IPCA deve romper teto da meta pela 1ª vez desde 2011


Inflação oficial de março será divulgada nesta quarta-feira e taxa acumulada em 12 meses deverá superar 6,5% 


Flavio Leonel e Maria Regina Silva, da Agência Estado
SÃO PAULO - A taxa acumulada em 12 meses do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve superar, em março, o teto da meta de inflação perseguida pelo Banco Central para 2013. Esta é a expectativa da maioria esmagadora dos economistas do mercado financeiro consultados pelo AE Projeções. Segundo um conjunto de 45 instituições, o indicador atingirá nível de 6,50% a 6,70%, com mediana de 6,62%, na divulgação que será feita nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A partir de janeiro de 2012, o IPCA em 12 meses passou por um processo de desaceleração contínuo até julho, quando interrompeu a sequência, ao registrar taxa acumulada de 5,20% ante 4,92% de junho. Desde então, só foi visto o cenário de aceleração na taxa, que encerrou 2012 no nível de 5,84% e atingiu a marca de 6,31% em fevereiro de 2013.A meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para 2013 é de 4,5%, com tolerância de 2 pontos porcentuais para cima ou para baixo. Se o IPCA superar o teto no acumulado em 12 meses, será a primeira vez que isso acontecerá desde novembro de 2011, quando a taxa foi de 6,64%. Em dezembro de 2011, a mesma taxa bateu em exatos 6,50% e, por pouco, o número, que representou o equivalente ao acumulado daquele ano, não superou o limite tolerado dentro da banda de inflação.
Se a expectativa de alta de 0,55% para a taxa de março do economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, se confirmar, o resultado acumulado em 12 meses baterá em 6,63%, ficando 0,13 ponto porcentual acima do limite estipulado pelo CMN. Para o economista, é preciso cuidado ao avaliar o que exatamente está puxando a inflação dos alimentos para cima, além dos demais preços do indicador do IBGE.
"Tem que pensar um pouco mais. Se tivesse só alimentos, estaria tudo em ordem. É uma visão meio míope de um processo inflacionário", afirmou Lima. "Tem de olhar o que está causando essa inflação de alimentos. É só a inflação das commodities lá fora ou tem alguma coisa a mais? Acho que tem algo a mais", avaliou.
Ele explicou que uma parte do aumento nos preços dos produtos in natura está associada a questões climáticas, como o excesso de chuvas. "Ao avaliarmos a taxa em 12 meses dos in natura, a alta é de cerca de 30%. Tem algo mais. Tem problema de custo, que está subindo e sendo repassado desde o produto até o vendedor final", opinou.
O economista-chefe da Western Asset ressaltou ainda que a própria dinâmica de salários, que representa o lado da demanda e que segue aquecida, tem dificultado o arrefecimento da inflação. "Um choque como o de alimentos tem consequências para o restante da inflação, não só por causa da indexação, mas tem desarranjos que fazem com que as pessoas comecem a olhar e a reajustar seus preços para se defenderem. Outros componentes são Serviços e Vestuário, que estão subindo muito", disse.
Desonerações
Para Lima, a inflação já teria rompido o teto da meta em fevereiro se não fossem as recentes desonerações tributárias e outras medidas, como a redução da tarifa de energia elétrica. No entanto, ele faz uma ponderação em relação às decisões do governo.
"Desonerar, tentando diminuir o custo de energia é positivo, mas a maneira como foi feita a redução causou muita insegurança nos investidores, principalmente no setor. Não vejo isso como um combate à inflação. Você só mascara o problema", criticou.
Na opinião do economista, tanto a inflação na margem quanto a taxa acumulada em 12 meses deverão perder fôlego a partir de abril, em razão da sazonalidade. Para ele, a variação mensal pode girar em torno de 0,40% nos próximos meses, enquanto a acumulada deve ceder a 5,70%, 5,80% até o final do ano. "O que é muito alto, diga-se de passagem. A inflação acumulada em 12 meses até março do Chile está abaixo de 2,00%, mais perto de 1,50%", exemplificou. 

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