Pacientes de clínica para dependentes falam sobre agressões

Clínica de Sorocaba (SP) foi fechada por não ter alvará.

Internauta flagrou agressões a pacientes em plena luz do dia na cidade.

Do G1 Sorocaba e Jundiaí
Começam a ser ouvidos nesta semana os donos e os funcionários da clínica para dependentes químicos suspeita de agredir os pacientes em Sorocaba (SP). Os responsáveis podem responder por crimes como tortura, cárcere privado e agressão. O local foi fechado por falta de alvará. Pacientes que passaram por internação dizem que sofreram maus-tratos.
Em menos de um mês esta foi a segunda clínica fechada em Sorocaba por falta de documentação. Antes do fechamento da clínica, um produtor do TEM Notícias fez contado com a clínica, que fica na zona rural da cidade. O atendente deu detalhes sobre como seria o tratamento. "Tem acompanhamento com psicanalista e faz terapia em grupo e individual. Durante o dia são três reuniões que ele vai participar. É onde ele trata o físico, o mental e o espiritual. Nós trabalhamos só no sistema involuntário. Mesmo ele querendo ir, vocês assinam um termo onde se ele tiver um piti e  querer ir embora, a gente não deixa ele ir embora", explica.
Uma mulher, que preferiu não se identificar, acreditou na promessa. Ela queria ver o marido recuperado da dependência química e procurou o auxílio da clínica. O preço da mensalidade caiu de R$ 1.200 para R$ 500 por mês com o desconto oferecido. "Me levaram na clínica mais bonita, com piscina, com tudo e na verdade depois eu descobri que o meu marido estava na clínica do lado  que não tinha estrutura de nada. É a mesma clínica, é o mesmo nome, é o mesmo dono".

Em vez da recuperação, ficou o trauma. "Eles falavam que com eles lá ou era ferro ou era fogo. Eles não tinham dó de ninguém e quando pegavam para bater era sem piedade", lembra o ex-paciente.
A decepção e revolta aumentaram quando descobriu que o tratamento era à base de agressão. "Eu não imaginava que eles estavam torturando", completa a mulher.
A clínica foi desativada e os pacientes, segundo os donos, foram devolvidos às famílias. A polícia chegou até o local depois do flagrante de um internauta que presenciou cenas de agressão a um paciente que tentava fugir no Centro de Sorocaba. No meio da tarde ele é agredido e chutado por funcionários até entrar no carro e sair.
Os funcionários e o dono da clínica podem responder por tortura, cárcere privado e agressão. Para o Ministério Público, situações como esta refletem a falta de controle sobre as clínicas de recuperação. As clandestinas se multiplicam tanto quanto o aumento do número de dependentes.
A maioria das internações nestes locais é involuntária, quando a família interna o parente contra a vontade com base em um laudo psiquiátrico. "O laudo às vezes é feito por um médico contratado pela própria clínica e, portanto, há um interesse da própria clínica em angariar pacientes. É preciso que isso seja acompanhado, por isso que é obrigatória a notificação do Ministério Público a cada internação involuntária", orienta o promotor Jorge Marum.
Quando as clínicas são clandestinas esta comunicação não é feita e dificulta a fiscalização. Quando a internação involuntária não é comunicada ao Ministério Público é considerada crime e, nestes casos, o responsável pelo local pode responder por cárcere privado. Parentes devem ficar atentos ao tratamento e denunciar imediatamente à polícia ou ao Ministério Público qualquer suspeita de agressão. "Paciente deve ser tratado com dignidade e com todo cuidado. Isso, clínicas sérias fazem", completa o promotor.
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O dono da clínica pode responder por cárcere privado e tortura (Foto: Reprodução/TV Tem)O dono da clínica pode responder por cárcere privado e tortura (Foto: Reprodução/TV Tem)

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