Disputa eleitoral acirrada deixará ao próximo presidente uma oposição ferrenha

O presidente da República a partir de janeiro de 2015 --seja Aécio Neves (PSDB) ou Dilma Rousseff (PT)-- terá pela frente uma oposição muito mais ferrenha do que os últimos chefes do Executivo tiveram.

SÃO PAULO - O presidente da República a partir de janeiro de 2015 --seja Aécio Neves (PSDB) ou Dilma Rousseff (PT)-- terá pela frente uma oposição muito mais ferrenha do que os últimos chefes do Executivo tiveram, resultado de uma disputa apertada e de uma campanha feroz no segundo turno.
A agressividade da disputa entre os historicamente antagônicos PT e PSDB ficou exposta no debate realizado pelo SBT, pela rádio Jovem Pan e pelo portal UOL na quinta-feira, quando Dilma e Aécio distribuíram caneladas entre si em um duelo em que as propostas ficaram em segundo plano.
Some-se a isso a indefinição da disputa apontada pelas principais pesquisas eleitorais, que têm mostrado empate técnico com vantagem numérica de 51 a 49 por cento dos votos válidos para o tucano.
Caso o cenário se confirme, como parece que vai ocorrer ao menos na avaliação de analistas, o vencedor será escolhido por uma margem estreita e, portanto, o derrotado sairá com mais força política das urnas do que nas últimas eleições presidenciais.
"Se as pesquisas estiverem certas, nós não vamos ter uma vitória muito clara. Aí sim nós teremos consequência, porque o peso político da oposição, quem quer que seja, vai ser muito importante", disse a socióloga Fátima Pacheco Jordão, especialista em pesquisas eleitorais.
"As vitórias recentes no segundo turno foram vitórias claras", comparou a especialista. Em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu José Serra (PSDB) por 61,27 por cento a 38,73; em 2006 o triunfo de Lula sobre o tucano Geraldo Alckmin foi por 60,83 a 39,17 por cento e, em 2010, Dilma bateu Serra por 56,05 a 43,95 por cento.
Na avaliação de Carlos Melo, cientista político do Insper, além de uma vitória eleitoral apertada, outros fatores devem atrapalhar as composições parlamentares tanto de Aécio quanto de Dilma. Em comum para ambos, a dificuldade de lidar com um Congresso fragmentado entre um número maior de partidos.
Para o especialista, se eleita, Dilma terá dificuldade de atrair mais aliados, uma vez que a maioria dos recursos usados nas negociações políticas, os cargos no governo e em entidades coligadas, já está comprometida.
Do lado de Aécio, pesará o fato de ter pela frente um PT na oposição com muito mais musculatura do que na época dos governos tucanos de Fernando Henrique Cardoso, quando o partido já dava trabalho na oposição. Na próxima legislatura, os petistas serão a maior bancada da Câmara, com 70 deputados, e a segunda maior do Senado, com 12 representantes.
"Céu de brigadeiro, mar de rosas, nenhum deles deve ter", resumiu Melo.
A boa notícia para o vencedor do pleito do dia 26 é o fato de o sistema de presidencialismo de coalizão vigente no Brasil e a pouca vinculação ideológica da maioria dos partidos permitirem uma composição até mesmo com as siglas que estavam do outro lado da disputa.
"Vai ter uma oposição mais aguerrida, mas minoritária no Congresso", disse o analista político da MCM Consultores Associados Ricardo Ribeiro.
ECONOMIA E PETROBRAS
Para Ribeiro, outros fatores, como as denúncias de corrupção na Petrobras e um cenário econômico desfavorável em 2015, também devem desempenhar um papel na governabilidade da próxima gestão federal.
"Essa questão da Petrobras pode até atuar a favor de quem estiver no poder", disse Ribeiro. Para ele, as delações premiadas do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef podem afetar figuras importantes do Parlamento, tornando-o, possivelmente, mais subserviente ao Executivo.
Esse cenário, explica, funciona melhor em uma eventual vitória de Aécio, já que no caso de triunfo de Dilma será preciso analisar primeiro qual a distância que a presidente manterá do escândalo e se o PT sairá ou não fortemente chamuscado dele.
Um cenário econômico fraco, com a necessidade de um ajuste diante do cenário atual de inflação no teto da meta e baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), também é um fator a ser observado.
"Isso pode aumentar a tensão social, o descontentamento com a situação do país, o descontentamento com a classe política, trazendo um pouco de volta o clima das manifestações de julho de 2013", disse Ribeiro, ponderando que "eventos como aqueles são eventos raros e difíceis de prever quando vão acontecer".

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