Dá para confiar nas pesquisas de intenção de voto?


São Paulo - "Pesquisa é pesquisa, eleição é eleição", diriam os mais experientes políticos, acostumados com a imprevisibilidade das urnas. Esta, que é uma das frases mais repetidas por candidatos à eleição, parece se aplicar perfeitamente ao momento. 
"A verdade é que as pesquisas de intenção de voto acertam bem mais do que erram", diz Victor Trujillo, professor de marketing eleitoral da ESPM. Segundo ele, embora haja uma sensação de que as pesquisas erraram nos resultados das eleições em diversos estados, elas precisam ser encaradas como uma sondagem do momento, e não como uma prévia do resultado. 
Para ele, parte da culpa desta expectativa gerada pelas pesquisas de intenção de voto - e frustrada com os resultados - é da mídia.
"Os resultados das eleições devem ensinar a mídia que na divulgação das pesquisas é prudente dar igual importância para a resposta estimulada e para a espontânea", afirma.
Quando as pesquisas são feitas há duas modalidades de perguntas feitas aos entrevistados. Em uma, o eleitor deve dizer espontaneamente em quem ele votaria se a eleição fosse realizada naquele dia. Na outra, é apresentada ao eleitor uma lista com os candidatos que estão concorrendo ao cargo e o eleitor deve escolher entre um deles - esta é a chamada resposta estimulada.
© Marri Nogueira/Agência Senado
Em geral, os veículos de comunicação dão destaque para os resultados da pesquisa estimulada. "Os veículos repercutem a resposta estimulada porque nela o índice de indecisos é menor. Isso tem maior interesse jornalístico, porque parece retratar mais o resultado de uma eleição", diz Trujillo. 
No entanto, segundo ele, ao ignorar o número de indecisos que aparecem em maior número nas respostas espontâneas, deixa-se de considerar milhões de eleitores que ainda não decidiram seu voto. 
Na pesquisa presidencial do Ibope da última quinta-feira, isto é, a 3 dias das eleições, 17% dos entrevistados se disseram indecisos na pesquisa espontânea. O número cai para 7% na resposta estimulada. 
"As pesquisas mostravam que uma parcela muito grande dos eleitores estava ainda sem um candidato. Na pesquisa com respostas estimulada, este eleitor acaba optando por um dos nomes, mas com pouca ou nenhuma convicção", explica o professor que é especialista em pesquisas de opinião. 
Brancos, nulos e abstenções
Outro fator que pode ser responsável pela diferença entre os dados das pesquisas e os das urnas é o número de votos brancos, nulos e as abstenções. Nestas eleições presidenciais chegou quase a 10% o número de votos brancos e nulos. As abstenções chegaram a quase 20%. 
Segundo Trujillo, nas pesquisas, este eleitor fica constrangido de dizer que não vai votar ou de que vai anular seu voto - e isto também tira a precisão da pesquisa.
"20% deixaram para decidir na última hora, 20% não compareceram para votar. Então, se a gente considerar que o Brasil tem 142 milhões de eleitores, que 115 milhões compareceram às urnas e que cerca de 23 milhões escolheram seus candidatos nos últimos dia, dá para entender porque as pesquisas nunca vão acertar precisamente o resultado de uma eleição", explica o professor. 
"Para mim que trabalho com pesquisa há 23 anos não há nenhuma supresa nisso. A pesquisa capta o momento, é uma sondagem da opinião pública. É inaceitável que ela seja vendida como algo infalível e como substitura da eleição", conclui.

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