Qualidade da educação de Sorocaba é questionada


Mães de alunos da escola Reverendo Augusto da Silva Dourado denunciam fraude na avaliação do Idesp


RODRIGO RAINHO/AGÊNCIA BOM DIA
rodrigo.rainho@bomdiasorocaba.com.br

Mães de alunos da Escola Estadual Reverendo Augusto da Silva Dourado, residentes no bairro Jardim Iporanga, zona industrial de Sorocaba, contestam a qualidade de ensino do local, avaliado como excelente (nota 9,3) pelo Idesp (Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado de São Paulo), e fazem denúncias graves, confirmadas pelos estudantes: as professoras teriam ajudado os alunos a fazer as provas de português e de matemática do Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), em 2011, e, pior, teriam orientado os melhores alunos a responder a exames de colegas que faltaram na data do teste.

O BOM DIA foi ao bairro e conversou com os pais que buscam os filhos na escola e com os vizinhos. A dona de casa Alessandra Vital da Silva, 32 anos, diz que a primeira a contar o que teria acontecido foi sua filha de 8 anos. A criança fez a prova em dezembro, estava na quarta série, e confirmou a irregularidade. “Ela chegou em casa e contou que a professora explicou todas as questões que tinha dúvida. Achei muito estranho, na época”, afirma. “Minha sobrinha, Monalisa, fez dois exames”, complementa.

O BOM DIA perguntou à mãe como a menina teria conseguido fazer duas provas. A filha, de pronto, a dois metros de distância, gritou, espontaneamente: “Ela terminou primeiro”. 

Ainda segundo as mães, os melhores alunos receberam outra folha de prova e repetiram o teste para os ausentes. “Isso é errado. Não contribui para melhorar a escola, que é ruim”, diz Alessandra.

Outra mãe, Raquel Laminda dos Santos, 30, afirma que houve fraude. Sua filha de 12 anos teria tirado dúvidas com uma professora para fazer a prova do Saresp. “O fiscal não disse nada”, diz. “Eu não entendi as perguntas, mas a professora explicou todas”, afirma a menina. “Nossas respostas erradas foram corrigidas.”  

A dona de casa Tereza Bicudo, 60, afirma que a filha de 9 anos recebeu ajuda para fazer a prova. “Ela [a professora] explicou algumas, aquelas que eu tinha dúvidas”, diz a menina, que fez a prova no ano passado, quando cursava a 2ª série. “Vi a professora fazer a prova de um menino que faltou”, acrescenta.

A escola pública de Sorocaba foi a mais bem avaliada pelo Idesp entre os mais de quatro mil alunos de 5º ano do ensino fundamental no Estado, no ano passado. O feito foi anunciado pela Secretaria de Estado da Educação na sexta-feira e  divulgado pela imprensa no início desta semana. A Fundação Vunesp foi a responsável pela aplicação da prova.

Outro lado
Outras mães defenderam a escola e sua diretora, Vicentina de Jesus. Fabiane Taís Ezequiel, 23, e Fabiana Sanches, 27, afirmam que todas as acusações não passam de mentira. “Professores de outras escolas aplicaram essa prova. Minha filha Juliana Vitória, de 8 anos, sempre estudou para tirar nota 10. A escola é muito boa”, afirma Fabiana. “O colégio faz simulados e dá apoio à leitura e ao aprendizagem.” 
A diretora Vicentina de Jesus negou todas as acusações. Ela afirma que pais dos alunos, voluntários, viram a aplicação da prova e podem testemunhar a favor da escola. “Foi tudo legítimo.”  

Índice avalia as escolas e premia professores
O índice atingido pela escola de Sorocaba - 9,3 - superou em 53% o de 2010, que foi de 6,07, abaixo da meta de 6,12, determinada pela Secretaria de Educação na época.  O Idesp avalia a qualidade de ensino das mais de quatro mil escolas  do Estado e também é usado para calcular os bônus de diretores, professores e funcionários.

70 crianças estudam 
na Escola Estadual Reverendo Augusto da Silva Dourado. Em 2011, 27 estudantes da 5ª série fizeram a prova do Saresp

Diretora afirma que tudo é ‘armação’
Vicentina de Jesus defende a escola, que ‘aplica bons simulados e incentiva a leitura’, e diz que ‘sem os professores, jovens estariam marginalizados’

A diretora da Escola Estadual Reverendo Augusto da Silva Dourado, avaliada como melhor  do Estado entre os alunos de 5ª série do ensino fundamental, repudia todas as acusações contra seu corpo docente e atribui às “falsas informações” às mães insatisfeitas com os métodos pedagógicos implantados por ela.

Vicentina de Jesus ligou para o BOM DIA e fez seus esclarecimentos contrariando a orientação da Secretaria de Educação, que pediu para os funcionários não se manifestarem para a imprensa. “O pacote da Vunesp veio lacrado. Foi o fiscal que abriu e distribuiu as provas, com a supervisão de pais e voluntários”, diz. “Meus professores jamais poderiam orientar os alunos. Isso não aconteceu.”

Vicentina conta que a maioria das mães se solidarizou com  ela e com os professores. Suspeitam que as mães teriam sido orientadas por algum grupo político a fazer as denúncias. “Por que só a criança rica pode aprender? Estão pagando para gente humilde falar mal da escola. É interesse político”, diz.

Para Vicentina, os alunos podem ter confundido a aplicação de simulados com o Saresp. “Confio nos meus professores. Eles faziam resumos das avaliações passadas e aplicavam para as classes. Nunca manipulariam uma avaliação do Estado”, diz. “A escola é o único equipamento público dos arredores. É o único lazer das crianças. Os políticos deveriam se preocupar com o esgoto e os ratos que povoam o bairro”, acrescenta Vicentina. “Querem me derrubar. Mas afirmo: não teve sujeira. A escola teve um prêmio merecido. Crescemos aos poucos, de 2007 a 2011. Não subimos como uma estrela.”

A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo diz que vai “averiguar a veracidade das denúncias junto à Fundação Vunesp”. A pasta pediu “um relatório sobre as circunstâncias da prova realizada na escola de Sorocaba”. 

Com base nos esclarecimentos prestados, a Secretaria vai decidir quais providências serão tomadas. 

O governo esclarece que “o exame foi aplicado por um docente de outra unidade e de turmas ou escolas diferentes. Uma empresa terceirizada foi contratada para elaborar e fiscalizar a realização do exame com fiscais presentes em sala de aula.
 

Dois pais voluntários participaram da fiscalização, circulando pela unidade de ensino, e não relataram irregularidades”.

A Vunesp não se manifestou, mas diz que fornecerá todas as informações necessárias.

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