Agência de TO ligada a Cachoeira usava casa do filho do governador


Folha de São Paulo

Uma agência de publicidade contratada pelo governo do Tocantins funcionava, até a semana passada, em uma casa de Eduardo Siqueira Campos (PSDB), filho do governador do Estado e seu secretário.
Essa mesma agência, chamada Ginga Rara Propaganda, é ligada ao grupo do empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, segundo indicam dados de relatório do Coaf (órgão de inteligência do Ministério da Fazenda) entregue à CPI do Cachoeira.
O relatório informa que Tiago Neiva Parrode, diretor financeiro e sócio da empresa, recebeu em outubro de 2010 depósito de R$ 275 mil de Claudio Abreu, ex-diretor da Delta, construtora da qual Cachoeira era sócio oculto, segundo a Polícia Federal.
Cerca de seis meses depois, em abril de 2011, Cachoeira avisa Abreu que o governo de Tocantins contrataria oito agências de publicidade, e sugere que eles deveriam entrar no negócio.
"Eles [governo do Tocantins] vão contratar mais oito [agências]. Põe uma lá", afirma Cachoeira.
A licitação foi concluída neste ano, e a Ginga Rara foi uma das oito contratadas, pelo valor de R$ 5,2 milhões.
Fundada em fevereiro de 2009 em Goiânia, a empresa abriu uma filial em Palmas em 2011. O contrato em Tocantins é o único da agência com o poder público.
Até a tarde de ontem, a casa em nome de Eduardo constava no site da empresa como seu endereço na capital do Tocantins. Depois de contato feito pela Folha, o site foi alterado.
A reportagem foi ao imóvel na manhã da última quinta-feira. Não havia ninguém no local, protegido por um muro alto e cercas elétricas.
GOVERNADOR 'DE FATO'
Eduardo, ex-senador pelo PSDB e atual secretário de Articulação Institucional no governo do pai, Siqueira Campos, é visto no meio político do Tocantins como o governador "de fato".
Ele é citado em diversas conversas gravadas pela Polícia Federal. Nelas, Claudio Abreu o trata como alguém capaz de favorecer o grupo no Estado.
OUTRO LADO
A assessoria de Eduardo Siqueira Campos informou que o imóvel não foi cedido para agência Ginga Rara Propaganda, mas alugado.
Segundo a assessoria, Campos não teve "contato ou interferência quanto à escolha do inquilino".
Foi entregue à Folha um contrato de aluguel assinado em fevereiro de 2011 entre Polyanna Teixeira, mulher de Campos, e Alencar Gonçalves de Oliveira, sócio da agência.
O valor do aluguel no documento, que não foi registrado em cartório, é de R$ 1.300 mensais, por um período de 18 meses.
A Ginga Rara informou que saiu do imóvel na semana passada porque o contrato estava expirando. Pelo documento, o contrato venceria no mês que vem. Segundo Antônio Parrode, diretor da Ginga Rara, seu filho Tiago Parrode não tem relação com o dia a dia da empresa.
De acordo com ele, o cadastro da Associação Brasileira de Publicidade, no qual Tiago consta como diretor financeiro, está errado. Ele negou que haja relação entre a empresa e Cláudio Abreu ou qualquer outro investigado na CPI do Cachoeira.
Folha não conseguiu falar com Tiago Parrode. O advogado de Cláudio Abreu não ligou de volta.

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