse que não irá se manifestar sobre as acusações feitas por Ivanilde. Assim como os promotores do Gaeco.

Ivanilde Vieira abriu ontem à série de interrogatórios dos oito réus envolvidos no suposto esquema de corrupção. Além da ex-presidente regional da Sincopetro, o juiz responsável pelo caso, Jayme Walmer de Freitas, assim como os promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), ouviram o ex-secretário de Habitação e Urbanismo, José Dias Batista Ferrari, e o servidor público Jefferson Tadeu Palazan Aily.

O interrogatório de Ivanilde durou cerca de duas horas e meia e pode ser acompanhado pela imprensa, já que houve a quebra do segredo de Justiça. Durante esse período, ela que é acusada pelo MP por crimes de formação de quadrilha, corrupção ativa (por três vezes) e extorsão, negou qualquer participação em esquemas de cobrança de propina para facilitação na liberação de alvarás de postos de combustíveis. E, logo no início, passou a acusar a atuação da Polícia Civil e do Ministério Público. Disse que quando foi presa, no dia 28 de setembro de 2009, no Shopping Villa-Lobos, na zona oeste de São Paulo, onde, ainda segundo ela, se reunia com um cliente, iniciou o seu calvário.

Ela acusa policiais civis de terem, desde o momento da prisão até o primeiro interrogatório, lhe privado do direito de manter contato com advogados, marido e outros integrantes da família. Acusou os policiais que atuaram na operação e o delegado responsável pelas investigações e titular do Grupo Antissequestro, Wilson Negrão, de terem a obrigado a prestar depoimento sob coação. Disse à Justiça que o delegado teria dito à ela que, caso não contasse tudo o que sabia, iria pressionar seus familiares. 

Mais acusações 
Ivanilde foi além. Disse que Wilson Negrão a teria ameaçado de colocar provas incriminatórias em seu veículo e acionar policiais militares para efetuar eventual prisão, caso ela não revelasse tudo o que sabia sobre o caso, alvo da investigação. "O que está ali (no documento de acusação) não é verdade", declarou. Diante desse depoimento, a promotora do Gaeco, Maria Aparecida Rodrigues Mendes, então insistiu no questionamento: "A senhora disse que as declarações teriam sido feitas porque foi coagida?" "Sim. Desafio o delegado a uma acareação. Falo tudo o que disse aqui", disse. Porém, ela não detalhou como teria revelado tais fatos que, inicialmente, incluíram a participação dos demais acusados. Questionamentos que também não foram feitos pelo magistrado e nem pelos promotores. 

Questionada pelo juiz Jaime Walmer de Freitas sobre o pagamento de cerca de R$ 80 mil que ela teria feito ao então secretário de Habitação, José Dias Batista Ferrari, como propina para a liberação de alvará de um posto de combustível, no bairro Campolim, conforme acusação, Ivanilde disse que não isso não aconteceu. Ela negou que o pagamento teria sido feito por meio da empresa Beltz, de sua propriedade, e que Ferrari teria exigido o valor para a campanha de reeleição de Lippi.

Já em relação ao pagamento de cerca de R$ 25 mil ao ex-secretário de Governo, Maurício Biazzotto Corte, ela disse que o dinheiro teria sido para pagar Valéria Cavaller, que era sua secretária e casada com Biazzotto. 

Caixa dois e campanha 
Ivanilde negou que a empresa Beltz operava com caixa dois, sobretudo para que o dinheiro fosse utilizado em campanha política nas eleições de 2008. "Não entendo da questão fiscal", declarou. Alegou que os relacionamentos que mantinha tanto com Biazotto como com Ferrari era de ordem política, já que era presidente do PSC e que Ferrari era o tesoureiro da campanha tucana. A ex-presidente regional do Sincopetro disse que não pagou R$ 30 mil - e sim cerca de R$ 15 mil - ao engenheiro da Prefeitura pela prestação de "um serviço executado por ele", sem dar detalhes, mas negou que o dinheiro seria para a liberação de funcionamento do posto Extra, em Santa Rosália. 

Ivanilde disse teria ido várias vezes ao escritório de Ferrari para levar dinheiro para a campanha, encontro segundo ela de cunho político. Argumentou, ainda, que teria se encontrado "poucas vezes" com os funcionários do Grupo Pão de Açúcar, Humberto Amaral Monteiro e Dalton Benedito Peres Júnior, também réus da Operação Pandora. Ao concluir seu depoimento, Ivanilde foi orientada pelos seus advogados a não falar com a imprensa. Porém, numa rápida manifestação, limitou-se a dizer que está confiante em sua absolvição.

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