Maduro é eleito presidente da Venezuela


Felipe Corazza

ENVIADO ESPECIAL / CARACAS
Com uma margem estreita, Nicolás Maduro venceu a disputa com Henrique Capriles e é o novo presidente eleito da Venezuela. Depois de tensão e atraso na noite de domingo (14), o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou a vitória do chavista com números preliminares de 50,66% dos votos, contra 49,07% do opositor Henrique Capriles. O resultado foi anunciado com 97,12% das urnas apuradas, quando o triunfo do sucessor indicado por Hugo Chávez era irreversível.
O novo presidente recebeu os resultados da votação no Quartel da Montanha, no centro de Caracas, local do túmulo de Chávez. Maduro dirigiu-se ao local logo após votar em um colégio também no centro da cidade. Uma multidão já estava a postos para comemorar a vitória do autoproclamado “filho de Hugo Chávez”.
“Temos um triunfo eleitoral justo, constitucional, legal e popular”, disse Maduro em discurso. “Chávez continua ganhando batalhas nessa terra”, completou. Maduro, que teve 7,505 milhões de votos, disse ter conversado por telefone com Capriles, que teve 7,270 milhões de votos. Maduro afirmou ter dito a Capriles que aceitaria uma auditoria, se fosse necessário.
Horas antes, após o fechamento das urnas, o chefe do comando de campanha de Maduro, indicado pelo próprio Chávez para ser seu sucessor, Jorge Rodríguez, havia convocado o povo para se concentrar em frente ao Palácio de Miraflores, na capital, e “defender o resultado das urnas”. Dando a entender que havia resultados preliminares na mão dos candidatos, Rodríguez disse que o chavismo “respeitaria o resultado”, mas não ficaria inerte caso a oposição não o reconhecesse. “Defenderemos o resultado com as armas que a Constituição nos dá.”
O chefe do comando da campanha de Capriles, Ramón Aveledo, respondeu aos chavistas afirmando que organizar concentrações populares era ilegal.
Até a 1h15 (horário de Brasília), Capriles não havia reconhecido a vitória do rival. Antes da votação, houve repetidas acusações por parte dos chavistas de que a Mesa da Unidade Democrática (MUD), coalizão de Capriles, não pretendia admitir uma derrota em caso de margem apertada.
A margem estreita de votos é vista por analistas como um problema para Maduro. Uma vantagem mais ampla garantiria a ele uma imposição definitiva como líder dentro do próprio chavismo. Além disso, Maduro não tem margem para negociar com a oposição e realizar um governo de conciliação. O risco de tal movimento seria perder legitimidade com sua base, já que um dos lemas de Chávez era “para os inimigos, nem água”, referindo-se à oposição. O líder tinha como mote, ainda, “com a burguesia, nenhuma conciliação”.
A participação do eleitorado foi de 78,7%, quase idêntica aos 80% alcançados em outubro, quando o próprio Chávez derrotou Capriles.
PERFIL
Nicolás Maduro venceu as eleições na Venezuela com crédito de ter sido um dos colaboradores mais incondicionais dos últimos 14 anos do governo Hugo Chávez. Ele também tem fama de ser um negociador que escuta os outros. Algumas pessoas o qualificam como radical, mas todos estão de acordo quanto à sua lealdade ao projeto de Chávez, de quem não se separou nos últimos 20 meses, enquanto o ex-presidente lutava contra um câncer que o levou à morte em 5 de março.
Chávez instituiu Maduro como seu sucessor político e foi ele o responsável de dar a notícia da morte do “líder da revolução”. Maduro fez uma campanha totalmente concentrada no líder bolivariano, repetindo ser “filho” do ex-governante, prometendo continuar seu legado e seguir ponto a ponto seu programa político.

As pessoas que o conhecem garantem que ele é um homem de equipe, que sabe como se apoiar nos grupos com que trabalha e tem uma grande capacidade de negociação que aprendeu no passado como sindicalista – período de profunda e estruturada formação ideológica maoista.
Antigo líder sindical, antes de representar a Venezuela no exterior Maduro foi motorista de ônibus e entrou nas alta esfera da política internacional sem complexos e sem esconder que não fala mais do que o espanhol.
Durante a campanha, ele alardeou o passado de motorista e chegou aos comícios dirigindo um ônibus com toda a equipe de campanha. Assumiu a pasta do Exterior, em 2006, como o mais jovem ministro de Chávez, e foi nomeado vice-presidente em outubro do ano passado.
Nascido em Caracas em 1962, Maduro cresceu no bairro popular de El Valle. É um esquerdista convicto e na escola secundária foi líder estudantil. Não foi para a universidade e trabalhou como na empresa Metrô de Caracas, destacando-se como líder sindical nos anos 90. Maduro conheceu Chávez quando o ex-presidente estava preso em razão do seu fracassado golpe de Estado em 1992. Nesse contexto também conheceu sua mulher, a advogada e antiga líder parlamentar do chavismo, Cilia Flores (nove anos mais velha do que ele).
Maduro contribuiu para a fundação do partido que levou Chávez ao poder, o Movimento V República (MVR). Foi eleito deputado em 2000 depois de participar da redação da Constituição Bolivariana em 1999. Em janeiro de 2006, foi designado presidente do Parlamento, cargo no qual permaneceu sete meses, até ser nomeado ministro do Exterior em agosto do mesmo ano. Seus detratores o acusam de ter destroçado o Ministério do Exterior, com demissões de diplomatas de carreira e admissões de quem o acompanhou durante sua vida de trabalho.
Durante a campanha, o presidente eleito surpreendeu quando disse que Chávez havia aparecido diante dele na forma de passarinho. As piadas que se multiplicaram na oposição, e entre os próprios chavistas, não impediram sua vitória. / EFE

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