Câmara não vota orçamento e trava EUA

Vencido o prazo para aprovar projeto de lei, país terá de suspender pagamentos


Denise Chrispim Marin
Sem acordo entre republicanos e democratas sobre os gastos públicos no ano fiscal de 2014 e a elevação do teto da dívida pública federal, o governo de Barack Obama está a partir desta terça-feira, 1º de outubro, com pagamentos de servidores públicos e de fornecedores e os repasses a Estados e municípios suspensos por falta de orçamento. É a primeira paralisação do Estado americano desde janeiro de 1996, quando o presidente dos Estados Unidos era o democrata Bill Clinton.
Nesta segunda, faltando apenas cinco horas do prazo final estipulado (zero hora de terça), Obama fez um último apelo aos republicanos da Câmara dos Deputados para acatarem o projeto de lei já aprovado no Senado. A oposição, porém, se mantinha irredutível: só votaria se a Casa Branca concordasse em postergar em um ano a adoção da reforma da Saúde. A Câmara chegou a aprovar um terceiro projeto temporário de orçamento que retardava a reforma da Saúde, mas foi logo em seguida rejeitado pelo Senado.
Até as 23h30 (horário de Washington) propostas de elevação mínima no teto da dívida pública – que alcançará US$ 16,7 trilhões em 17 de outubro – ainda eram discutidas, mesmo com a oposição da Casa Branca.
No início da tarde, Obama havia anunciado sua intenção de reunir-se com líderes do Congresso, enquanto cobrava deles a responsabilidade de "aprovar o orçamento e pagar as contas". Mas não cumpriu a promessa de chamar os parlamentares à Casa Branca. Ao longo do último mês, ele reiterou várias vezes que não negociaria com a Câmara – a rigor, com a ala radical republicana Tea Party – a elevação do teto da dívida federal nem o atraso na adoção da reforma da Saúde, pejorativamente chamado de Obamacare.
Maior empregador. "A ideia de colocar o progresso suado do povo americano em risco é o cúmulo da irresponsabilidade e não tem de acontecer", disse Obama, depois de reunião de gabinete. "Quero ser claro: não importa o que o Congresso faça (com a reforma da Saúde). Eu a ratifiquei, e a Corte Suprema a declarou constitucional."
Obama argumentou ser o governo federal o maior empregador do país, com 2 milhões de civis e 1,4 milhão de militares. Logo ao iniciar seu discurso, salientou os impactos da omissão da Câmara.
Os salários dos funcionários federais seriam suspensos, as escolas mantidas com recursos da União seriam fechadas e os veteranos de guerra perderiam a assistência. Museus, parques nacionais e monumentos públicos seriam fechados à visitação.
Ao dirigir-se à oposição, Obama pediu que deixassem de lado as exigências ideológicas "estranhas e controversas" para evitar "empurrar o governo para o buraco". Ele insistiu que "a facção" de um partido, o republicano Tea Party, "não pode fechar todo o governo".
A briga com o Tea Party não é nova. Desde o início de 2011, quando os republicanos reassumiram a maioria da Câmara, essa tensão tem se repetido pelo menos duas vezes ao ano. A última se deu entre os últimos dias de 2012 e os primeiros deste ano. Sempre houve um acordo de última hora para evitar a suspensão de pagamentos.
"O que nossos membros querem é Justiça para o povo americano", afirmou o presidente da Câmara, John Boehner. O republicano referia-se à decisão tomada antes por Obama de postergar por um ano a adoção das novas regras sobre planos de saúde para as empresas.
Na lógica do Tea Party, se isso foi possível, também seria justo atrasar por um ano a norma que obriga todos os americanos e estrangeiros do país a adquirir um plano de saúde. Essa é a medula do Obamacare, cuja aprovação alavancou a eleição da facção republicana em 2010.
Boehner se recusou a pôr em votação o projeto do Senado. O líder da maioria democrata no Senado, Harry Reid, ainda brigava por essa alternativa. "Deixe a Câmara votar, todos os seus 435 membros, não apenas a maioria", apelou Reid a Boehner, otimista com a aprovação do texto por "ampla margem". "Não vamos mudar o Obamacare", completou. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

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