Primeira missa de São José de Anchieta é feita em tupi, latim e português

Cerimônia de três horas na Sé reuniu 2.500 pessoas, em homenagem à canonização do jesuíta pelo papa Francisco no dia 3


José Maria Mayrink, O Estado de S. Paulo
A primeira missa em homenagem a São José de Anchieta, neste domingo, 6, em São Paulo, foi uma celebração solene de quase três horas e reuniu cerca de 2.500 fiéis na Catedral da Sé.  O cardeal-arcebispo, d. Odilo Scherer, presidiu uma cerimônia com textos em português, latim e tupi-guarani, os idiomas que o missionário jesuíta, canonizado dia 3 pelo papa Francisco, utilizou para evangelizar os índios.
O cardeal d. Cláudio Hummes, prefeito emérito da Congregação para o Clero, os bispos auxiliares da arquidiocese e numerosos sacerdotes da Companhia de Jesus participaram da solenidade. Entre as autoridades civis, compareceram o governador Geraldo Alckmin, o prefeito Fernando Haddad, o presidente do Tribunal de Justiça do Estado, José Renato Nalini, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), o deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP) e a reitora da PUC-SP, Ana Maria Marques Cintra.
No início da missa, Alckmin e Haddad, que ocupavam o primeiro banco da  igreja  acompanhados de suas mulheres, foram chamados ao altar, depois de uma preleção de d. Odilo, para falar sobre Anchieta. Os dois ressaltaram a importância do novo santo, um dos fundadores da cidade São Paulo, na história do Brasil. Referindo-se ao fato de o jesuíta ter sido canonizado sem a exigência de um milagre, Haddad  recordou uma frase que ouviu de sua mãe, quando era criança. “Não sou cristã pelos milagres de Cristo, mas pelos valores que representa”, dizia ela.
O arcebispo, o governador e o prefeito agradeceram ao papa Francisco pela canonização do Apóstolo do Brasil. O tenor  Agnaldo Rayol cantou, em seguida, a Ave Maria de Gounod, em latim.
A celebração começou às 10 horas com uma aglomeração no Pátio do Colégio, de onde cerca de 500 devotos saíram em procissão para a Catedral da Sé, após uma dramatização apresentada num palanque por um grupo de atores do Schalom, movimento apostólico de leigos. Vestidos de malhas brancas e usando cocares, rapazes e moças encenaram a catequização dos índios por Anchieta.
Alunos dos colégios São Luís e São Francisco Xavier, da capital, além de representantes de instituições de jesuítas em Campinas, Indaiatuba e São Bernardo do Campo, levantavam cartazes na praça. O mestre de cerimônia foi o diretor do Colégio São Luís, padre Eduardo Henriques.
Compareceu também uma delegação dos Centros Canários de Brasil, associação de imigrantes e suas famílias vindos das Ilhas Canárias, da Espanha, onde Anchieta nasceu em 1534. “Apoiamos várias iniciativas ligadas ao novo santo, entre elas a construção da Praça Ilhas Canárias, que fica atrás da igreja do Pátio do Colégio”, disse o presidente da entidade, Andrés Betancor, que vive desde 1973 no Brasil. Foram esses imigrantes também que construíram a Passarela da Cama de Anchieta, em Intanhaém, entre as pedras à beira-mar do litoral paulista.
Procissão. Quatro alunos do Colégio São Luiz carregaram um andor  com o relicário do fêmur de Anchieta, do Pátio do Colégio até a Catedral. Na Praça da Sé, a procissão fez uma parada junto ao monumento do santo jesuíta, onde d. Odilo se juntou aos fiéis. Normalmente rodeado de moradores de ruas, mendigos e prostitutas, o monumento estava vazio, sob a guarda de um carro da Polícia Militar, à distância. Não havia também pregadores evangélicos que, de Bíblia em punho, gritam o nome de Jesus para crentes e curiosos.
“Passou um rapa da Prefeitura por aqui e levou tudo, até minha comida e meus documentos”, queixou-se o maranhense Francisco de Jesus Alves, de 52 anos. Desempregado depois de ter trabalhado na construção civil na cidade, ele e dois amigos estavam sentados no chão, vendo a procissão passar. “Esse pessoal aí não dá nada pra gente comer”, observou seu amigo Edson de Lima Santos, de Arujá.
Na escadaria da Catedral, o movimento Mães da Sé expunha cerca de 120 fotos de desaparecidos, pedindo ajuda e informações para localizá-los. “Não é desaparecido político, são pessoas que sumiram nos últimos anos”,  disse a presidente da entidade, Ivanise Espiridião da Silva. Segundo ela, já foram localizadas quatro mil desaparecidos – 250 tinham morrido – desde a fundação do movimento, em 1996. A procissão de Anchieta passou ao lado, sem tempo para ver os cartazes.

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