Cristina enfrenta maior panelaço em 7 meses


Pela 1ª vez, ato reúne partidos de oposição; organizadores estimam que mais de 1 milhão de pessoas foram às ruas


Ariel Palacios, correspondente
 
Buenos Aires foi cenário nesta quinta-feira de um novo panelaço convocado por blogueiros contra o governo da presidente Cristina Kirchner. O protesto - o terceiro em sete meses - contou, pela primeira vez, com a participação de partidos opositores. Segundo o prefeito portenho, Maurício Macri, do partido Proposta Republicana (PRO), de oposição, “1 milhão de pessoas” participaram de manifestações em toda a capital.
Na variada lista de reclamações está o pedido de combate à crescente criminalidade, os escândalos de corrupção que envolvem empresários amigos do casal Kirchner e o uso ostensivo por parte do governo da rede nacional de rádio e TV e da publicidade oficial. “Façamos barulho! Digamos basta” era o slogan do movimento ArgentinosIndignados.com, uma das organizações que convocaram o panelaço.
Os líderes da oposição também se preparavam para mobilizar seus militantes contra a aprovação da reforma da Justiça. O presidente da União Cívica Radical (UCR), Mario Barletta, fez um apelo horas antes do panelaço. “Temos de conquistar as ruas para derrotar a corrupção.” O panelaço coincidiria com a votação na Câmara dos Deputados do projeto de lei - aprovado no Senado na noite da quarta-feira.
A reforma é um pacote de leis com as quais Cristina pretende aumentar a influência do governo no Judiciário, restringindo a aplicação de liminares contra o Estado.
Além disso, elas aumentariam o número de integrantes do Conselho da Magistratura, órgão que tem o poder de eleger e destituir juízes federais. O governo também pretende estabelecer eleições populares para os integrantes do Conselho.
A oposição acusa Cristina de politizar a Justiça, já que o sistema de eleições implicaria a filiação de juízes a partidos políticos e o financiamento de suas campanhas eleitorais.
O governo, que está com a popularidade em baixa, foi alvo de um panelaço no dia 13 de setembro, que levou 200 mil pessoas às ruas de Buenos Aires. Outra manifestação foi realizada no dia 8 de novembro. No entanto, dessa vez a proporção de manifestantes superou as expectativas, com mais de 700 mil pessoas na capital. Os cálculos da Polícia Federal indicam que no restante do país os panelaços reuniram outras 500 mil pessoas.
Pobreza. Nesta quinta-feira, a ala rebelde da Confederação Geral do Trabalho (CGT) - principal central sindical do país - disse que a pobreza na Argentina atinge 27,2% da população. No entanto, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), o país teria 5,4% de pobres.
Comandada pelo caminhoneiro Hugo Moyano, o grupo está em pé de guerra com o governo há mais de um ano. Segundo a ala rebelde, a pobreza assola 10,95 milhões de argentinos - enquanto o Indec diz que ela afeta apenas 2,2 milhões de pessoas.
A discrepância entre os dados oficiais e os extraoficiais repetiu-se recentemente na medição elaborada pela Universidade Católica Argentina (UCA), que calculou que a pobreza atinge 26,9% dos argentinos.
A ala “rebelde” da CGT avaliará nos próximos dias se participará - ou não - de uma greve geral convocada pela ala “rebelde” da Central dos Trabalhadores Argentinos (CTA) para o fim deste mês.
A CGT e a CTA contam com alas “governistas”, alinhadas com a presidente Cristina.

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