Polícia apura responsabilidades sobre morte de criança

Vítima de 3 anos estava em casa junto com irmão de 10 anos e morreu em incêndio na tarde de segunda-feira


Amilton Lourenço

amilton.lourenco@ jcruzeiro.com.br

Uma criança de 3 anos, que estava em casa na companhia do irmão de 10 anos, morreu carbonizada em Mairinque, na tarde da última segunda-feira, após o irmão mais velho tentar acender o fogão da residência e dar início ao incêndio. Diante da tragédia, quem deve ser responsabilizado pela morte da criança? Essa é a pergunta que a Polícia Civil de Mairinque tenta responder a partir de hoje quando começa a ouvir os pais das duas crianças e outras testemunhas que ajudaram a apagar o fogo e resgatar o corpo da vítima. Outros dois irmãos mais velhos da vítima (um de 11 e outro de 14 anos) estavam na escola no momento do acidente.

Na tarde de terça-feira (22), a delegada de Mairinque Simona Ricci informou que já havia conversado com algumas pessoas que contribuíram no resgate dos menores e que os depoimentos prosseguem hoje, quando ouvirá os pais da vítima. "Eu tentei ouvir os pais dos garotos hoje (ontem), mas eles estavam em "estado de choque". Entendo a "dor" que essa mãe deve estar sentido. Por isso, resolvi remarcar seu depoimento para amanhã. É muito cedo para comentar esse caso, mas inicialmente será tratado como homicídio culposo", informou a delegada.

"Vamos abrir inquérito para apurar todas as responsabilidades. É importante descobrir por que os pais, que são trabalhadores, tiveram que deixar essas crianças sozinhas em casa", completou Simona.

FÁBIO ROGÉRIO

casa
Incêndio na casa teria começado quando irmão tentou acender fogão, apurou a polícia

Já o conselheiro tutelar que cuida do caso, Osmar Geraldo dos Santos, explicou que neste momento a principal função do órgão de defesa da Criança e Adolescente é garantir todos os direitos da família. "É evidente que não podemos fechar os olhos para o fato da mãe e do pai terem deixado as crianças sozinhas em casa. Porém, é nossa função, além de prestar acompanhamento à família, investigar porque essas crianças não foram acolhidas, por exemplo, por uma creche municipal", disse o representante do Conselho Municipal, que complementou: "Existe uma nova lei, que vai entrar em vigor a partir de 2015. Ela obriga os municípios a oferecerem vagas em creches para todas as crianças com idade superior a 4 anos. A vítima fatal ainda não havia completado essa idade, mas devemos lembrar que a nova lei só entra em vigor no ano que vem, portanto, essa criança deveria ter sido amparada de alguma maneira", explicou o conselheiro.

Na tarde de ontem, no bairro Jardim Vitória, onde aconteceu a tragédia, o clima era de completa tristeza. Duas mães que não quiseram se identificar reclamaram da falta de vagas nas creches da cidade. "Eu estou tentando colocar minha filha na creche há dois meses. Conheço outras mães aqui do bairro que também não estão conseguindo. O problema é que precisamos trabalhar e muitas vezes não há com quem deixar as crianças", reclamou a moradora.

Uma vizinha da residência que pegou fogo afirmou que os pais da vítima chegaram há dois meses do Estado de Alagoas e que já haviam solicitado vaga na creche, porém, ainda não foram atendidos pelo município.

No final da tarde de ontem, o Cruzeiro do Sul, tentou contato com a Secretaria de Educação do Município para buscar informações sobre o caso, mas o expediente na repartição já havia sido encerrado.

O caso
Um menino de 3 anos morreu carbonizado na tarde de segunda-feira, no Jardim Vitória, em Mairinque. De acordo com informações do Corpo de Bombeiros, o fogo começou na cozinha da casa, depois que o irmão da vítima, de 7 anos, tentou acender o fogão.

Os vizinhos disseram que a mãe deixou os três filhos em casa para trabalhar. Conforme os bombeiros, o menino que causou o incêndio atirou os fósforos de longe e o fogo atingiu o colchão de um dos dois cômodos da casa. A criança conseguiu sair, mas o irmão menor não.

O resgate demorou cerca de 30 minutos e foi feito pelo Corpo de Bombeiros de São Roque. Segundo denúncias, a guarnição de Mairinque está sem seu caminhão, quebrado, há mais de 20 dias.

O pai das crianças, um ajudante de pedreiro de 56 anos, vem para casa a cada 15 dias, pois trabalha num canteiro de obras. A mãe, uma lavradora de 40 anos, estava no trabalho. A mãe e as crianças estão na casa de parentes.

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