Imagens mostram primeiros momentos de invasão a laboratório

Imagens obtidas pelo Fantástico mostram a entrada de ativistas no instituto.

Por suspeita de maus tratos, grupo invadiu laboratório e levou cães beagle.

Do G1, com informações do Fantástico
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Reportagem do Fantástico mostra imagens dos primeiros momentos da invasão do laboratório de um centro de pesquisas por um grupo de defensores de direitos dos animais em São Roque, no interior de São Paulo, que fazia testes com cães.
A reportagem, exibida neste domingo (20), mostra imagens da entrada dos ativistas e a recolha de cães da raça beagle. Eles pulam o muro do instituto pouco depois da uma hora da manhã, entram na jaula, pegam os cães e passam de mão em mão, distribuindo os animais. Um cão é encontrado morto, congelado em um saco plástico.Dezenas de ativistas derrubaram invadiram, por volta das 2h de sexta-feira (18), o laboratório do Instituto Royal, em São Roque, a 59 km de São Paulo. Eles levaram, em carros próprios, dezenas de animais que estavam no complexo, segundo a Guarda Municipal da cidade e a Polícia Militar, motivados pelas suspeitas de que os bichos sofriam maus-tratos no local.
Enquanto são distribuídos, os cães acabam sendo adotados e ganham nomes, mostra a reportagem. “É machinho, é o bubu. Bubu...!”, diz um ativista que participa da recolha dos animais.
O protesto começou no dia 12 de outubro, quando um pequeno grupo se acorrentou aos portões do centro de pesquisas. O número de pessoas foi aumentando e o clima ficou cada vez mais tenso, contou uma das ativistas, Adriana Greco, ao Fantástico. “Eu comecei a pedir para o pessoal vir para invadir mesmo porque a gente tinha que fazer alguma coisa porque estava muito revoltante”, diz Adriana.
No dia seguinte, no entanto, Adriana negou ter pedido a invasão. “A gente não tinha intenção nenhuma de invasão. Quando eu subi, eu já não vi mais nada. Não sei quem levou. Eu não fiquei com nenhum, porque eu não fui lá pra isso”, diz Adriana.
Neste domingo, o advogado da ativista mandou um e-mail à equipe do Fantástico tentando impedir a exibição de imagens e de entrevistas dela. No entanto, de acordo com os princípios editoriais das Organizações Globo, o Fantástico avaliou que as declarações de Adriana são de interesse público e essenciais para a reportagem.
No sábado, houve novo protesto na porta do centro de pesquisas, que terminou em confronto com a polícia e carros incendiados. Ativistas, no entanto, dizem que a manifestação era pacífica. “A gente sabe que alguns veículos foram incendiados, mas a gente não sabe como que isso aconteceu”, diz a ativista Jane Santos.
Os 178 cães retirados do instituto foram levados para a casa de diversas pessoas. Um casal que abrigou um filhote, em São Roque, falou à reportagem do Fantástico, mas não quis se identificar. “Você não está ali porque você quer escolher um cachorro, como se você fosse comprar ou adotar. Você está ali por amor, entendeu?”, diz o casal. “O que eu não quero para mim eu não quero para o meu próximo, seja ele uma pessoa, seja um animal”, dizem.
Análise das imagens
A pedido do Fantástico, Sílvia Ortiz, a gerente do Instituto Royal, um dos centros de pesquisa mais importantes do país, analisou as imagens feitas após a entrada dos ativistas.
Sílvia aponta que portas, janelas e computadores foram destruídos, e arquivos e medicamentos foram levados. A sala de substâncias, onde, de acordo com Sílvia, ficavam os medicamentos em fase final, próximos de serem vendidos – para câncer, gastrite, dor de cabeça e antibióticos  -- e não havia cães também foi destruída.
Segundo a gerente do centro de pesquisa, o canil estava sujo quando os ativistas entraram porque os funcionários foram impedidos de trabalhar no dia anterior. Além disso, acostumados desde pequenos a três, quatro pessoas, os cães teriam enfrentado estresse e se assustado com a entrada de cerca de 150 ativistas no local, o que teria gerado a grande quantidade de fezes e urina vista nas imagens.
O diretor científico do Instituto Royal, João Antônio Henriques, afirma que apenas remédios eram testados no local. “Porque a indústria de cosméticos não usa animais. Mesmo que o Brasil não esteja 100% alinhado, as indústrias sérias que trabalham com cosméticos não usam mais animais”, diz ele, que também nega maus tratos aos animais.
A reportagem mostra ainda um jovem, em São Paulo, que está com seis cachorros, e um deles estava com a língua machucada. O ativista suspeita que seja em decorrência de algum trauma com muita dor, mas o diretor do instituto sugere que os cães podem ter brigado “dentro do canil num momento de recreação”, algo “normal que acontece em qualquer canil”.
Sobre o cão encontrado congelado, o pesquisador diz que a morte foi natural e o animal estava congelado por ser preciso esperar a patologista analisá-lo.
Fiscalização de pesquisas
O coordenador do Conselho Nacional de Controle da Experimentação Animal (Concea), Marcelo Morales, órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia que fiscalizava as atividades do Instituto Royal, diz que não havia irregularidades no local e que o instituto estava credenciado para realizar as pesquisas com animais.
Segundo ele, o Brasil tem regras rígidas para proteger animais usados como cobaias como a presença de veterinários e a necessidade de anestesiar os animais que forem passar por procedimentos.
Após denúncias dos ativistas, um promotor público começou uma investigação para saber se os animais eram vítimas de abusos, mas o trabalho foi interrompido após a invasão porque provas que poderiam ser usadas foram destruídas.
Para o representante do Ministério da Ciência de Tecnologia, esse tipo de estudo é necessário. “Todos os medicamentos que nós temos nas prateleiras das farmácias foram testados em animais. O beagle é utilizado como padrão internacional. Ele tem uma similaridade muito grande com o organismo humano”, diz Marcelo Morales.
O instituto também defende as pesquisas, que vêem como um benefício à população já que permitem que os medicamentos sejam testados para serem vendidos ao público. Já os ativistas dizem ser a favor do avanço da ciência, mas questionam os testes em animais para produtos a serem usados por humanos.
A polícia registrou dois boletins de ocorrência: um para investigar a denúncia de maus tratos no instituto e outro contra os ativistas, por furto. Segundo o delegado responsável pelo caso, quem estiver com um dos cães do Instituto Royal pode ser indiciado por crime de receptação.
No sábado, os dois primeiros cachorros foram recuperados pela polícia, abandonados na rua.

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