SIP abre encontro sobre abusos contra mídia na América Latina

Restrições à liberdade de imprensa na Venezuela, na Argentina e Equador devem ser destaque nos debates em Barbados

 Gabriel Manzano
No Brasil, violência crescente contra a mídia e juízes impondo multas e obrigando blogueiros e jornais a retirar material publicado. Na Argentina, a publicidade oficial sumindo dos jornais da oposição. No Equador, punições descabidas a matérias que denunciam erros do governo. Na Venezuela, a proibição de importação de papel para os jornais impressos. É com esse pano de fundo que a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), que representa cerca de 1.300 publicações no continente, abre hoje sua Reunião de Meio de Ano em Bridgetown, capital de Barbados, no Caribe.
“Será um momento especial para que todos possamos refletir sobre os abusos, a violência e as restrições à liberdade de imprensa e à democracia no continente”, resumiu Ricardo Pedreira, diretor executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ). ‘Vamos ver, com mais detalhes, o que acontece em países como Equador, Venezuela, Argentina”, comentou.
Os organizadores esperam, no elegante hotel Hilton Barbados, em Bridgetown, cerca de 200 jornalistas, editores e convidados, da América Latina, EUA e Europa para os quatro dias de debates. O encontro termina na segunda-feira com a eleição de um novo presidente da SIP, que sucederá a atual titular, a jornalista americana Elizabeth Ballantine.
Temas novos. Se críticas a governos autoritários da América Latina são comuns nessas reuniões semestrais, em Barbados a agenda abre espaço para temas menos comuns. Por exemplo, uma análise sobre as restrições enfrentadas por jornalistas nos Estados Unidos, ou para a investida do governo britânico contra o jornal The Guardian, que resultou na aprovação de uma espécie de autorregulação, a Royal Chart (Carta Real). Especialistas vão discutir, também, a questão da concentração dos grupos de comunicação nas mãos de poucas empresas – ou, em outros casos, do Estado.
Neste primeiro dia, porém, o tom dos encontros é eminentemente técnico e voltado para as novas mídias. Um seminário, de manhã, estudará a experiência do grupo espanhol Prisa (controlador do El País, entre outros), que se vale de vídeos profissionais e de leitores, no jornal Ás, para ampliar seu público na internet. Outros painéis discutirão as tendências na publicidade digital e o futuro dos dispositivos móveis.
Como eixo dos painéis e debates, a partir de amanhã, mais de 20 representantes de associações nacionais apresentarão relatórios sobre a situação da mídia em seus países. O do Brasil deverá ser lido amanhã, por Carlos Muller, em nome da ANJ. Delegados da Venezuela e da Argentina deverão apresentar os depoimentos mais contundentes. Na Venezuela, o governo tenta calar os jornais proibindo a importação de papel, mas um grupo colombiano, o Andarios, ofereceu a matéria-prima aos colegas do país vizinho – e a dúvida é se o governo Nicolás Maduro tentará impedir a chegada do material aos seus portos.
Na Argentina, mais de 200 violações de direitos em 2013, contra 239 pessoas e 31 empresas, representaram um aumento de 13% sobre o ano anterior. “Este é o segundo ano seguido em que batemos os recordes negativos”, avaliou Fábio Ladetto, no Informe de Liberdade de Expressão 2013.

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