Sorocaba: Agricultores enfrentam dificuldades



Passada a fase mais turbulenta da ocupação, agricultores dos diversos assentamentos enfrentam outras lutas, como contra o preconceito, pela melhoria da infraestrutura, fixação no campo, qualidade de vida, modernização da produção e garantias de comercialização. 

No assentamento Ipanema, em Iperó, dona Selma de Oliveira Nery, 56 anos, relata que viveu tempos difíceis durante a ocupação, que começou em 1992. "Nós morávamos em barraca de lona, depois conseguimos construir um barraco de madeira. Ficamos uns seis anos vivendo assim", lembra. 

Depois de 22 anos, ela e a família moram em uma casa de alvenaria, com televisão, internet e telefone celular - que para a maioria chegou bem antes do telefone fixo. Vaidosa, Selma ostenta as unhas feitas e coloridas, mas seus pés descalços não escondem as raízes de quem gosta mesmo é de pisar na terra. 

Pés que muitas vezes (ainda) viram palavras de preconceito. "Nossas crianças ainda sofrem com o tal do bullying. Chamam de pé-vermelho e dizem que elas vão para a escola porque estão passando fome. Meu Deus! Nós não passamos mais fome aqui", diz. 

Entre as lutas de quem vive no local, o marido Sérgio Antonio Nery, 49, relata que a assistência técnica fornecida por meio do Incra ainda é insuficiente para tantos produtores. "Os agricultores ainda estão aprendendo a se organizar, planejar a produção e administrar os gastos", comenta. Sérgio diz que boa parte das famílias não sobrevive apenas com a agricultura, diante da oscilação do clima e do mercado. Um ou outro membro acaba indo trabalhar "na cidade". 

Um dos líderes do Ipanema, Carlos Aparecido Dellai, 55, comenta que muitos ainda têm dificuldade para acessar crédito para implantar melhorias como compra de equipamentos, além da disputa com grandes corporações e latifúndios. Em período de seca, como o deste início de ano, os produtores sofrem ainda mais. Carlos conta que os agricultores atualmente só contam com poços cacimba, menores e individuais, pois os quatro poços artesianos que abasteceriam o assentamento estão parados há anos por falta de manutenção e sistema de distribuição. 

Para contornar as dificuldades, Carlos conta que alguns produtores de lá e de outras 19 cidades da região fundaram há dez anos o Centro de Abastecimento de Votorantim (Ceavo), que vem ajudando na comercialização e para ganhar mercado. "Recebemos uma média de 800 compradores por dia, vindos de 25 cidades", comemora. (Míriam Bonora)

Assentamentos na região de Sorocaba
Cidade
Assentamento
Domínio
Famílias
Área (ha)
Iperó
Bela Vista
Estadual
29
887,88
Iperó
Ipanema
Federal
151
1.768,71
Porto Feliz
Porto Feliz
Estadual
83
1.092,66
Itapetininga
23 de Maio
Federal
46
515,51
Itapetininga
Capão Alto
Estadual
18
485,00
Itapetininga
Carlos Lamarca
Federal
41
920,46
Total:


368
5.670,22
*Detalhes dos que ficam mais próximos de Sorocaba.

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