Estiagem não é a causa da falta de água em Itu

Seca ocorre há mais de 100 anos, revela o geógrafo Murilo Rodrigues





Giuliano Bonamimgiuliano.bonamim@jcruzeiro.com.br

A falta de água em Itu não é causada pela ausência de chuva, mas por uma sequência de descasos administrativos e carência de políticas voltadas ao abastecimento público na cidade. A conclusão faz parte de uma dissertação de mestrado do geógrafo Murilo Rogério Rodrigues, 34 anos, concluída em 2008 no programa de pós-graduação em Geografia Física da Universidade de São Paulo (USP).

Rodrigues desmitificou a histórica alegação usada pelo poder público, que culpa a falta d"água por questões naturais. "Sustentaram por décadas a ideia de que a falta de chuvas era a causadora máxima do problema, quando, na verdade, a falta de uma política séria e de investimentos reais no setor sempre foram os verdadeiros responsáveis pelas muitas situações calamitosas enfrentadas pelo município de Itu", comenta.

O geógrafo elaborou o estudo com a utilização de três décadas de dados pluviométricos registrados entre 1968 e 1997 pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE) do Estado de São Paulo. Rodrigues concluiu que houve seca em Itu nos anos de 1968, 69 e 85 e períodos com tendência à falta de chuva em 1971, 78, 80, 81, 84 e 94. Nas demais 21 temporadas, a cidade passou por épocas chuvosas ou dentro de um padrão médio.

De acordo com Rodrigues, os dados mostram que o problema de escassez de chuva na região de Itu não se confirmou, rechaçando a hipótese alegada pelo poder público municipal. "Prova que a referida região não é seca", lembra.

O estudo de Rodrigues também comparou as médias pluviométricas anuais de Itu nas últimas décadas com os números de outras cidades situadas na região. O resultado revelou que os índices pluviométricos são semelhantes ou inferiores aos de Itu. Na opinião de Rodrigues, o poder público precisa construir novas barragens para armazenar a água.


Há mais de 100 anos


A falta de água em Itu é sentida há mais de 100 anos, segundo Rodrigues. Essa comprovação pode ser feita em reportagens antigas publicadas pela imprensa paulista. O jornal Correio Paulistano, de 5 de janeiro de 1914, relatou o problema por meio de uma nota: "Estando diminuindo de modo assombroso o volume de águas que abastecem a população, e constando que muitos consumidores desperdiçam o precioso líquido, deixando as torneiras abertas, nas horas em que a água é franqueada." O texto prossegue com um pedido: "O senhor Godofredo Carneiro, administrador do serviço de água e esgoto, pediu à imprensa para aconselhar o povo a que cesse com esse desperdício, pois, do contrário, dentro de poucos dias, estaremos sem água."

Em 7 de junho de 1969, O Estado de S. Paulo narrou o drama em Itu. "Tudo o que resta do antes caudaloso rio Tietê é um leito seco..." A reportagem relatou que as duas represas da região, uma em Pirapora e outra em Cabreúva, estavam com os níveis bastante baixos.

No Cruzeiro do Sul de 16 de agosto de 2001, reportagem relevou que Itu havia ampliado o racionamento devido ao baixo nível da barragem da represa do Itaim. O Saae havia ampliado o racionamento para cerca de 80% do município.

A situação vivida há 13 anos praticamente se repete nos dias atuais. A concessionária Águas de Itu adotou, desde 17 de setembro, novo esquema de racionamento. Foi feita a adequação dos poços existentes para melhorar a vazão de água e a empresa tem utilizado novos poços decretados de utilidade pública, além de ter contratado mais caminhões-pipa. Paralelamente, as obras da adutora do Mombaça prosseguem em ritmo acelerado. Cerca de 2 mil metros de tubos já foram implantados.

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