Inflação tira quase 8 kg da cesta básica


Em pouco mais de dois anos, alta dos preços reduziu em 26,7% as quantidades de produtos básicos comprados pelo morador de São Paulo


Márcia De Chiara, de O Estado de S.Paulo
A cesta básica do paulistano está mais magra. Em pouco mais de dois anos, entre fevereiro de 2011 e março de 2013, a inflação reduziu em quase 8 quilos ou 26,7% as quantidades de produtos, que incluem alimentos e itens de higiene e limpeza, aponta um estudo do Programa de Administração do Varejo (Provar) da Fundação Instituto de Administração (FIA) em parceria com Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo.

O estudo mostra que em fevereiro de 2011, mês escolhido como base de comparação, a cesta básica total pesava 29,68 quilos. Considerando apenas a evolução dos preços, sem impactos de ganhos de renda do consumidor no período ou substituição de produtos, essa cesta encolheu para 27,216 quilos em fevereiro de 2012. É uma retração de 2,432 quilos, ou 8,2% em relação ao mesmo mês do ano anterior.Claudio Felisoni de Angelo, presidente do Conselho do Provar, e Cauê Moraes Moura, pesquisador da instituição, fizeram uma análise para avaliar o impacto da alta de preços na capacidade de compra do consumidor, só que de uma forma inusitada: em quantidades. Para isso, converteram em quilos, sem restrições, os 31 itens que compõem a cesta básica do Procon/Dieese. Isso quer dizer, por exemplo, que foram somados quilos de sabão em pó com quilos de arroz e feijão para saber se o carrinho estava mais cheio ou vazio fisicamente.
A maior queda nas quantidades foi registrada no último ano, entre fevereiro de 2012 e fevereiro de 2013, quando a inflação se acelerou, especialmente a partir do terceiro trimestre do ano passado, com o choque de preços agrícolas. Resultado: em fevereiro deste ano, a cesta pesava 21,188 quilos. Isto é, tinha 6,028 quilos a menos ou era 22,14% menor do que no ano anterior. "Em dois anos, houve uma grande perda de poder aquisitivo no conjunto dos produtos da cesta básica", observa Felisoni.
Essa avaliação é confirmada pelos dados do comércio varejista apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os volumes vendidos nos supermercados e hipermercados, por exemplo, recuaram 2,1% em fevereiro de 2013 ante o mesmo mês de 2012. Foi a primeira queda desse indicador desde março de 2009 e reflete o avanço da inflação. A alimentação no domicílio, por exemplo, acumula alta de 13,9% nos 12 meses terminados em fevereiro, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a medida oficial de inflação. Até janeiro, a alta em 12 meses havia sido de 12% da alimentação no domicílio segundo o IPCA.
Desoneração. Para tentar tirar o fôlego da inflação, o governo anunciou em 8 de março a desoneração de PIS/Cofins de alguns produtos da cesta básica. A análise feita pelo estudo mostra que as quantidades de produtos da cesta básica diminuiu cerca de 1% até o fim da segunda semana de março e que a política econômica do governo de desonerações começou a dar algum resultado somente após a terceira semana do mês.
"Mas o impacto da desoneração nas quantidades foi pífio", enfatiza Felisoni. Em números exatos, com o corte de imposto, o volume em quilos da cesta básica aumentou de 21,188 quilos em fevereiro para 21,730 em março. Foi um ganho de cerca de meio quilo ou 2,55% num mês, incapaz de repor as perdas anteriores.

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