'O PIB, para o povo, é o emprego e a renda', diz Mercadante


Articulador político de Dilma, ministro petista não vê na economia um obstáculo à reeleição


Vera Rosa e Marcelo de Moraes - atualizado às 8h
Com a tarefa de auxiliar a presidente Dilma Rousseff na articulação política do governo, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, dá o tom da campanha da reeleição, em 2014. "O PIB, para o povo, é emprego e renda", diz ele, amenizando o "Pibinho" de 0,9% de 2012 e a previsão de um crescimento também pequeno neste ano. "É possível, sim, combater a inflação e manter a estabilidade preservando o emprego."
Mercadante ameniza resultado do PIB e destaca gestão de Dilma - Wilson Pedrosa/AE
Wilson Pedrosa/AE
Mercadante ameniza resultado do PIB e destaca gestão de Dilma
Mercadante participou, na quarta-feira, de uma conversa de sete horas entre Dilma, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci, o presidente do PT, Rui Falcão, e o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho. Na ocasião, foi feito um pente fino dos apoios conquistados para a campanha da reeleição e avaliados os palanques para Dilma nos Estados.
A preocupação do Palácio do Planalto, agora, é com a economia. "Sobre isso (a reunião com Dilma e Lula) eu não falo", desconversou Mercadante.
O ministro criticou o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, para quem a instituição, atualmente, está leniente demais com a inflação, e deu uma estocada no PSDB. "Acho engraçado porque, quando ele era presidente do BC, ninguém podia escrever ou dizer que a taxa de juros podia cair. Mas, agora, dizer que a taxa de juros tem que subir pode", provocou. Fraga é um dos interlocutores do senador Aécio Neves, presidenciável do PSDB.
Na lista dos pré-candidatos do PT ao governo paulista, Mercadante defendeu chapa própria do partido ao Palácio dos Bandeirantes, mas sinalizou que o escolhido pode não ser ele. "Na vida pública, quem tem tempo não tem pressa", resumiu. Nos bastidores, petistas apostam que Mercadante poderá substituir a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) a partir de março de 2014, quando ela deixará a equipe para ser candidata do PT ao governo do Paraná. A seguir, os principais trechos da entrevista:
A presidente Dilma disse, na África do Sul, não concordar com políticas que reduzem o crescimento para combater a inflação. O mercado reduziu apostas na alta futura dos juros e ela afirmou que a declaração foi manipulada. Mas esse não é o pensamento do governo, uma posição até dogmática?
Quem fala de economia é o ministro da Fazenda e quem fala sobre juros é o presidente do Banco Central. A independência operacional do BC sempre foi respeitada no governo. A história econômica do Brasil talvez seja o melhor exemplo. Se desemprego combatesse a inflação, o Brasil não seria o país que teve a mais longa hiperinflação, com 14 anos. É possível, sim, combater a inflação e manter a estabilidade preservando o emprego. Não há uma relação mecânica entre taxa de juros e emprego. O Brasil saiu dessa armadilha.
Como?Nós tínhamos, em 2002, uma dívida líquida do setor público de 60,4% do PIB. E nós tivemos, em 2012, 35,1%. Então, houve um desendividamento do Estado brasileiro. O Brasil é um dos poucos países do mundo que, mesmo na crise, conseguiu continuar reduzindo sua dívida pública. Essa redução permitiu que a taxa de juros, que era de 8,5% do PIB, caísse para 4,8%. O que significa isso em termos de valores? À medida que o Estado reduz o pagamento de juros, ele está tirando do mercado o equivalente, em dez anos, a R$ 162,9 bilhões. Só do ano passado para cá são R$ 39,6 bilhões. Então, a redução dos juros é uma mudança de padrão da economia. O lucro financeiro das empresas e dos bancos caiu fortemente. Mas, de outro lado, o Brasil conseguiu, com as políticas de inclusão social, com o salário mínimo, o crescimento do emprego e o Bolsa Família, criar um amplo mercado de consumo de massas. A âncora do crescimento é o mercado interno.
Que taxa de crescimento o governo prevê para o ano eleitoral de 2014?Acho cedo para falar isso. Tem que aguardar um pouco a evolução do cenário, especialmente do internacional. A situação na Europa continua muito difícil, os Estados Unidos estão se recuperando por causa do shale gas (gás de xisto), que é uma economia muito inovadora, e a China desacelerou de um patamar de 11% para 7,5%. O Brasil melhorou suas reservas cambiais, reduziu de forma importante os juros e ajustou o câmbio. Isso aumentou a competitividade. A presidenta Dilma reduziu o preço da energia, a carga tributária das empresas, desonerou os produtos da cesta básica e está fazendo um grande programa público-privado de investimento. Vamos ter concessões importantes de gás e petróleo que melhorarão muito esse setor daqui para o ano que vem e estamos investindo muito em educação. Um grande passo que daremos para esse caminho será colocar 100% dos royalties do pré-sal para a educação. Esse é um debate que o Brasil precisa fazer.
