Cidade do interior da Bahia tenta retomar rotina após protestos

Revolta pela morte de bebê de 1 ano após operação policial causou a destruição da delegacia de Amargosa e a fuga de detentos


SALVADOR - Um dia após os violentos protestos da população de Amargosa (235 km de Salvador), contra a morte da menina Maria Vitória Santos Souza, de 1 ano, baleada dentro de casa durante uma operação policial na periferia da cidade, as escolas e o comércio voltaram a abrir as portas e há uma sensação maior de segurança com a presença de um reforço de cerca de 150 integrantes das polícias Militar e Civil no município.  
Com 36 mil habitantes, Amargosa tem um efetivo de 40 PMs para fazer o policiamento ostensivo. "Hoje está melhor, mas o que vai acontecer quando eles (integrantes da operação de reforço) forem embora?", perguntou Aline Mattos Ramos, proprietária de uma farmácia localizada a poucos metros da delegacia. Ela, assim como a maioria dos comerciantes do centro da cidade, não abriu o estabelecimento na quinta-feira e voltou ao trabalho nesta sexta. As escolas também voltaram ao funcionamento normal.
A revolta, na noite de quarta-feira, resultou na destruição da delegacia da cidade, depredada e incendiada por cerca de 50 pessoas, a maioria encapuzada, segundo testemunhas. Além disso, 48 veículos, que estavam sob custódia policial ou estacionados nas ruas próximas da delegacia, foram incendiados.
Com a confusão, 16 detentos que estavam na carceragem da unidade policial, entre eles dois adolescentes, que aguardavam transferência, escaparam e as armas da delegacia foram furtadas. Nove fugitivos, entre eles um dos adolescentes, foram recapturados e aguardam transferência para outras unidades prisionais do Estado. Quatro espingardas, dois revólveres e um notebook da delegacia também foram recuperados. 
Caso. O responsável pelo tiro que matou a menina, segundo testemunhas, seria um policial civil conhecido na cidade como Carlos - a identificação não foi confirmada pela Secretaria de Segurança Pública. Em depoimento na Corregedoria da Polícia Civil, ele disse que estava acompanhado por um policial militar na busca de um traficante conhecido como Bolacha, após receber uma denúncia. Ao chegar ao local descrito pelo informante, ele disse ter visto outros suspeitos de tráfico de drogas e, ao fazer a abordagem, ter sido alvo de tiros. De acordo com o relato, ele então revidou, mas não chegou a entrar na casa da vítima.
O depoimento contrasta com a versão dos familiares da menina. Segundo o pai dela, Luiz Carlos Souza, de 23 anos, que a segurava no colo quando ela foi atingida, o policial entrou na casa atirando, atrás de um homem que também entrou correndo no imóvel. "Ele estava cheio de droga e acabou fazendo isso com a minha menina", acusa. "Ele ainda demorou para prestar socorro, ficou dizendo para a gente sair. Só depois de um tempo levou a menina para o hospital." Tanto o policial civil quanto o militar foram afastados de suas funções por 45 dias, mas vão responder ao inquérito em liberdade.
Segundo o secretário de Segurança Pública da Bahia, Maurício Barbosa, que esteve em Amargosa na quinta-feira, o momento é de "fazer as apurações com tranquilidade, para que os responsáveis sejam, de fato, punidos" e de refazer a estrutura policial no município. "Estamos procurando um imóvel para ser sede provisória da delegacia, enquanto fazemos a reforma do imóvel, que ficou completamente destruído", disse. 
Ele também assegurou que o reforço policial no município será mantido "enquanto for necessário". Em passagem por Salvador, onde participou de um encontro de avaliação da segurança pública durante a Copa do Mundo, o ministro da Justiça,
José Eduardo Cardozo, disse que está acompanhando o caso, mas que o governo federal não deve interferir nas investigações. "É um caso que foge do nosso âmbito de atuação, mas se houver algo em que o Ministério da Justiça possa atuar, seguramente estaremos presentes."

Postar um comentário

0 Comentários