Especialistas tentam explicar imprecisão de pesquisas para presidente

A confiabilidade dos institutos de pesquisas de intenção de voto foi colocada em questão no primeiro turno das eleições presidenciais, depois da diferença entre os números das sondagens realizadas na véspera da votação e os resultados das urnas.
As sondagens, em grande parte encomendadas por grandes veículos de comunicação, registraram a tendência de queda de Marina Silva (PSB) e ascensão de Aécio Neves (PSDB). Mas nenhum instituto conseguiu captar a intensidade de crescimento do tucano, que superou as margens de erro definidas pelos próprios institutos – 2% para mais ou para menos.
O Datafolha e o Ibope alegam que têm a intenção de apontar tendências e que, após a realização da pesquisa na véspera das eleições, muitos eleitores ainda podem mudar o voto. Já para especialistas, as diferenças de percentual têm a ver com o método usado pelos institutos – mais barato e que demanda menos tempo para ser executado.
Metodologia em questão
Para Hélio Radke Bittencourt, professor de estatística da PUC-RS, o ideal seria que as empresas utilizassem outros métodos para a definição da amostra, o que pressupõe a seleção dos entrevistados por meio de sorteio (os chamados métodos probabilísticos). Porém, seria muito difícil colocá-lo em prática em pesquisas que duram poucos dias.
“É muito difícil os institutos mudarem o atual tipo de método de amostragem por quotas, onde é feita a definição dos entrevistados de acordo com características da população, podendo ser realizadas no domicílio ou em locais de grande fluxo de pessoas”, afirma Bittencourt. “O levantamento por meio de sorteio dos entrevistados teria custo inviável, gastaria mais tempo e dificilmente alguma empresa pagaria por ele.”
Os institutos de pesquisa definem uma amostra – parte da população que será consultada – levando em conta informações como gênero, classe social, escolaridade e faixa etária. Se uma região tem 61% de mulheres e 39% de homens eleitores, a amostra deve também deve seguir esse critério.
O economista José Kobori, do Ibmec, diz que a metodologia usada pelos institutos pode ser aprimorada. Ele afirma que, por conta da pressão do tempo, nem sempre a estratificação de renda, classe social e escolaridade é observada pelos pesquisadores.
“Existe a pressão do tempo, pois cada instituto quer soltar a pesquisa o mais rápido possível”, comenta Kobori. “O melhor modelo de pesquisa por demorar muito tempo, e a tendência de mudança do eleitorado não seria captada corretamente.”

Na véspera das eleições, o Datafolha indicou que Dilma Rousseff teria 44%; Aécio, 26%; e Marina, 24%. Já o Ibope apresentou Dilma com 46%; Aécio com 27%; e Marina com 24%. Após a apuração dos votos, a presidente recebeu 41,59%; o tucano, 33,55%; e a ambientalista, 21,32%. Nenhum instituto captou a distância de 12 pontos entre segundo e terceiro colocados.

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