Sorocaba tem média mensal de 199 agressões à mulher


Os casos deste ano indicam que há tendência de crescimento; em 2012, foram 174 denúncias por mês


Rosimeire Silva
rosimeire.silva@jcruzeiro.com.br

Os casos de denúncias de violência contra a mulher apresentam uma tendência de crescimento neste ano em Sorocaba. Apenas nos primeiros seis meses, a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) registrou 1.593 boletins de ocorrência, com uma média de 199 casos por mês. Deste total, 731 foram por lesão corporal e 862 por ameaça. Em 2012 foram 2.098 ocorrências (1.117 por lesão corporal e 981 por ameaça), uma média de 174 por mês.

Para tentar garantir a integridade física das mulheres vítimas de violência, a DDM já encaminhou neste ano à Justiça 197 pedidos de medida protetiva, que proíbe que o acusado da agressão mantenha contato ou se aproxime da vítima. Segundo a delegada da DDM, Ana Luíza Salomone, esse tipo de encaminhamento é feito nos casos em que a mulher está em risco iminente e precisa ter a sua segurança preservada. Em pelo menos 90% dos casos, segundo ela, a medida é concedida no prazo de até 72 horas. 

Além da medida preventiva, as mulheres vítimas de violência são encaminhadas para duas entidades de Sorocaba que atuam diretamente nesses casos. O Centro de Referência da Mulher (Cerem), que oferece atendimento psicológico, jurídico, social e de mediação de conflitos; e o Centro de Integração da Mulher (CIM-Mulher), que além do serviço de apoio social, psicológico e jurídico, também faz o acolhimento das mulheres e seus filhos, que permanecem abrigados enquanto estiverem em situação de risco.

De janeiro a 16 de setembro deste ano, o Cerem já recebeu cerca de 370 mulheres, com um total de 874 atendimentos dentro das diferentes áreas de atuação. De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Social, responsável pela unidade, a violência psicológica é o principal tipo de agressão cometido contra as mulheres, com 33,8% dos casos registrados (296), seguida da violência física (247), violência patrimonial (170), violência moral (167) e violência sexual (78), sendo que em muitas situações a mesma mulher sofre mais de um tipo de violência. Em relação aos agressores, os ex-maridos representaram a maioria (98). Em seguida aparecem companheiros (58), ex-companheiros (58), maridos (24), filhos (18), ex-namorados (14), pais (8), desconhecidos (6), namorados (2) e outros (14).
 
Mais conscientes 
A coordenadora do Cerem, Paula Andrea Vial Silva, considera que o aumento nas ocorrências registradas pelas mulheres não pode ser atrelada apenas ao crescimento da violência praticada contra elas, mas também porque as mulheres estão mais conscientes sobre os seus direitos e com coragem de buscar ajuda. Essa opinião é compartilhada pela assistente social do CIM-Mulher, Elisabete Pires Silva. Segunda ela, esse comportamento foi estimulado principalmente depois da criação da Lei Maria da Penha (nº 11.340/06), que instituiu a violência doméstica como crime. "Ela sabe que a lei existe, que possui esse amparo legal e por isso procuram por ajuda", constata.

Somente neste ano, o CIM-Mulher foi responsável pelo acolhimento de 258 pessoas, incluindo as mulheres vítimas de violência e seus filhos. Em todo o ano passado foram 1.420 pessoas atendidas. Elisabete diz que as mulheres abrigadas recebem toda a orientação jurídica, além de receberem atendimento social e psicológico e participarem de oficinas de terapia ocupacional. Há ainda outras atividades desenvolvidas por voluntárias, como musicoterapia, reflexologia e estudos religiosos. As crianças e adolescentes recebem também acompanhamento pedagógico enquanto estiveram afastados da escola. 

Depois de retornarem ao convívio social, durante três meses a assistente social ainda mantém o acompanhamento da família para que possam receber o apoio necessário nessa reintegração, evitando uma reincidência de casos de violência.
 
Quebra do ciclo 
A coordenadora do Cerem diz que a maioria das mulheres que procura a instituição já está sofrendo a violência doméstica por muitos anos, mas tinha vergonha ou medo de procurar ajuda e até mesmo se sentia culpada pela situação. "A quebra desse ciclo da violência não é fácil, mas depende da mulher dar esse basta. O nosso papel é dar todo o apoio e orientação para que ela consiga se manter fora desse ciclo."

Mesmo nos casos em que a mulher obtém a medida protetiva, comenta Paula Silva, pode acontecer de o homem continuar perseguindo e ameaçando. Por isso, a orientação é para que ela sempre ande com o documento judicial e deixe uma cópia com parentes e vizinhos para uma situação de emergência. "O mais importante é que ela registre o Boletim de Ocorrência de descumprimento da ordem judicial, pois nesses casos pode ser decretada prisão preventiva do agressor." 

A assistente social do CIM-Mulher, Elizabete Pires Silva, afirma que a ações preventivas e de orientação também são fundamentais para que a mulher consiga dar o primeiro passo para quebrar esse ciclo da violência, Por isso, a instituição tem atuado na realização de palestras junto a entidades de classe e empresas para divulgar a importância de as mulheres denunciarem os casos de violência. "Muitas sofrem violência e não conseguem falar." 

Ela diz que esse trabalho de conscientização vem sendo trabalhando também junto às equipes que fazem atendimento nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município, para que estejam mais atentas aos casos não apenas de mulheres que possam apresentar alguma marca de agressão física, mas que também frequentam muito repetidamente a unidade. "Essa mulher pode estar pedindo ajuda ", alerta.

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