Segundo dia do julgamento foi marcado por depoimento do ex-governador Fleury


Bruno Paes Manso e Mônica Reolom
O segundo dia do julgamento do massacre do Carandiru teve o depoimento mais esperado da semana, do ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho. Em cerca de meia hora, Fleury defendeu a legitimidade da entrada da Polícia Militar no Pavilhão 9 no dia 2 de outubro de 1992. “Diante de todas as informações que recebi posteriormente, a entrada foi absolutamente necessária e legítima. A omissão da polícia é tão criminosa quanto qualquer ação.”
Fleury ainda assumiu responsabilidade política no episódio, que acabou influenciando sua carreira nos anos que se seguiram. “A responsabilidade política é minha. A criminal, os senhores jurados é que vão decidir”, afirmou, dirigindo-se aos integrantes do conselho de sentença.
O ex-secretário de Segurança, Pedro Franco de Campos, depôs após Fleury. Ele afirmou que concedeu autonomia ao coronel Ubiratan Guimarães para decidir sobre o que fazer. “O senhor avalia a situação. Havendo necessidade de entrar, o senhor deve entrar. Depois do episódio, fiquei tranquilo de que a necessidade da entrada era absolutamente necessária.”
Outras quatro testemunhas foram chamadas para depor nesta terça-feira, sendo três juízes corregedores à época do massacre. A estratégia da advogada de defesa Ieda Ribeiro de Souza era desconstruir o depoimento do agente penitenciário Moacir dos Santos, testemunha de acusação ouvida na segunda-feira.
O primeiro a depor, Ivo de Almeida disse que o problema para entrar no Pavilhão 9 era a barricada feita pelos presos – o agente penitenciário Moacir dos Santos havia dito na segunda-feira que tinha uma chave disponível e que os PMs arrombaram o prédio “por prazer”.
Já o desembargador Luiz Antonio Torres Garcia ponderou: “Era preciso ingressar para garantir a integridade dos presos. Havia risco do movimento se espalhar pelos outros pavilhões e os presos já estavam se matando. O que não era necessário era o resultado que acabou sendo obtido.”
O desembargador Luis Antônio San Juan França, terceira testemunha a depor, ressaltou não ter visto armas de fogo junto aos detentos, apenas armas brancas, reafirmando o depoimento das outras duas testemunhas de defesa.
Já a sexta e última testemunha, a juíza Sueli Zeraik Oliveira Armani, da 1º Vara das Execuções Criminais de Taubaté, foi arrolada pela defesa para falar sobre rebeliões em presídios.
Nesta primeira etapa do julgamento do massacre do Carandiru, 26 réus são acusados de matarem 15 pessoas no 2° pavimento do Pavilhão 9 em outubro de 1992.

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