Mas está havendo uma guerra no Congresso em relação aos royalties...Tudo é passível de debate, mas eu acho que, se as prefeituras, o governo do Estado e o governo federal aderirem a essa visão, daremos um salto extraordinário no Brasil, na próxima década.
A alta popularidade da presidente Dilma resiste a um Pibinho em 2014, um ano eleitoral?Nós tivemos um PIB de 0,9% (no ano passado). Talvez a correção do PIB seja um pouco mais. Eu tenho uma visão própria sobre isso. Acho que, com essa redução dos juros, na hora em que você tira quase R$ 40 bilhões do mercado, isso aparece na contabilidade. Mas os indicadores duros do crescimento são melhores do que isso: as vendas, o consumo de energia, o aumento de emprego. Acho que há um problema de como você capta essa informação. Acho que foi um pouco melhor. Mas vamos aguardar, o IBGE sempre faz revisão. O que é o PIB para o povo? O PIB para o povo é emprego e renda. E o emprego e a renda continuam crescendo.
Mas e se os juros subirem?Eu acho que o Delfim Netto (ex-ministro da Fazenda) respondeu bem essa questão. Para a taxa de juros ter algum impacto em termos de desemprego, você tinha que ter uma elevação de juros de 25%, uma coisa que ninguém pensa nem discute. É preciso desassociar inflação e juros. Nós já tivemos taxa de juros maior, com o País crescendo mais, e taxa de juros menor, com o país crescendo menos. Não há essa relação direta como está se tentando construir. Agora, o mundo está buscando competitividade, aumentando o desemprego e arrochando salário. Nós estamos buscando um caminho alternativo. O patamar de juros, hoje, é outro: pequenas oscilações que podem ocorrer, e ocorrerão, não interferem nesse mudança de patamar. A economia está sofrendo uma transição, que é complexa, mas indispensável. O Brasil está alinhando a sua taxa de juros às taxas internacionais.
O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga disse, em entrevista ao'Estado', que a instituição, hoje, está leniente demais com as expectativas de inflação e mencionou até a questão do emprego, que poderia causar uma pressão inflacionária. Como o sr. rebate isso?
Acho engraçado porque, quando ele era presidente do Banco Central (no governo Fernando Henrique Cardoso), havia uma defesa muito forte da independência da instituição. Ninguém podia escrever ou dizer que a taxa de juros podia cair. Mas, agora, dizer que a taxa de juros tem que subir pode.
Até quando o Brasil consegue manter a Selic congelada em 7,25%?Por tudo o que eu acabei de dizer não sou eu que vou opinar sobre isso. Só faltava agora você pedir para eu opinar sobre isso. Não é minha área. A única coisa que questiono é que quem esteve lá, praticou as taxas (de juros) que praticou e dizia que ninguém deveria opinar sobre as decisões do BC agora faz exatamente o contrário. Não acho correto. Eu, particularmente, respeito e confio na competência técnica do BC.
O governo cortou impostos da cesta básica, reduziu o preço da conta de luz e prevê a desoneração do PIS e da Cofins que incidem sobre o óleo diesel para segurar o preço das passagens de ônibus. O que mais pode ser cortado?
A presidenta está buscando aumentar a competitividade da economia . Redução do IPI e desoneração da folha de pagamento aumentam a competitividade. Ela está compartilhando a redução dos juros, estrutural, com o setor produtivo. Isso tem de ser feito numa visão de responsabilidade fiscal. A trajetória de desendividamento tem de ser mantida para que essas coisas sejam duráveis. Não podemos ir além daquilo que é a consistência fiscal da política econômica. Por isso, tudo tem que ser feito passo a passo, avaliando os impactos para manter os investimentos sociais e a desoneração, que só é possível com a trajetória de queda da dívida pública. Ela está sempre olhando para a relação dívida pública.
O PSDB e o DEM criticam a forma como foi feita a redução da tarifa de energia elétrica e chamam a medida de "eleitoreira". A oposição diz que, por isso, a Eletrobrás já registrou o primeiro prejuízo. O governo não vai responder?
O Brasil tem que reduzir o custo da energia se quiser ser competitivo. Somos um país onde investimentos estruturantes em recursos hídricos já têm mais de 30 anos. A amortização já foi feita. Se a oposição prefere aumentar a margem de lucro dos investidores em energia hídrica, em vez de reduzir o custo para toda a economia, para o consumidor, para as famílias e para a indústria, nós entendemos. Eles podem defender esse caminho, mas não é o nosso.


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