Relatório da polícia aponta que tortura era frequente na UPP da Rocinha

Documento pede a prisão preventiva dos dez PMS acusados de terem torturado o pedreiro Amarildo de Souza



Felipe Werneck e Marcelo Gomes - O Estado de S. Paulo

A tortura de moradores era costumeira nos contêineres da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, na zona sul do Rio, aponta o relatório da Polícia Civil que pede a prisão preventiva dos dez PMs acusados de terem torturado o pedreiro Amarildo de Souza até a morte. Amarildo, de 43 anos, desapareceu em 14 de julho, depois de ter sido conduzido à sede da UPP para uma "averiguação".
"A denúncia deve ser distribuída no máximo até sexta por tortura seguida de morte, ocultação de cadáver e fraude processual", disse ao Estado o promotor Homero das Neves Freitas Filho. O relatório da polícia tem 180 páginas e o inquérito, quase 2 mil.
Entre os indiciados pelo delegado Rivaldo Barbosa, da Divisão de Homicídios da Polícia Civil do Rio, estão dois oficiais: um tenente e um major. O major é Edson Santos, que comandava a UPP quando ocorreu o sumiço.
Todos os policiais negam envolvimento no desaparecimento do pedreiro. Eles afirmam que Amarildo foi liberado e saiu sozinho da UPP. A saída não foi registrada pelas câmeras de segurança da unidade - a câmera da sede da UPP não estava funcionando. A polícia analisou as imagens de 80 câmeras e realizou escutas telefônicas.
Numa entrevista coletiva para explicar o resultado do inquérito que apurou o sumiço de Amarildo, Rivaldo Barbosa disse apenas que "há um conjunto de provas testemunhais e de inteligência que levou à convicção" da participação de dez policiais militares da UPP da Rocinha no crime. Os PMs foram indiciados sob acusação dos crimes de tortura seguida de morte e ocultação de cadáver.
Indagado pelos repórteres sobre quais provas existem no inquérito contra os PMs, Barbosa esquivou-se. "Em respeito ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, que ainda estão apreciando o inquérito, preferimos não falar", disse o delegado. A coletiva durou menos de cinco minutos.
Barbosa afirmou que não foram encontrados vestígios de sangue dentro da UPP. Questionado se Amarildo foi torturado e morto no posto policial, o delegado respondeu que não, mas não informou onde os crimes ocorreram. O delegado confirmou que a polícia não conseguiu localizar o corpo do pedreiro.
Advogado da família. Apesar de ainda não ter tido acesso ao inquérito, o advogado João Tancredo, que representa a família de Amarildo, comemorou o resultado das investigações. "A conclusão não foi diferente do que poderia ser. Todos sabiam que Amarildo foi levado para aquele centro de tortura que é a UPP da Rocinha e depois sumiu".
Tancredo criticou a atual política de "pacificação" de favelas do governo Sérgio Cabral (PMDB). "Antes da UPP, os moradores viviam sob o jugo do tráfico. Era difícil, mas conviviam. Agora, além da questão do tráfico, que continua a atuar livremente na favela, esses moradores também convivem com a polícia da UPP, que mata. Se inicialmente a sociedade tinha uma esperança de que com a UPP as coisas mudariam para melhor, a conclusão do sumiço de Amarildo é uma notícia muito ruim, frustrante", afirmou o advogado.

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